Inspirar-Poesia, um segundo sopro

cartografia clichê

Por Sueli Maia (Mai) em 12/02/2009
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Bebi mais que comi nos últimos dias, mas estou bem. Trânsfuga. Estou meio tonta e apenas o instinto me guia neste instante. Tateio. E tatuado em minha pele tu estás. Formigas apressadas trabalhando e aqui no oco da minha cabeça rascunho esta cartografia clichê de dezembros. Eu sei, sou piegas, esta seria a tua fala, eu não me importo. E mesmo assim é prá ti, pai, que eu escrevo neste instante. É que numa fotografia qualquer que encontrei, eu estou em teu colo. Teus olhos, tua barba, tua boca, teu sorriso me entrou como um mantra repetido em vibração. Idelével, eu entôo teu nome - te amo, pai. Tuas palavras ressoam em meus ouvidos, o cheiro da tua pele me desperta e tu estás sempre comigo. Creio em ti. E acho até que essa minha estranha mania de ter fé, vem do quanto te espero ou desse teu jeito estranho de me fazer acreditar nas coisas. Uma fé diferente que me arrepia os cabelos. Lembrei teus cabelos e em tudo tu estás. Eu te desperto em mim e sempre que estou em apuros te quero por perto. Acorda, levanta, te alegra, me manda um sinal, eu preciso de ti, eu me orgulho de ti e como sinto tua falta... Preciso te contar um segredo - é por ti que eu vivo. Não sei bem porque, mas meu corpo inteiro formiga agora. Vagueza é isto que sinto e porque incomodamente me faltas, é que neste instante cada fibra do meu corpo grita teu nome e hoje preciso dizer - te amo demais, meu pai. Escrever cartas é um estranho ritual que desperta coisas. E cada dia levantar é impulsão, necessidade e pés no chão. Mas junto contigo, o sol me adentrou a janela. Já é dezembro, pai. E na cartografia dessa minha saudade, sussurrar o teu nome e dizer que te amo, eu sei, é clichê.
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38 comentários:

Anônimo disse... @ 2 de dezembro de 2009 às 18:39

Se é clichê, que bom que existem os clichês para que as cartas não se percam no tempo de ser, e para que não se perca em nós os melhores sentimentos: estes clichês que nos resgatam!

Que bom ler-te hoje, Mai...

Beijos.

Dauri Batisti disse... @ 2 de dezembro de 2009 às 18:41

Nem sempre o que se supõe clichê é clichê. Há certas coisas que são ditas e são bonitas mesmo ditas assim declarando amor, saudade, sentimentos.

Beijo.

Desmanche de Celebridades disse... @ 2 de dezembro de 2009 às 18:46

Um clichê que nunca se torna clichê.
Um resgate sempre importante de nos e dos outros.

Abraços.

Caio Fern disse... @ 2 de dezembro de 2009 às 18:59

alguen realmente se importa se e cliche uo nao ?
muito inspirador , isso sim . me fez pensar no meu Pai .
obrigado Mai .

Cris Animal disse... @ 2 de dezembro de 2009 às 19:25

Mai Querida, carta entregue ao destinatário tenha certeza absoluta disso.
Há um mistério insondável neste universo, mas é ao mesmo tempo paradoxo dizer tal coisa, pq é quase palpável a certeza de que apenas nos movimentamos, trocamos de lugar, um breve instante nesse cochilo da eternidade para que novamente você sinta o colo, o cheiro, o afago e mate essa saudade imensa e una essa força que te faz viver a força Dele que continua viva, fazendo-a viver.
Ahhhhhhh, doces mistérios de amor e eternidade.
Que todo seu corpo e toda sua alma possam ser acarinhadas pela certeza desse amor imenso que te carrega no colo.

Carinho imenso!

nydia bonetti disse... @ 2 de dezembro de 2009 às 20:22

Ah, os dezembros... Nunca pensei que pudessem doer tanto. Também morro de saudades do meu pai. Digo isto com todas as letras e em todos os tons. Clichê? Quem se importa...

beijo, querida.

Luciana Brito disse... @ 2 de dezembro de 2009 às 21:05

Sendo clichê ou não, ficou bonito.
Dezembros são sempre tão nostálgicos...

Gostei bastante do texto e me identifiquei com a saudade, mesmo que não seja do meu pai. É de outro tipo, mas ainda sim, saudade.


Beijo, moça!

Ps. agradeço teus comments lá na Caixa, sempre doces. ^^

Beto Canales disse... @ 2 de dezembro de 2009 às 21:18

clichê... algo que deu tão certo que virou clichê...

Unknown disse... @ 2 de dezembro de 2009 às 21:26

Dezembro acaba se tornando o mais cruel dos meses, não o abril de Elliot. Desmancho-me também em pieguices e clichês, mas sinto conforto na alma. Como espero que em ti também.
Abraço.

Rafael Sperling disse... @ 2 de dezembro de 2009 às 21:52

É, eu não gosto mutio de Dezembro. Esse negócio de família de me deixa um pouco alérgico...
bjs

Unknown disse... @ 2 de dezembro de 2009 às 22:11

Belo texto..
Tbm gosto de um clichê...ele faz parte das nossas vidas...
Beijos

Marcelo Mayer disse... @ 2 de dezembro de 2009 às 22:22

se é clichê não sei, mas poucas pessoas hj têm a coragem de escrever e dizer isto! muito bom!

Anônimo disse... @ 2 de dezembro de 2009 às 22:41
Este comentário foi removido pelo autor.
Guará Matos disse... @ 2 de dezembro de 2009 às 22:43

Tão lindo isso, pode acreditar me emocionei.
Meu pai não vive mais e, quando estava neste mundo sempre foi ausente, desaparecido. Como gostaria de ter alguém assim.
Fiquei derrubado, pode acreditar.
Beijos.

Paula Barros disse... @ 3 de dezembro de 2009 às 00:02

Mai, li essa semana que todos deviam fazer o exercício de escrever cartas, como um experiência excelente para a escrita, para os sentimentos.

E lendo essa carta, com muito sentimento, agora vejo que faz sentindo.

Emocionante e linda.

beijos

Mário Lopes disse... @ 3 de dezembro de 2009 às 02:14

Pai


Agora
que dormes o sono
que nos prometeram
quando nascemos,
eu sei
que deve haver um caminho
para regressares sem acordar
em que possas recordar
que não será preciso
fechar os olhos
para ver melhor
como os rios que nasciam
nos teus olhos
rompiam os dias turvos
das manhãs frias de Fevereiro
em que juntos nos deslumbrávamos
com os restos de lua
ainda aprisionados
nos ramos dos salgueiros,
ou que não será preciso
fechar os ouvidos
para ouvir melhor
como a música que saía
dos teus dedos
procurava em cada gesto
a ternura do sol de Dezembro
com que me ensinavas
a encontrar a pedra secreta
no abrigo da infância.
Mas eu sei
que voltas sempre neste dia
porque não aprendeste
com as andorinhas
a voar para o sul
quando a luz é mais doce
e os barcos se demoram
nas tardes da memória.

(1-12-2009)




Querida e doce Mai,

Muito obrigado pelas tuas belas palavras e por esta música maravilhosa. És linda por dentro e por fora!
Beijo terno.

Lara Amaral disse... @ 3 de dezembro de 2009 às 02:32

O clichê nem sempre é óbvio, mas revelador. Não entendemos porque certas coisas sempre se repetem, mas elas estão lá, presentes, e antes que as julguemos, ou fiquemos enjoados delas, estamos tbm lá, vivenciando-as.

Lindo o escrito seu, que de clichê só tem uma coisa, nos prender.

Beijos.

:.tossan® disse... @ 3 de dezembro de 2009 às 08:06

A cartografia dessa tua saudade, não é clichê, muito menos piegas é uma oração pro lado certo sem pular muros. Um texto rico e com a tua genialidade que conhecemos e aplaudimos. Beijo

PS: O teu cometário lá no klic...Não mereço tanto viu? Mas obrigado. Coisa de amiga mesmo! Rsrsrsr...

Beatriz disse... @ 3 de dezembro de 2009 às 09:25

Dezembros nos despertam esses sentimentos,que nada tem de clichê,são mais que humanos.
bonito texto.
bjo

lula eurico disse... @ 3 de dezembro de 2009 às 09:33

Saudade interdimensional... saudade que ocupa um terno lugar na consciência... saudade.

Abraçamigo.

Pâmela Marques disse... @ 3 de dezembro de 2009 às 11:18

Adoro tudo que é clichê e piegas. E amar assim dessa forma é tão gostoso de se ver. Eu, por vezes tentei, escrever e demonstrar os sentimentos que tenho em relação aos meus pais e sempre travo. Mas, esse teu texto me deu vontade de abraçar e apertar o meu pai de uma forma indescritível. Meu pai, como eu amo aquele cara.

Fábio disse... @ 3 de dezembro de 2009 às 11:19

Dezembro deve ser o mês oficial do cliché.
Escrever cartas é algo que eu faço muto muito raramente. Mas é mesmo um exercicio interessante, ajuda a organizar os pensamentos e sentimentos.

Abraços.

Marcos Ciabattari disse... @ 3 de dezembro de 2009 às 11:47

Estou emocionado, Mai. Muito lindo, muito profundo!

Mateus Araujo disse... @ 3 de dezembro de 2009 às 16:06

Ah, que amor!
Fofura do Teus


Amei o vivaldi... Barroco é uma coisa que nos enche a alma.
Bjão♥

Dani Pedroza disse... @ 3 de dezembro de 2009 às 17:27

Engraçado isso. No último sábado foi aniversário do meu pai e passei o dia pensando em como ele é uma fonte de uma espécie de fé em mim. Fé nas pessoas. Fé de que ainda há, num mundo de valores tão deturpados, pessoas íntegras. Gosto dessa palavra. Integridade. Às vezes, me pego pensando o quanto de mim ainda está íntegro e no quanto tive que flexibilizar, alargar, amaciar, pra poder seguir os caminhos que escolhi. Algumas pessoas são mais rijas, difíceis de dobrar, o limite a que se permitem abaixar é bem menor do que da maioria, acho que essas pessoas mantêm uma parcela maior da sua essência mesmo depois de muitos e muitos anos. Integridade. É disso que lembro quando penso no meu pai. Mas logo vêm tantas outras coisas. Lembranças de fatos, ensinamentos, embates... amor. Uma relação de amor entre pessoas muito diferentes e, por isso mesmo, uma relação de muito aprendizado. Sabe, amiga? Talvez tudo que realmente preste nessa vida esteja no que as pessoas estão se habituando a chamar de clichê. Não sem razão, já que eu realmente acredito que o melhor dessa vida está nas coisas simples que são repetidas diariamente e nem percebemos o tamanho da graça. A única coisa com a qual não concordo é essa carga pejorativa que a maioria dá à palavra "clichê", como acontece, aliás, com muitas outras. Nem preciso dizer que não é seu caso, não?

P.S.: Gosto muito da forma que você escreve, deixa a linha bem frouxa pra que possamos "voar" à vontade, mas a mão continua segurando firme a linha. É um vôo direcionado, amparado.

Bjs de uma profunda admiração.

Oliver Pickwick disse... @ 3 de dezembro de 2009 às 20:24

Os mais doutos torcem o nariz para os clichês de qualquer manifestação cultural, especialmente nas artes e literatura. Até eu, que não sou douto. Mas na vida, os clichês são absolutamente necessários e bem vindos.
Um beijo!

Tata disse... @ 3 de dezembro de 2009 às 22:40

Faaala Mai,

Um clichêzinho, às vezes, cai tão bem!!! Principalmente em família!


bjinhos

Natália Corrêa disse... @ 4 de dezembro de 2009 às 08:18

Esse seu clichê me deu vontade de ser clichê também. Fui pensar na última vez que disse "eu te amo" ao meu pai, e faz tanto tempo que nem lembro porque foi. E você me fez perceber que há motivos de sobra pra dizer a qualquer hora, a toda hora se eu quiser. Ser clichê é bom, às vezes. :D

beijo:*

Lau Milesi disse... @ 4 de dezembro de 2009 às 12:10

Obrigada Mai, muito bom poder te ler. Brilhante !!E parece que você leu meu pensamento(sem clichê).
Parabéns!!
Um beijo

Barbara disse... @ 4 de dezembro de 2009 às 18:54

Quem tem pai quem não tem pai, quem admira ou não, admirou ou não o pai, certamente se identificou com essa carta.
Belíssima.

Cecília disse... @ 4 de dezembro de 2009 às 23:08

Clichê? Huuum... acho que não, mas se for, gostei desse clichê.
Me fez pensar no meu pai, principalmente por não tenho um dos melhores relacionamentos com ele, não como eu gostaria... se bem que está melhorando, aos pouquinhos, mas está.

Beijosss!
Ótimo final de semana!!!

Glaucovsky disse... @ 5 de dezembro de 2009 às 10:03

Uau...



Lindo.

DBorges disse... @ 5 de dezembro de 2009 às 11:13

Foram lindas verdades o que eu li aqui..


beijo!

Macaires disse... @ 5 de dezembro de 2009 às 11:45

Olá, amiga!
Sentir saudades e a presença daqueles que estão ausentes é trazê-los para perto, mesmo que em pensamentos!!!

Que lindo texto!
Beijos, Mai!

À PÉ ATÉ ENCONTRAR disse... @ 5 de dezembro de 2009 às 13:00

O "eu te amo" é o melhor clichê do mundoo"!!
Querida Mai, adorei o seu comentário lá no blog, muito pertinente...Obrigada pela visita!
Bom reencontrar seu blog sempre carregado de bons frutos...Texto lindíssimo.Bjos.

Márcio Ahimsa disse... @ 5 de dezembro de 2009 às 15:23

Não é clichê amar o amor, não é clichê sentir a dor que formiga agora, de um amor que cresce a todo instante, pois importante mesmo é amar... das coisas mais importantes, a que mais fiz foi amar...

Beijos meu bem, acho que também mudei o tom da canção...

guru martins disse... @ 5 de dezembro de 2009 às 18:00

...já que estás bem
a pesar de ter bebido
mais que comido
o balaio celebra tua chegada
com uma taça de vinho tinto
português de gosto bem encorpado
e tamos juntos...

bj

guru martins disse... @ 5 de dezembro de 2009 às 18:01
Este comentário foi removido pelo autor.

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