Inspirar-Poesia, um segundo sopro

teatrália...

Por Sueli Maia (Mai) em 3/26/2009
Olhos sempre vivos isolados do mundo solar. A água escorrendo no corpo e os fios da vida em suas mãos. Suas pernas descruzavam impacientes no vestido de organza. Os dentes mastigando as unhas e os ossos virando pó. Figueiras travaram a língua nos desgastes das blasfêmias. Acordes dissonantes nas canções das madrugadas e os suspiros do cansaço. Carrancas e máscaras largadas e os crisântemos murchando no jardim. Uma cápsula de lagarta pendurada e nos mistérios do morrer, um casulo cintilante a espera de abrir. Entre louças e biscuits, uma boneca em miniatura enterrada em lençóis. Beijaram-se diáfanos mas não falaram nada naquela despedida. Descerraram-se as cortinas, as pálpebras caíram e o teatro de bonecos cheirava a naftalina, outra vez.
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Imagem Google - Teatro de Bonecos

fotograma...

Por Sueli Maia (Mai) em 3/25/2009
Como no filme de Godard, não era amor. A beleza do plano semiótica perfeita e nada convencia. Cenas de amor vazio e era clara a possessão. Do sonho à queda e na sequência a ilusão.
Como no filme, as horas do dia e os quadros na fita serão sempre vinte e quatro nas hora, eternidade e no impossível de ver as imagens em separado.
Como no filme de Godard a sensação de movimento, uma odisséia. O eu te amo e o vazio. Como no filme, era desprezo.
Imagem Google

estrangeiro...

Por Sueli Maia (Mai) em 3/25/2009
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Acenos ausentes e desamor na despedida. Ao norte a pesca dos sonhos e a falta da Pátria entre o pacífico e o atlântico. Na térmica celeste o baile das aves migratórias e o adeus. Não há presságios, somente as mãos. Na solidão que cresce, um coração emigrante e pouca pressa de voltar. O estrangeiro habitando e as rotas, todas rotas, não cabem mais. Está cansado, carece um porto prá ancorar. Ainda ama, ainda sonha e quer voltar... E chega o dia. Um estrangeiro em seu País, atraca ao cais...
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Fotografia: Tossan
Música : What a wonderful world - Katie Mellua
El Farol - Carlos Santana
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dribles no estresse cotidiano...

Por Sueli Maia (Mai) em 3/24/2009

Um jogo de cartas e o drible de um gênio. A paciência veste branco e preto e anda sem pressa a espera da hora de chegar. Discreta rebola suas ancas, macio e devagar. E passa a bola, cede o gol e em tempo, seu time é campeão. Equilíbrio e tolerância aos erros são tão importantes quanto nobre, é ser persistente e companheiro. Mas o estresse desgoverna as emoções, debilita as intenções e desordena as convenções. E a impaciência é humana, veste roxo e não requebra. Mas quebra qualquer um, só com o olhar. Conhece bem sua humanidade falha, e fala menos nessas horas. Mas descontrola a expressão e, irritada, ela era muito, muito engraçada e ria de si, após cada cena. E seu rubor febril era ímpeto e fátuo. Em dois minutos ela ria dos seus surtos pitbull, porque sabia que dela dependia as doses de humor, o riso e o ritmo dos dias a seguir. Deixava para trás as traves e as pedras. Pacífica mas no ataque, a impaciência encontrou um artifício razoável (embora esdrúxulo), para expurgar as doses diárias de absinto que era obrigada a engolir. Brigar com o nada, na inútil surdez das coisas, foi sua opção. Assim penavam sua fúria, a mussarela fatiada e grudada, o Google e o blogger, os chatos globais e a inutilidade televisiva, o lixo das praias, os desvarios de princesa, a cadela real da vizinha e os ‘escandalus brasiliensis’ dos parlamentares de 'Cesar-Inacius', também. E foi assim que lembrou algumas de suas pérolas e o bom humor voltou à ordem do dia. E perguntou o que queriam para o jantar e contando até UM, decidiu: – demorou muito. Vamos todos comer macarrão! E perguntaram-lhe sobre o consumo de álcool e ela respondeu: - Vinho é fruta fermentada. Brandy é vinho destilado. Retira-se a água e você aproveita. Cerveja é feita de grãos. Então beba se quiser e se puder mas não entorne, não chute o balde, não encha o saco! E perguntaram sobre o chocolate: - Cacau é fruta boa e das sementes secas, a pura felicidade, a obesidade ou a aceleração cardíaca. Depende da dose. Seja feliz mas não enfie o pé na jaca! A paciência voltou ao jogo e ela lembrou que corpos saudáveis e mentes sãs, são perfeitos. E a vida não precisa ser uma viagem monótona, triste e chata. E que não se chega ao túmulo, são e salvo. Mas estava bem humorada e pensou no que diria a impaciência, e arriscou: - Melhor viver a vida com alegria e chegar velho, exausto, mas feliz, com o corpo gasto e usado no viver. No dia 'D' voar pelo ar com balões coloridos, gritando: Valeu! Uhu! Que viagem...E ninguém chora! E vai embora sem sentir... E concluiu: - Viver vale à pena. Viver de tudo e com paciência, alegria, tolerância e equilíbrio. E caminhar é bom mas que não se anule e apenas viva caminhando, porque carteiros caminham todo tempo, muitos dias e não são imortais. A paciência é sábia mas a impaciência é engraçada e é humana.
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Imagem Google
Drible de Garrincha
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Imortais, eternidade - imortal_idade...

Por Sueli Maia (Mai) em 3/22/2009
..............................O verbo clama e eu vivo da palavra e amo as Letras. Na rota da viagem uma estalagem e o vinho do escritor é a palavra e seu ofício. Tejo é porto e é um lagarto - tejuaçu que vive no sertão. Aqui o Homem à procura do novo, a renúncia e uma história ímpar, palavras iguais na linguagem que é vaga. Na escassez das palavras o vazio e as letras. Na falta de pontes, um salto no escuro. No rigor da perfeição ele respira linguagem e signos. Sol a pino no areal de bugres. Caraya, Mucuripe e linho. Carnaúbas, Jandaias e cabaças. Repentes e pífanos. Baturité. Terra da luz, verdes mares e Guaramiranga. Torre Eiffel e Montevidéu. Romance e imortalidade. Encontrar a palavra e no silêncio, o papel e a solidão. Imortal é a obra e o livro não é o autor. E ele sofre? O autor desaparece ao publicar a história. Então carece humildade e desapego. Então é amor o mais puro e imenso amor - amor literário. A criação literária evoca amor e retribui o prazer generoso a todos os leitores e amantes. É que o prazer verbal precede o físico e um livro nasce da paixão, da inquietude, das perguntas e apenas uma possibilidade de resposta e uma chance de conseguir o feito. Ao encontro da palavra o leitor e o arrepio. Respira vidas e sente a vertigem, na busca da morte adiada, na obra que um homem eternizou - a grande obra de sua vida. E ela é escrita em noites não dormidas, na agonia de experimentar os trajetos e refazer os caminhos do real. Única. Para mim, mais que biografias ou romances, escritores e poetas, há calvários em vida e há descasos e muitas vidas nas estantes da imortalidade.
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Fotografia: S.Maia
Música : Intrumental Joe Satriani, Lenine, Súplica Cearense
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Na fotografia: Cantos de outono - o romance da vida de Lautréamont
Ruy Câmara - Editora Record
Um dos melhores e mais impressionantes livros que li, nos últimos tempos.

ad vinhos...

Por Sueli Maia (Mai) em 3/21/2009
Vinhos podem ser tintos, brancos, roses e esses podem ser suaves, doces, secos. E há minúcias e há safras...Vinhos podem brindar a alegria ou a tristeza. Vinhos podem ser bons ou não, mesmo os caros. Vinhos podem deixar um gosto amargo na boca. E a tristeza pode ser tinta e amarga, mas não é déficit. Mas pode ser a apropriação indébita da alegria que se poderia ter. Pode ser o riso adiado na existência e o medo de não se poder viver o bastante. Pode ser a fissura subterrânea no coração de um Homem. Pode ser o arrependimento pelo estrago prematuro, agora velho demais prá sorrir o hoje e o amanhã. Pode ser a lembrança da escalada adiada na preguiça desmentida, no aconcágua da vida. Pode ser a fratura de um amor sacrificado na desconfiança de um só. Pode ser a paralisia covarde que se apega aos lábios, impedindo-os de se aproximarem das orelhas. Pode ser a rigidez plástica de quem não sabe brincar, cantar ou dançar. Pode ser a teimosia que não quebra o disco de ouro da saudade. Pode ser a memória genética da posse e vingança, que congela em nitrogênio, o passado. Pode ser um fantasma sentado na sala à espreita de endorfina e melanina, enquanto eu brinco de viver feliz. Pode ser um curativo com Band Aid ou a contenção de um espartilho. Pode ser o muro que separa a infância, enquanto eu brinco nas árvores do quintal. Pode ser a etiqueta guardada na roupa, enquanto eu ando de jeans. Pode ser a música que deprime enquanto o rádio toca música latina. Pode ser só fantasia, enquanto eu visto a alegria do personagem principal e com ele eu danço a música contagiante dessa vida...Pode ser isso ou nada disso. Os advinhos tentam saber porque tristeza e não alegria? Gosto de vinhos. Não os caros, os bons...
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Fotografia: Tossan
Música - Santana
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dormentes...

Por Sueli Maia (Mai) em 3/19/2009
................................Viver custa caro. Da pouca alegria, ainda havia uma lonjura e muita dívida a ser vivida em pé. Os carrapichos no vestido rasgado ainda machucavam a pele. Havia lixo, dormência e indigência. Havia terra e nada mais nos trilhos. Nos garranchos da letra o retrocesso da fala, os sujos cadernos e as sobras do álbum, desorganizado para o futuro. Havia marcas dos dedos nas coxas e pouca coisa no eixo. Despossuída a casca fugiu, imóvel e sem pernas. Os joelhos condoídos da cilada, sustentaram os pés descalços e a partida. Refugou o odor fermentado dos braços e cuspiu a terra e o grito perdido do parto. Deitou suja da manhã sem vestes. É difícil estar inteiro quando se perde as partes. E segue, vivendo e sorrindo, nos trilhos e nos palcos...
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Arte: Chagall

intrépidos, segredos do palco...

Por Sueli Maia (Mai) em 3/17/2009
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Intrépida essa vida forjada na arte. Palavra esquecida, memória sem voz. Tributo de um artista aos palcos e seus mistérios. Régias as palavras e as falas. Segredos das linhas decoradas, nos espelhos e nos camarins. No script a cena e o drama. Da coxia aos holofotes da vida, os cenários e as paixões. Guardar timidez, vestindo em goles de Rum o doer da personagem em cena. Fim de ato, aplausos sem foco, sem fogo, sem chama, sem fome ou contorces de um no outro. Na escuridão, a cortina que cai. No final, atropelos encenados no deboche que esfumaça o riso. Do texto, a sede quando a cena encerra e a platéia e tu te vás. Te espero nesse palco, outra vez.
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Arte Jacques-Louis David

uma canção ao outono...

Por Sueli Maia (Mai) em 3/16/2009
....................Uma canção está repleta de vazios e a dor não é posse, é opção.Ensurdeço os ouvidos, espanto a tristeza e assumo: canto a hibernação essencial.Nos trópicos os corpos mostrar-se-ão deslembrados das peles, em segredo outonal. Do inóspito vazio a tez não escapa. Quanto mais amo menos o amor me escapa. Apresso-me a transgredir a falta. Na insensatez dessa pressa, a ilicitude e a vontade de viver contente. Ao norte, entre o pacífico e o atlântico, o meu desnorte e minha desordem tântrica. Paixão é bússola que norteia o coração. Deslembrar-me-ei de disfarçar da face o contentamento da paixão. Meus gritos mudos, ainda estarão vivos sem saber-te. Porque o sempre não existe e estar no outono é apenas um modo de acordar...
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Imagem Google

Miró

estrábico...

Por Sueli Maia (Mai) em 3/15/2009
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Perceber a indiferença do outro como a defesa de um pássaro solitário que ameaçado, voa e vai embora sem despedidas, antes que o dia amanheça
Compreender o silêncio do outro como a necessidade de escuta dos seus próprios sentimentos e emoções
Acolher o que do outro nos é diverso, como oportunidade de conhecê-lo e apaziguarmos em nós, a face ignorada, negada e oculta
Agradecer a difícil experiência com o outro, como quem retribui a um cumprimento por engano com outro sorriso

Renovar a lealdade ao outro apesar da despedida que deixa-nos o bônus da solidão
Reconhecer que o prazer de gostar de alguém independe da contrapartida
Aproveitar a insônia do outro para aninhá-lo entre os seios e finalmente amá-lo outra vez

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Prelúdio de Outono...

Por Sueli Maia (Mai) em 3/11/2009
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Urgências do tempo e o outono nascendo. Na pressa do traço, o descompasso e a palavra inclemente. Sacrificio da amizade, equívoco do amor, trocados, miúdos venenos... Na vertigem da leitura a insistência da palavra. Teimosia do silêncio e a distância corrosiva do verbo que é ácido. Cantos de Outono, romance do efêmero na face. Mistérios da palavra e entre as pedras, as folhas que caem no tempo e ao vento, na vida que está. Sob os pés sons de folhas do outono, tua ausência e o vazio. Via crucis de um amor perdulário e secreto. Calvário dolente no enlace das letras. Desenlace companheiro no prelúdio do outono, na falta que é. Urgências do tempo e o outono nascendo outra vez...
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Imagem Google
Música: Wolfgang Amadeus Mozart - Ave Verum Corpus

Elixir de palavras...

Por Sueli Maia (Mai) em 3/10/2009

...............................Os dias são assim, não há sol mas eu canto porque mesmo sob guarda-chuvas, há luz nesse dia. Se em instantes o mundo desaba e o céu cai no chão e sob nossos pés só percebemos abismos, logo ali reencontraremos a paz, no simples beijo, abraço, afago ou no deitar as palavras sobre a cama de papel...Somos assim, peças soltas em nossos próprios quebra-cabeças. Pingentes no mundo, facilmente transformamos um bem-querer em dose extra de uma espécie de elixir mágico em nossas vidas... Doses homeopáticas de um amor alternativo, secreto e recíproco, com o qual se espera poder contar, sempre... Essas são as tais pontes. São pontes, as fontes literárias em que palavras içam-nos, resgatando-nos de abismos, nossos ímpetos silêncios, quase morte em quase vida... E são momentos, fragmentos de tempo, pequenos gestos, singelos fractais e não fossem esses pequenos momentos, pequenas coisas que encontrássemos o significado de ir sendo, que faríamos, que seria do viver? ‘O grandioso é por si. Isso precede sua semiologia. Mas o que há para se extrair de belo e agradável é o pequeno, o cultivado, algo simples como a delicadeza de um beijo. Sim, somos peças soltas em quebras-cabeças nossos, como dos outros, também. Mas Somos maiores nos gestos mais singelos de cada dia do nosso existir. E desse elixir secreto e alternativo, vem o dia nublado ganhar brilho. Não há um sol, mas há luz e eu canto'...
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Texto escrito por Mai em parceria com Marcelo Leite
Fotografia: Tossan
Música: Your Song
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Blogagem Coletiva - Inclusão Social

Por Sueli Maia (Mai) em 3/09/2009
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Ruídos da intolerância...
O Grito das minorias

Ele grita: - Olha a pilha... Olha a pilha...
Um real é um real
Empilha papelão e papel
defende o pão nosso
Empilha seu pão
todo dia...
Outro grita - meu Cristo
na cruz ou no céu
Vem aqui estou ‘Cristo’ também
Crucificado sem trabalho e sem fé...
Minha sombra está nas ruas
sem luz e na amargura...
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O barulho dos loucos

Eles gritam o que só eles percebem
Todos clamam...
Uns deliram, outros alucinam sua dor...
A maioria, também loucos,
preferem não ver ou ouvir
a exclusão e o grito
de um e outro...
*

Os Sons dos ‘surdos’

Chaleira chiando
Chinelos chegando
O choro e a chuva
O sino das seis
O ronco da fome
Canto de um pássaro
Toque dos lábios
Latidos ao longe
Vento que varre
O som das águas
Copo que cai
Porta que bate
Gaveta que abre
Caneta que roça o papel
O zíper abrindo
O som da sua respiração...
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Aqui e distante há sons da exclusão Social...
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'companheirar'...

Por Sueli Maia (Mai) em 3/08/2009
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.....................Ser Mulher é acolher, abrigar, nutrir, compreender, desdobrar-se flexível, adaptável...
Ser Mulher é 'companheirar'...
Distinto de 'acompanhar', ‘C O M P A N H E I R A R', é jamais abandonar... É ter consciência do que é importante nas parcerias cotidianas. Um sacerdócio, um mandato, um privilégio de 'Ser Mulher' mas, sobretudo, Ser sensível, Ser Artista, Ser Poeta – Sermos, eternamente, 'AMADORAS' em todos os sentidos que esta palavra evoca...
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Hoje eu deixo o meu desejo sincero de que todas as leitoras e amigas nesse mundo sem fronteiras, tenham um dia muito especial neste que é reverenciado como um dia especial de ‘SER MULHER’...
E sou mulher (nasci talvez noutro planeta e lá, de onde eu vim e não é 'Pasárgada'), conjugo o verbo 'companheirar'...
Quando ‘Eu Companheiro’ estou ali, juntinho, sem perseguir, sufocar, cobrar, asfixiar... Estou ali, presente, mesmo sem estar ou ir junto... Eu Companheiro, simplesmente não abandonando, sendo companheira, cúmplice, amiga, injetando ânimo, mostrando e afirmando que o outro pode contar comigo em qualquer circunstância...Eu ofereço esse meu verbo 'companheirar' porque sou eternamente uma AMADORA...
Ser mulher e Estar Mulher para mim é isto, 'COMPANHEIRAR'...
Dia especial a todas as mulheres,
Carinho,
Mai
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qualquer maneira de amar...

Por Sueli Maia (Mai) em 3/04/2009
Não creio em acasos. Creio em circunstâncias, ‘determinismos’. Mas também em livre arbítrio, escolhas que fazemos. Certas ou equivocadas, precisamos nos responsabilizar e nos ‘implicar’ nas consequências, inclusive. Isto não é do outro ou pelo outro. Escolhas são nossa responsabilidade. Não gosto de pensar em culpa, mas responsabilidade, sim. Na base desse entendimento existencial está a nossa condição humana. Cometemos erros e poderemos estar mais ou menos suscetíveis às fragilidades emocionais, circunstanciais a cada um. Ninguém é capaz de sentir o que o outro sente porque a pele é outra, a emoção é outra e o contexto é diverso. O ir sendo, existindo e vivendo é permeado de altos e baixos, lutas, glórias, perdas e danos, também. Cabe-nos transformar perdas em recompensas. Mas isto demanda exercício de equilíbrio e este, reclama tempo e atenção a si. O tempo tem sua órbita e o hoje é um flash, um klic, um átomo, fugidio e transitório que nos escapa, escorre, esvai... Não é producente determo-nos em dores e lamentos diante daquilo que nada mais podemos fazer.
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Dor e sofrimento é uma questão de tempo de exposição ao agente... Aqui está minha necessidade de tempo. Tenho pouco tempo e o meu tempo de agir é o agora, o hoje. Não há alcance na promessa de estar aqui amanhã. Meu tempo de reflexão para seguir em frente, é hoje. Meu eixo, meu plexo, meu governo estão em mim e não no outro, apesar da alteridade e apesar de crer nas pessoas e no melhor delas. Uma ferida a ser cicatrizada reclama meu próprio cuidado. Um cuidar de mim. Reencontrar meu eixo, meu governo, minha órbita. Reencontrar-me. Mas existem pessoas que cruzam nossas vidas e tão raras e caras são essas pessoas que, mesmo sem saber ou querer, passam a ter uma importância maior do que supõem e talvez maior do que seria razoável, em nossas vidas... E nessas horas uma dose maior de razão protegeria quem é mais sensível, mais emocional... Não há problema em sermos sensíveis e eu não abro mão da minha emoção. Não desejo ser fria e distante mas preciso equilibrar minha emoção num quantum a menos, para não me ferir demasiado. Quem é superficial, estóico, epidérmico nas relações,(também não há problema em ser assim...) não se agasta, rasura, arranha ou se machuca no trato cotidiano com o outro... Mas há seres ‘submarinos’, profundos, intensos, que não habitam, apenas, a superfície nas relações humanas e interpessoais. Sou uma dessas. Vocês perceberam em tudo o que leram aqui, ao longo desse tempo.
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Na ponta oposta do EU, o outro, a alteridade. O leitor, o amigo, o seguidor que comenta, interage, intertextualiza o que lê, estreita laços ou se comunica cotidianamente. Nesse ciclo de relações interpessoais – virtuais ou não, pessoas especiais, próximas ou nem tanto, conhecidas ou não, passam a fazer parte de nossas vidas. Aqui estão vocês, assim estamos nós e a minha necessidade de tempo. E não importa há quanto tempo estejamos aqui, nos ‘visitando’, sorrindo, amando, poetando e nos incentivando mutuamente... Não importa onde estejamos. Distâncias são relativas ao tanto que se gosta, compreende e se importa com o outro. O longe é perto. Quase muito é quase pouco... E não importa quem sejam, que aparência tenham... São irrelevantes status, condição cultural, social, religiosa... Parece que nos conhecemos, pessoalmente, há anos...Para mim, vocês não são ‘qualquer um’. Não são apenas ‘amigos’ virtuais...
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Pode ser ingenuidade e posso ser uma sonhadora. Pode ser. Deixo de saber... Apenas sinto e o que sinto escrevo, não temo a normalidade que à tudo reprime. Cada um de vocês para mim é real, desde o momento em que demos o primeiro olá e interagimos, desde então... O que é a ilusão? A ilusão é uma estratégia comum no mundo palpável e real e não apenas ilusionistas utilizam-se desse artifício... Aqui eu conheci pessoas com as melhores qualidades e para mim, são reais, independente de sua humanidade. Também sou humana e tenho as minhas 'mazelas'...
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Li emocionada palavras de bom ânimo e compreensão. Percebo sinceridade e preocupação de todos. Desse modo é indispensável agradecer publicamente o carinho que sempre, sempre, todos manifestaram com palavras, gestos, presença, solidariedade, compartilhamento... Nos momentos mais fáceis e alegres e mesmo nos mais dolorosos...Estranhamente e opostamente ao que seria razoável supor, amizades virtuais se configuraram mais presentes que amizades corporais, presenciais, pés no chão, olhos nos olhos, as ditas 'reais'...Por isto sei que irei lembrar de cada um de vocês a cada dia, em cada momento em que eu estiver ausente deste mundo midiático... Mas por certo poderemos nos comunicar. E de algum modo ou ao meu modo, eu sei, estaremos 'ligados', 'linkados', mais próximos do que supomos ser possível...
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Porque há uma espécie de laço, traço, elo, vínculo, abraço que se dá sem que se esteja perto. O abraço que toca bem fundo o abraço da palavra de quem ama... E é este o abraço que deixo a cada um de vocês. O meu abraço. Cheio, pleno, repleto de uma forma qualquer de amor. Um certo amor que se tem e se dá porque se quer dar e se tem para dar. E eu tenho e desejo deixar este amor aqui e no ar a inspirar. No 'inspirar-poesia', nesse canto... Um canto qualquer... Nisso que não se pondera, uma desmesura, qualquer maneira de amar...
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Qualquer dia a gente se encontra...
Muito carinho e gratidão,

Mai

en_cantar...

Por Sueli Maia (Mai) em 3/02/2009




.............................Cigarra afinada com voz de menina. Cantava tudo que ouvia. Sorria banguela na boca alegria. Desfalques à frente, dois dentes de leite caídos. Bem largo e farto seu sorriso de criança inocente, cantando pro vento e no vento ela ia... Pulando, girando, dançando e catando pedrinhas ao som de sua música favorita. Uma menina sozinha com olhos bem grandes, abertos, espertos, esperando a luz de um sol e um girassol que abria. Cantava e brincava com o mundo e com tudo ao redor. Uma graça acanhada, inocente... Cantava o outono, alegrando o inverno que vinha e era frágil, como as folhas que caiam na primeira estação. Um sorrisinho torto, maroto, atrevido em seu rosto. Ela era tímida, uma garotinha sozinha, cantando e catando pedrinhas no chão. E cantava e brincava com o mundo. Só queria encantar, brincar e fazer sorrir...

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Imagens Google

Música - Seven Years - Norah Jones

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submarinos...

Por Sueli Maia (Mai) em 3/01/2009
.São submarinos os Homens. Submergem ao fundo ouvindo em sonar suas dores, memórias e o que as guarneceu. Olhava com medo os Homens submersos, precisava saber enxergar o mais longe possível...
Precisava saber suportar a vida no fundo do mar. Tão inóspita, monótona, temível, na falta de êxito ao usar periscópios ou tentar se fazer corajosa se a saudade apertar... E o seu medo no fundo do mar? São bombas de profundidade, ameaça constante de dores. São submarinos os homens de todas as peles, de todas as cores... Azuis, vermelho, laranja ou negros. Um submarino amarelo emerge, estóico, epidérmico abjura o amor...

Não há passadiços ali onde estava espiando as operações do sonar... Resistia ao medo da morte e ao 'Não' de um perdão das ofensas. Parece um estigma a segui-la na vida inteira em que singra, oceanos dos homens pacíficos ou mesmo os atlânticos... Ao norte, o desnorte do seu soluçar... Mas para varrer o horizonte e avistar da popa, os perigos, prá ver mais além do que vêem a maioria dos Homens... E sempre que alguém precisar, ela sabe que foi necessário subir em ombros gigantes. E mesmo saudosa e sem vê-los, no fundo do mar a eles, agradece, aonde pode chegar. São submarinos os Homens. Mas há tanta beleza no fundo do mar, não dá prá acabar com a música, a poesia e o amor...

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Submarino azul
http://www.ricardocobra.com.br/
Outras imagens:Google
Música : Pepperland- George Martin -
Trilha - Yellow Submarine
 

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