Inspirar-Poesia, um segundo sopro

plácidos pronomes

Por Sueli Maia (Mai) em 2/25/2010
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Acordou com o barulho. Quis caminhar sob a chuva que deitava com o vento e adentrava a soleira. Lembrou que pela manhã voltaria à margem do rio e molharia os pés e o vestido em busca de frescor. E sobre a relva miraria o curso das águas e mais uma vez perceberia que o tempo, como o fluir, não se permite medir. E sob a ponte veria as árvores que as mãos tatearam diariamente, mas que - juntos - só tocariam no instante de uma nova travessia. E lembraria que no reflexo do olhar, a placidez de um branco faz-se azul. E sorriria ouvindo em outro ritmo a melodia, e cantaria em reencontro outra canção. E dançaria sem falar em desencontros e diria que as águas passam depressa sob a ponte e sua força leva tantas coisas. Mesmo assim e por mais forte que seja, a chuva obedece ao vento e ele muda de repente a direção. Mas, mesmo sabendo que contrário a tudo, a dor é igual e se demora, falaria de amor novamente. E portanto e por saber o quanto, com plácidos pronomes diria: - amo. E conjugaria este verbo, em todos os tempos.
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Imagem Google

réplicas

Por Sueli Maia (Mai) em 2/04/2010
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Algo animava aqueles bonecos. - É a última fábrica na zona industrial. Juntos, tantos dias sem notícias, não é comum. Tudo planejado, na próxima semana ocorrerá o lançamento dos novos modelos. - Arthur supervisionava a produção e pediu minha ajuda. À entrada, alamedas de eucaliptos e distante do estacionamento, o edifício moderno tinha portas que abriam e fechavam automaticamente. Ao fundo, como guindastes movendo miniaturas, robôs com braços articulados e sobrepostos, erguiam as peças. Nos corredores, réplicas deslizavam sobre esteiras. Na pós produção, numa espécie de sala de horror - em série - os corpos de Ana e Davi. Uma descarga gelada escorreu-me à espinha e o estômago de uma só vez. Atuando em ficção, foi como me senti. E sem saber por onde começar, parei. Havia nos dois o desespero e a urgência dos amantes. Quis caminhar entre os modelos e com as cenas de um filme correndo em paralelo, me obrigava a pausar diante das cópias de um e outro. Era algo automático e na réplica de Ana: "Negócios não atrapalham, tudo é risco! Ele é passional". - Passos adiante e uma frase recorrente: "Ela me desafia e excede ao se exibir publicamente". - Davi falava pouco, mas, em uma das brigas mais violentas, foi assim que ele se justificou: "Isso parece uma guerra, numa hora dessas, alguém se destrói". A mão de Arthur no meu ombro e um súbito suspiro, trouxeram-me de volta, mas ali, alguma coisa não me pareceu original.
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Música: Danzón nº2 - Regência - Dudamel
 

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