cárceres...
Por Sueli Maia (Mai) em 6/12/2009O dia se fez longo na vigília da angústia e desespero de um homem. Seus braços iam e vinham com vigor e sincronia. E não voltou como antes da viagem que o partiu, naquele dia. Um homem esquálido, um pêndulo obstinado em desalinho ora ao norte, ora ao sul na caminhada interminável. Toneladas de agonia e desordem mental pesavam e marcavam fundas, as suas pegadas na areia. Passos ritmados de um homem cabisbaixo, atordoado e aflito. Ia, vinha, parava na ponta do mar à beira e com olhos fixos e perdidos no horizonte do mundo, prenunciava seu desejo - seu novo destino - O mar, morada prá sempre do nada que se sentia pois perdera seu único amor. Ela não cansava, ficava bem perto, silente, atenta, em vigília. Observava e registrava, nos sinais, sua intenção. Estava alerta e pronta para agir, contê-lo, abraçá-lo, protegê-lo. Ele era um planeta convulsionando em emoções, em desespero e medo. À parte, sua expressão facial que em momentos ria e noutros adensava a tez e depois, com o indicador, apontava uma nova decisão. A seguir mudava a rota e novamente cabisbaixo, seguia sem rumo, sem norte, ao vento. De seu mundo era ele mesmo o único ser vivente e em si, uma verdade hostil - seus fantasmas, suas culpas, suas sombras e na emoção desgovernada, um deslugar, um desdesejo de ficar, de existir... Subiu o aclive da areia e a seguir, parou frente uma casa branca, portões azuis, janelas largas, uma rede vermelha na varanda. Olhou, apoiou-se ao muro, bateu palmas, chamou alguém e pediu água. Olhos de espanto viu algo e assombrado desistiu retomando apressado o caminhar sem tréguas. Agora e sempre, sem emitir qualquer som, ela caminhava ao seu lado. Cúmplice ela imprimia solidária o seu ritmo, ao lado, juntinho, naquela viagem sem roteiro e sem destino no des_tino de um Ser, em sua desordem humana. Um ir e vir, um descaminho e ele percebe que não está só. Prisões sem grades são cárceres perpétuos da mente humana...
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Arte: Sigmar Polke
Música: The last mohican
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26 comentários:
...ah minha linda,
desde que soube sermos
presas de nossos pensamentos,
tento então deixá-los soltos
para que em liberdade
possam pousar tbm em
outras paragens.
e é claro, cuido para que
em mim se transformem
em canções de liberdade.
amo você!
bj meu
alma nua vestiu-se
de desencanto...
Olá Mai. Tudo bem? Eu já não sei o que te dizer. Tu reages sempre tão bem ao meus textos, mesmo que eu sinta que poderiam estar melhores.
Muito obrigada, pelo o que tu dizes sempre pelos eus simples textos.
Beijoooo (:
Ah, julgo que estas prisões sem grades (visíveis e tocáveis) são as piores.... Acredito também que, por mais voltas que a nossa alma dê, o nosso corpo retornará sempre ao mar. Símbolo da fúria, inconstância e incerteza que enfrentamos no decorrer das nossas vidas.
Quantas são as almas condenadas vemos por aí, a cruzarem o nosso caminho e a estenderem-nos as mãos quando somos nós que nos encontramos perdidos...
Fantástico texto, Mai. Sinto-me com as mãos acorrentadas para comentar ( minimamente bem) o que quer que seja.
A música de fundo não podia ser melhor.
Beijinho grande*
«prisões sem grades são cárceres perpétuos da mente humana...» - brutal!
grande música de fundo. já não a ouvia há um tempinho e agora fiquei com vontade :)
beijinho grande Mai, e um bom fim-de-semana. *
Este eu conheço!
Um não saber para onde ir e nem para que viver, mas o conforto de saber com quem ir, mesmo que à distância.
Mai, lá no meu, o que aconteceu é que eu estava doente. Provavelmente eu estava com febre. :)) Os sonhos que nem vou colocar no blog foram mais impressionantes e apavorantes..
beijocas
Mai, poetisa
Nem vou ler você agora, trabalho, trabalho... Li você em Dauri e Tossan. Não sei se você guarda os comentários, estão poesia pura, adorei.
beijos, ótimo final de semana.
Mai,
obrigado pelo imenso carinho com que me lês...
tb aqui me sinto presa ás pa l a v r a s... que tanto nos dizem...
reclusa eu... da vontade de ter asas...
imenso beijinho
Somos sempre cárceres eternos de nossos sonhos, que, pirilampos que desbravam a noite, beliscam nossos medos, nossos desalentos para acordar-nos para a vida. Somos eternas grades de nós mesmos, onde o cimo é apenas uma vitória invisível, que nada tem a ver com realização, com realidade, pois, nessa saudade dos sorrisos, é preciso mesmo desvencilhar-se de caminhos retos, pois é nas curvas que encontramos escondidos aqueles colibrís fora de estação e que nos abrilhantam a alma de tanta beleza, que enche os olhos de tanta sensação. Vamos rir sim, para nós mesmos, para a sombra esgueirada que está sempre à espreita de nós, mas que é reflexo de uma luz que não tem fim.
Beijos, querida minha. Fico aqui, e fique bem, pois estou também.
Passei por aqui, li teu texto. Vou seguindo. Desejo-te mais e mais palavras e prazer na escrita.
Beijo
Denso, inteligente e muito bem escrito. Gosto de ler essas doses interessantes de literatura.
Poético abraço.
"Prisões sem grades são cárceres perpétuos da mente humana..."
Mai, tenho avaliado muito essa questão da mente humana, e os aprisionamentos advindos dela.
abraços e um fim de semana muito bom.
Esse texto parece aminha historia de vida e tudo o que ja sofri ate aqui!
É
Não foi facil!!
Esse texto parece aminha historia de vida e tudo o que ja sofri ate aqui!
É
Não foi facil!!
Mai, saudades de suas palavras tão bem escritas...
bOm terminar meu dia lendo vc...tá lindo!
Bjos no coração minha amiga!
Bom demais este texto! Você é a rainha da poesia narrada em texto, difícil eu confesso a minha dificuldade de entende-la as vezes.
Muito triste Mai, muito, porém belo e real! Beijo
Oi, Mai!
Autorização pra me seguir?
Ué, não é só você clicar no botão "Seguir"? Aparece alguma mensagem te impedindo? Por favor me avise!
Abraço
"Prisões sem grades são cárceres perpétuos da mente humana..."
e eu sou testemunha disso. pode ser aqui ou em marte: é a mente que nos controla, que nos dita as ordens cotidianas e de longo-prazo...
mente nunca mente
por mais que se afirme
em grandes
inexistentes?!
carinho muito,
saudades
beijos.
Me veio o seguinte à mente:
No deserto bravio.
O sol mais escaldante dos dias inteiros do ano.
O homem e a secura do chão.
O homem e seu relógio de sol, que agora de nada serve.
A não ser que mastigue a pedra e a engula sem pestanejar.
Mas daí não saberá as horas.
Não importa!
Pouco importa.
Nem sei se importa.
O que estava sendo discutido mesmo?
Belíssimo texto, Mai!
Sou seu fã!
Um beijo!
Oi, Mai;
Crónica abrupta de realismo do irreal. Prisão libertina da libertagem humana que só encontra liberdade nas prisões imaginárias da vida...
O Homem só se sente libre quando aprisionado e prisioneiro de seus sentimentos...
Excelente crónica, Mai. Uma crónica de ler, refletir e meditar.
bjs,
Osvaldo
Sim! A dor psíquica aprisiona e epois de muito pensamento - o único remédio - pode ser libertadora.
Interessante como vc a coloca. Ora como a mulher à beira-mar pronta pra salvar , ora como cúmplice do descaminho.
Oh, idiomas insólitos!
Por que "cativo" quer dizer ao mesmo tempo "prisioneiro" e "querido"?
Por que "cativar" pode tanto querer conquistar a atenção, apreço e querência, quanto escravizar, por a ferros e grilhões, prender não só a atenção e a alma, mas também o corpo e a mente?
Cativo em italino quer dizer malvado, mau, perverso.
Mas tem também aquele gatinho inglês, o cat_Ivo, sabe?
Oh, céus, não! Como estou sendo cruel (=cativo) e infame, cativado pelas armadilhas e prisões das palavras...
A nossa alma vive numa prisão sem grades, e nós presos aos nossos egos vivemos procurando muitas vezes não sabemos o quê, e quando nos perdemos de nós mesmos, tomamos caminhos diversos, desde o querermos acabar com a vida, enveredamos por dependências várias, muitas vezes é a falta de objectivos na vida, de força interior,de nos aceitarmos como somos que se procura essas escapadelas, mas... quando alguém passa a ser nossa cúmplice,os medos se esvaem e o caminho novamente se percorrem.
Namastê
Estou por aqui, silencioso a te acompanhar, amiga d'infância. Não há grades, na verdade. As grades são ilusões do ego. Por isso, voemos...
Abraçamigo.
eis me aqui, sabotador interno...
há muito tempo eu não te comentava, Mai, porque sentia teus textos um tanto.. diferentes. e, não minto, não estavam do meu agrado e não gosto de comentários 'só por comentar'. gosto de quando há identificação e, principalmente, quando há algo que eu possa adicionar.
o melhor texto que descreve esse bendito (o sabotador interno) é, na minha opinião, o de Fernanda Young. é algo mais ou menos assim:
"Venho por meio desta manifestar o meu repúdio pelo seu recente comportamento. Você estragou tudo, mais uma vez. Ora, quando você irá crescer?"
é um texto enorme, uma carta. procure no Google, e certamente encontrará. mas você sabe muito mais dele do que eu saberia.
te adoro Mai. ;**
Que lindo... Lindo!
Às vezes eu consigo ver-me em pedaços presos em dias, olhares, palavras... E por fim, não é para isso que caminhamos?
Emocionante.
Meu beijo pra você.
Pelas transparentes impossibilidades é que luto e desafio o espaço do viver que precisa sempre nascer.
Cadinho RoCo
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