Inspirar-Poesia, um segundo sopro

a linha do equador

Por Sueli Maia (Mai) em 12/31/2010
Latitude zero.  Linha divisória. O meio do mundo é um lugar imaginário,  mas há um totem na linha do equador e me disseram que aqui eu poderia pisar simultaneamente os dois hemisférios.
Estou em Macapá, literalmente no meio do mundo. O rio amazonas é um gigante com cara de mar que banha esta cidade.
Olhando este rio eu pude perceber, ainda mais, a minha pequenez. 
Mas o dia de hoje é também uma espécie de linha divisória, porque amanhã despertaremos em um novo ano.
Gostaria de agradecer a todos que estiveram aqui e desejar um 2011 bem melhor e pleno em paz.




temporárias

Por Sueli Maia (Mai) em 12/17/2010
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A memória ergue o tempo
Sucessão e engano é a rotina do relógio
O ano não é menos vão que a vã história
(Jorge Luiz Borges)


De Roosevelt a Obama os sacos de folhas pesam tanto quanto cortiças e rolhas, mas há algo que se repete no espiral do tempo e muita coisa se acumula nos espaços. Vazios consomem novidades e o consumo desemboca na fatura do cartão que, em outros janeiros, desaguará com juros e noites insones. Insumos são elementos importantes e se a fusão é uma questão de temperatura e tempo, a transformação é poder perceber o valor da diferença. Não sei se o tempo já é gasto em si ou se o tempo hoje é novo e - outro, ele é gasto de maneira diferente; não sei se já não há mais tempo ou se cada um tem seu tempo e assim tudo isto que consumo e me consome não é o tempo mas sou eu. Não sei se por isto, tanto o tempo quanto o encontro nada vale ou vale tudo... Mas eu tenho o costume de juntar o velho e o novo e em meio a tanta inovação, eu nunca soube responder porque os homens deixaram de usar chapéus, porque é tão difícil encontrar um toca-discos pro vinil ou porque são tão raros os relógios analógicos se a impaciência é digital. Mas mesmo assim eu vibrei com a invenção do wikileaks e apesar disto eu sonhei com Obama e disse pra ele que o maior pesadelo seria repetir o final dos anos trinta. Porque eu ainda tenho mãe, e os meus filhos e netos precisam viver. Talvez por isto não vejo problema se hoje os rapazes usam calças coloridas ou se algumas moças trocaram as calças apertadas por folgadas enquanto outras voltaram a usar renda. Pessoas transitam seus jeitos e cheiros, sujeitos circulam querências e impotências, e nesse ir e vir as etiquetas temporárias ainda existem, e por baixo ou por cima o ter ou o ser é tudo que existe no cerne da questão. Ergo montanhas de folhas e o barulho que faço é o mesmo que fazem os coelhos e lagartos quando esgueiram sobre as folhas nos quintais, e nesta espécie de árvore natalina feita apenas de folhas, eu recolho num abraço cada nome, porque palavras o vento espalha.
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Um bom natal a todos
Obrigada por estar aqui todo este tempo

a invenção de um purgatório

Por Sueli Maia (Mai) em 12/09/2010
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O presente está só...
...Entre o amanhecer e a noite
existe um abismo de agonias, luzes, cuidados;
...O hoje fugaz é tênue e é eterno;
outro céu não espere, nem outro inferno
(Jorge Luiz Borges)


Quisera ter mãos e boca e língua àquela imagem, mas correm rios sob a minha pele e ainda há vastidão e mistérios, legião e fantasmas que me sopram coisas que eu nem ousaria dizer; por tanto perdoe o que escoar mais espesso das veias desta minha humanidade. A pressa de dizer reclama urgência de pensar, mas eu sempre esqueço dos detalhes da diplomacia. O fac-simile nunca funciona comigo e foram muitas as vezes que eu me destrambelhei sem pensar. Purgo pequenas mentiras e pequenas verdades. Então antes que seja tarde escreverei claramente: te amo. E na maioria das vezes me acanho em dizer; e quando vejo o dia se foi os meus olhos continuam nus e minha boca continua vestida de silêncio e pudor. Não importa do que é feita a coisa, mas para quê ela serve e o que nela cabe; e tudo cabe nessa coisa que é viver. Então ainda que eu morra a cada minuto e que uma palavra me falte ou transborde, cá estou. Verso você enquanto estou só. E se o meu céu, meu inferno, meu presente, meu bem e meu mal também é você, eu inventei de fazer destes versos o meu purgatório enquanto te espero.
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tecnológicas

Por Sueli Maia (Mai) em 12/04/2010
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O amor é essa luta interminável
onde a idéia de bastante
é bastante inoportuna nesta época


O fogo apressa o tempo e ciclicamente o tempo se vê, não nos relógios digitais, nos movimentos e momentos onde as fomes e sedes se esbarram e ninguém se entende em seu querer. Mas entre o cru e o cozido, Juan continuava a comer as suas saladas franzinas, Michel preferia marinar todas as carnes; e avinagrados - João e Maria, continuavam engolindo os congelados e seus malabarismos. Dissabores se descartam onde se compra sabor, e mesmo exaustos de tanta fome e desencontro, Hélio e Júlia, Bruno e Bia trocaram torpedos e se encontrarão depois do shopping, no churrasco, onde todos se olham, se esnobam e confraternizam.

prelúdio de um blues

Por Sueli Maia (Mai) em 12/01/2010
“Só para nós não morre aquilo que morre conosco”
(Gabriele d´Annunzio)

No vão das horas os dias me escapam, mas sigo. Tendões e fibras e pele seguirão comigo, porque eu sempre teimo em seguir. E seguirei; como seguem todas as coisas que ocupam o lugar de outras coisas as quais se perde por aí. Eu sempre perco. [E engulo o choro ao perder].  E mesmo se jaz viver em vão, não me exaspero em saber, eu bebo um blues. Porque a hora não chega antes do minuto derradeiro. E afinal tatuarei mais uma palavra sob meu vestido e em largos goles de azul levarei comigo as linhas desse meu silêncio.
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Inspirado no vídeo: Carlos Barreto Lokomotiv - salada 2
Outro texto aqui
Ao Artista Plástico e poeta marco Antônio, muito obrigada! dedicou-me um poema aqui 
 

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