Inspirar-Poesia, um segundo sopro

réplicas

Por Sueli Maia (Mai) em 2/04/2010
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Algo animava aqueles bonecos. - É a última fábrica na zona industrial. Juntos, tantos dias sem notícias, não é comum. Tudo planejado, na próxima semana ocorrerá o lançamento dos novos modelos. - Arthur supervisionava a produção e pediu minha ajuda. À entrada, alamedas de eucaliptos e distante do estacionamento, o edifício moderno tinha portas que abriam e fechavam automaticamente. Ao fundo, como guindastes movendo miniaturas, robôs com braços articulados e sobrepostos, erguiam as peças. Nos corredores, réplicas deslizavam sobre esteiras. Na pós produção, numa espécie de sala de horror - em série - os corpos de Ana e Davi. Uma descarga gelada escorreu-me à espinha e o estômago de uma só vez. Atuando em ficção, foi como me senti. E sem saber por onde começar, parei. Havia nos dois o desespero e a urgência dos amantes. Quis caminhar entre os modelos e com as cenas de um filme correndo em paralelo, me obrigava a pausar diante das cópias de um e outro. Era algo automático e na réplica de Ana: "Negócios não atrapalham, tudo é risco! Ele é passional". - Passos adiante e uma frase recorrente: "Ela me desafia e excede ao se exibir publicamente". - Davi falava pouco, mas, em uma das brigas mais violentas, foi assim que ele se justificou: "Isso parece uma guerra, numa hora dessas, alguém se destrói". A mão de Arthur no meu ombro e um súbito suspiro, trouxeram-me de volta, mas ali, alguma coisa não me pareceu original.
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Música: Danzón nº2 - Regência - Dudamel

29 comentários:

Dauri Batisti disse... @ 4 de fevereiro de 2010 às 12:19

Não podia mesmo ser original, a produção de subjetividade é uma produção em série. Somos produzidos e nem percebemos, fazem-nos e quando num rompante de clareza vemos, vemos... e tudo parece um filme de ficção. Afinal, resta a resistência, resistir pela poesia, pela arte, pelo amor.

Foi legal esta tua mudança nos textos, de pequenas crõnicas/ensaios que vinham caracterizando o blog INSPIRAR-POESIA até pouco tempo atrás, para os contos. Não sei se me engano.


Um beijo.

Marcelo Mayer disse... @ 4 de fevereiro de 2010 às 13:17

criamos nossa própria fábrica. sou o mesmo brinquedo, mesmo boneco.

Anônimo disse... @ 4 de fevereiro de 2010 às 13:32

no hay como la originalidad, lo genuino. excelente reflexión.
un abrazo

Gerana Damulakis disse... @ 4 de fevereiro de 2010 às 13:40

Gostei tanto. Fiquei agora aqui pensando...

Caio Fern disse... @ 4 de fevereiro de 2010 às 14:20

eu nao vejo nenhuma ficçao nisso .

Daniel Hiver disse... @ 4 de fevereiro de 2010 às 14:36

Tu continuas a mesma Mai de sempre. Teu texto é intrigante. Repleto de nuances. É comum ao te ler eu procurar saber se há outros sentidos. Se algo em segundo plano. Por que tua combinação de palavras é puculiaríssima.
Olha só. Gostei disso: "Havia nos dois o desespero e a urgência dos amantes."
Pois é isso mesmo, os amantes tem seus momentos de livre desespero e e urgência louca, atrevida, assanhada!

Regina disse... @ 4 de fevereiro de 2010 às 14:46

é como ouvir tua voz nisso que tu fala que é fronteira de ficção e vida com todo mundo igual. Radicais na moda e no horror. bjo. Re

Anônimo disse... @ 4 de fevereiro de 2010 às 14:52

Originalidade? Não para o amor que se constrói para o futuro, cheio de não-me-toques, razões e pouca paixão.

Vc escreve muitíssimo bem, amiga! Sempre fico admirada ao ler-te. É uma viagem muito boa aqui.
=)
Beijos!

Anônimo disse... @ 4 de fevereiro de 2010 às 16:26

Olá, antes de mais nada, parabéns pelo blog!
E por acha-lo de muito bom gosto é que o/a convido a vir conhecer a proposta do meu Blog para você.

Aguado sua visita!

Forte abraço!

Karina

Dani Pedroza disse... @ 4 de fevereiro de 2010 às 16:27

Provavelmente não é um comentário útil, mas, ao ler o post, nenhum pensamento foi mais "encorpado" que: "Pois agora poderá haver destruições sem mortes. E isso é ótimo e terrível ao mesmo tempo. Brincar de Deus pode nos fazer esquecer nossa própria humanidade." Passaram pela minha cabeça outros pensamentos menores, mais frágeis, etéreos, mas nesse quase pude tocar.

Ainda me pergunto o que mudou? Quando souber, te conto... rs. Bjs, querida.

Unknown disse... @ 4 de fevereiro de 2010 às 16:49

Mai querida!

Não sei se estou certa, mas sua ficção, principalmente neste texto , vive-se também na vida real.

Pessoas passionais, exibicionistas...irmão contra irmão etc...

No caso de poetas não é ficção. Mas gostei, devido à enorme gama de reflexões que traz!

Beijos, amiga!

Mirse

Batom e poesias disse... @ 4 de fevereiro de 2010 às 16:50

Mai
Quando te leio, me transpoto a um mundo paralelo, onde permaneço pensativa e as vezes atordoada, mas sempre encantada com a destreza com que se expressa.

Me isento de comentar o texto, pois confesso que nem sempre alcanço as altitudes em que voa.

Mas adoro observar seu lindo bater de asas.

Beijos, querida.
Rossana

Ilaine disse... @ 4 de fevereiro de 2010 às 17:48

Robôs com braços articulados, bonecos, portas que abrem e fecham automaticamente, peças, pós produção, sala de horror, brigas violentas.... Trouxeram-me de volta.

Mai amiga! Ah, como eu queria falar com você sobre este texto. Queria saber o que te inspirou a escrever Réplicas. Queria que me falasses... Ficção? Realidade? Leio, leio e me perco na interpretação. Talvez você me diga: não há porque interpretar. É verdade! Pois, então! Vou apenas inspirar a poesia e degustar o efeito que o texto exerce sobre mim. E, acredite, não é pouco!

Beijo

Fábio disse... @ 4 de fevereiro de 2010 às 17:57

Outro miniconto maneiro.

As vezes parece assim mesmo, olhar para os lados e ver tudo igual, tudo repetido.
O repetitivo cansa, mas nada nem ninguém é original. Quase tudo é réplica de alguma outra coisa.
O que não quer dizer que é ruim, as vezes as cópias são melhores que o modelo original.

Abraços.

Unknown disse... @ 4 de fevereiro de 2010 às 18:58

Mai querida chorinho é dificil de achar pra download eu tenho uns lá no Nada nosso... e são otimos baixe o Café Brasil e os do Raphael Rabello, mas já estou garimpando uns chorinhos pra ocê =)
bjinhooo obrigada pela amizade sua me deixa contente

Unknown disse... @ 4 de fevereiro de 2010 às 19:22

Não tem nada de réplica, é absolutamente original a tua narrativa. Simbolicamente concentrada. Vou me repetir: gosto muito de te ler. Beijo

Elcio Tuiribepi disse... @ 4 de fevereiro de 2010 às 19:39

Oi Mai...sei lá...mas senti um clima muito parecido com o do cotidiano...com os paralelos que vão e voltam sem se justificar, apenas surgem e fazem dos nossos olhares os mesmos de ontem...melhor apenas inspirar a poesia...aliás, o conto...rs
Um abraço recorrente na alma...bjo

Anônimo disse... @ 4 de fevereiro de 2010 às 19:48

Deixa eu ver... Onde será que já vi tudo isso? :) Ou os personagens?...
A originalidade está na forma de se expressar e é o que você faz de melhor! :)

Beijocas

BAR DO BARDO disse... @ 4 de fevereiro de 2010 às 19:56

Ora me sentindo um replicante.

Ai, ai!

nydia bonetti disse... @ 4 de fevereiro de 2010 às 23:56

Nossa, Mai... Um texto e tanto. É mesmo cada vez mais difícil manter as individualidades, exatamente o que nos nos torna mais humanos. Me fez lembrar O Admirável Mundo Novo... Beijos.

Ferdi disse... @ 5 de fevereiro de 2010 às 00:34

Fico questionndo realidades.

olharesdoavesso disse... @ 5 de fevereiro de 2010 às 01:12

Ah, as réplicas, oh os substitutos... Em tão pouco tem tanto que nem cabe em muito, bela. Vc já assistiu "Os substitutos" não é?! hehe beijos ótimo fim de semena
ah te selei hehe pega lá beijosss

lágrima disse... @ 5 de fevereiro de 2010 às 02:07

Ler-te é um desafio que me enche de ansiedade. E no fim eu sei que você sabe que me obriga a voltar um montão de vezes e eu lhe obedeço sempre... rss
Tua maneira complicada é cativante, e no fim a gente não sabe se entendeu ou não...
A mim me pareceu ser "cena" que se repete e repete... as pessoas se confrontam... se violentam...

Beijos, Mai

b disse... @ 5 de fevereiro de 2010 às 07:17

Blade Runner.
Quem e quê definiriam quem é humano quem é robô quem está em ritos de passagem...
O filme deixa dúvidas - a vida também.

A Magia da Noite disse... @ 5 de fevereiro de 2010 às 09:10

a cópia de um original não será mais que isso mesmo, uma cópia.

Anônimo disse... @ 5 de fevereiro de 2010 às 10:09

Esbarro em tanta falta de originalidade, em tanto só mais do sempre o mesmo, em tanta desindentidade, desautenticidade, que a "ficção" do texto já me é familiar.
Há tantos que questionam o dia - próximo dia - em que chips estarão inseridos nos seres humanos... enquanto o desumanizar-se já se encarregou de seus clones, "todos iguais, todos iguais... mas uns mais iguais que os outros".

dade amorim disse... @ 5 de fevereiro de 2010 às 14:38

Dá o que pensar...

Beijo pra você.

Non je ne regrette rien: Ediney Santana disse... @ 6 de fevereiro de 2010 às 18:53

"Ao fundo, como guindastes movendo miniaturas, robôs com braços articulados e sobrepostos, erguiam as peças"
tua literatura tem algo muito bom : a surpresa, não deixa cair a palavra em rotina, em em lentidão sem razão

Paula Barros disse... @ 6 de fevereiro de 2010 às 20:36

Mai, precisava de um tempo para ler com calma os seus textos. As vezes lia, não comentava e não voltava.

É muito bom observar a construção dos seus textos, a ideia, a narrativa.

Você cada dia se supera!

abraço

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