Inspirar-Poesia, um segundo sopro

fábula urbana...

Por Sueli Maia (Mai) em 4/19/2009
Escrevo bobagens e o tempo verbal é confuso. Minhas mãos traduzirão o meu calar. Minha boca falará com minhas mãos. Ora palavra, serei a pele da minha voz. Ou seria o cantar do meu coração? Deitarei nesta cama as minhas falas. Em tudo escreverei mas não serei. Diriam assim, há séculos? Quisera não ser mas Urbana sou eu, em meu estar. Eu não sou isto que ora li. Sou brasileira e transgressora. Aqui escreverei a lenta pressa de ser mundo. Por saber ser eu canto o meu idílio acabado em miúda. Ser erudita cansa e eu não sei a métrica de Camões. Cantarei Línguas, do Caetano. Não cantarei o trilho urbano que adiou o meu cantar pois minha culpa é libertina e loucida. E para viver eu fiz comédia do meu drama e fiz do sorriso o meu prosac. Organizei delírios verossímeis e saí do deslugar, brincando de ser mundo nesse mundo de aparências e cá dentro, eu vivo, o infinito de mim. Corcel com olhos verdemel e indomada, sorvi num gole a teimosia de viver o oco da vida, cantando sandices, no eco de um vilarejo, incrustado entre a serra e o mar. Urbana sou eu, não esqueça. Não cria em fantasmas urbanos e nem os temia porque os via andando nas ruas, vestidos de gente, de noite e de dia, também. Eu troco o Sempre por um instante. E de repente um amargor é uma viagem, uma miragem, o irreal. E noutro instante a reestréia nos palcos da vida de Urbana. Eu piso o chão. Corpo quieto, mente liberta e nômade. Itinerante vou de um lugar para nenhum. Porto sem âncoras eu sou poesia e vento, que espalha estrelas e pingos da chuva nas noites, em mil tons de azul e sorrisos. Mais que cidade sou um mundo e erigi um castelo bem perto do mar. Eu sou urbana em minha estrangeiridade, lembra? Ora direi conhecer por dentro as ondas do mar. Afirmarei à quem o sabe navegar, o oceano, não faz barulho algum. Eu era urbana, hoje sou mar. Eu sou? Quisera ser.
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Arte Klimt
Fotografia: SMaia
Música: Vilarejo Marisa Monte

25 comentários:

:.tossan® disse... @ 19 de abril de 2009 às 23:02

Isso o que você escreveu sou eu...
Texto muito bonito e real demais! Beijo

Erica de Paula disse... @ 19 de abril de 2009 às 23:05

Ah, que palavras gostosas Mai!

Adoro ler e sentir!

Bjos em teu coração minha linda amiga!

Leo Mandoki, Jr. disse... @ 19 de abril de 2009 às 23:19

tudo que vc escreve (apesar de haver temática) é sempre uma viagem dentro de vc mesma. E como em qq viagem..podemos fazê-la a 80km/h, a 100km/h...ou a 200Km/h....hj vc extrapolou todos os limites de velocidade...e foi conduzindo como se não houvesse estradas...é uma sensação boa né? às vzs é melhor do que sexo!
fica bem..beijos

Osvaldo disse... @ 20 de abril de 2009 às 02:47

Oi, Mai;

Esta real "Crónica do Inconstante" serve para despertar os indecisos para uma realidade que deve ser vista de um prisma indefinido... Quantos "Urbanos" não há que devido às instabilidades que gerem suas vidas nunca atingem o mar... das suas certezas ?...
O "Urbano" poderá ser rei a sua selva, chefe na sua cidade, gerir empresas e gerar trabalho, mas será sempre imcapaz de desbravar mares, mesme de mansas ondas...

Bela crónica para refletir.

bjs Mai

Osvaldo

Elcio Tuiribepi disse... @ 20 de abril de 2009 às 08:13

Bom encontrar saídas pelo mar, e navegar que deveria ser preciso, se tornar impreciso, sem destino, irreal...
Bom encontrar saídas dentro de nós mesmos, e nos fazer comédia, e nos fazer sorriso...
Bom encontrar saídas nas poesias e nos ventos e assim deixar que ele nos leve...
Música boa, escrita também...quisera eu também ser mar...Um abraço na alma Mai...boa semana para você e obrigado pelas palavras láno verseiro...valeuuu

lula eurico disse... @ 20 de abril de 2009 às 09:21

Te deixo um beijo como Klimt. E vou ao mar de ti.
Aqui na terrinha chove muito. Água aqui é sagrada, ma non troppo. Podem encher demais as moringas e arrastar o sonho da lavoura.
Fica com meu abraçamigo.
E bom dia!

Eu disse... @ 20 de abril de 2009 às 09:22

Mai...acho que estamos todos sentindo de forma muito parecida...
Ler suas palavras... revelam muito do que mora em mim.
Tenha uma semana repleta de dádivas.
Deixo um beijo carinhoso

T@CITO/XANADU disse... @ 20 de abril de 2009 às 10:53

Por vezes me dano
nas tramas do que sonho.
Mas viver se faz preciso,
então, também já sei o meu lugar:
É no mar,lá me permito errar...
Errar no amor,para mais aprender amar.

Belas palavras,parabéns.
Tácito.

Letícia disse... @ 20 de abril de 2009 às 10:59

Eu já troquei o "Sempre por um instante" e não sei se me arrependi. E você está poeta, Mai. Eu ando meio Bule (Coisa boa que li no blog do Elcio).

Beijos e estou bem, Maluca. =)

Dauri Batisti disse... @ 20 de abril de 2009 às 14:20

Ser urbana pode significar ser cheia e complexa e atravessada por mil ruas, avenidas, sentimentos sentir-se só, nua. Bem, ser urbano é o ser que perdeu o encanto do campo e ainda não encontrou um espaço na própria casa, ainda é estranho na rua. Somos assim, cidadão da grande cidade-mundo. Bem, fui pensando...

Beijo.

adouro-te disse... @ 20 de abril de 2009 às 15:10

Venho de "a"_mar.
E sigo viagem sem rumo. Não é necessário e suficiente haver rumo.
Mesmo se encalhar e for ao fundo.
Lugar reservado aos afoitos, ainda que aflitos, urbanos e rurais.
Beijo.

bete disse... @ 20 de abril de 2009 às 16:54

olha eu fui lendo e me identificando....mas sei lá hj to besta e de bom humor...então só posso dizer:
ser intectual dói!
e me dá meu 1/4 de lexotan! (/aline durell)
http://www.youtube.com/watch?v=CWyINje7e5E

Oliver Pickwick disse... @ 20 de abril de 2009 às 18:56

Imagine, então, quando começar a escrever "a sério". Não precisa de métrica nem de tempos verbais, pois este texto extrapola a gramática, é "escultural". Esculpir é dom artístico, e dispensa aprender a rimar "amor" com "dor".
Continuo freguês da sua técnica.
Um beijo!

Paula Barros disse... @ 20 de abril de 2009 às 21:26

A palavra extrapola o ser, adentra, escreve, reescreve, mostra, esconde...a palavra...é sempre muito mais que a palavra.

beijos mil

Vivian disse... @ 20 de abril de 2009 às 22:57

...existe algum adjetivo
maior para se dizer
'extasiada'?

é assim que me sinto
quando posso ler você.

adoro...

adoro

bj

Vanessa Anacleto disse... @ 21 de abril de 2009 às 11:43

Mai , lindo texto , como sempre e ah, como eu gosto do Klint.


Bom, estou aqui para convidar você a votar para escolher os três blogs que ganharão um livro da Editora Zahar na Blogagem Coletiva - Dia Nacional do Livro , quem foi seu Monteiro Lobato. São 8 blogs concorrendo com textos belíssimos. Apareça por lá , leia os textos e vote com uma breve justificativa.
http://fio-de-ariadne.blogspot.com/2009/04/bc-monteiro-lobato-lista-de-votacao.html

Abraço

Átila Siqueira. disse... @ 21 de abril de 2009 às 12:34

Oi amiga, eu adorei o seu texto, todo inspirado em uma visão meio urbana de mundo. Ontem eu estava escrevendo um poema sobre a urbanidade e os pensamentos do meio urbano.

Muito agradável ler-te.

Um grande abraço,
Átila Siqueira.

Filipe Garcia disse... @ 21 de abril de 2009 às 13:08

Mai,

tomo suas palavras como um gole de liberdade. Quis ser poesia nelas, quis alcançar o mar, a inteireza das cenas urbanas, quis ser pescador. O que é liberta-se se não escrever bobagens? Trata-se disso: transformar. Quando, quem, como quiser. É de mágica que você fala. E eu provo junto. Aprovo também.

Um beijo, Mai.

Sinto falta.

Jaquelyne Costa disse... @ 21 de abril de 2009 às 14:20

Olá!
Eu gostei muito daqui!
Parabéns pelo blog!
Um grane abraço!

Luna disse... @ 21 de abril de 2009 às 15:02

Até podemos ser mar, ou vento, terra de espuma fantasia, podemos vestir o manto de estrelas e ser fada, sereia, deusa ao luar, podemos quadros pintar, histórias escrever, o mundo fantasiar, só ainda não podemos nos enganar, cantar para nós o hino à alegria, se sentirmos o coração a chorar.
Como sempre esta lindo o teu texto, forte, cada um de nós se pode rever em uma parte no final somos todos diferentes mas tão iguais
beijinhos ternos

Rocio Rodi disse... @ 21 de abril de 2009 às 16:47

Fantasmas urbanos que assolam as realidades que se materializam nas fissuras andantes e nos assombram com as possibilidades de serem mais humanos que nós, que teimamos em dizer que somos lúcidos e éticos.

Muito bom texto, adorei aterrisar por aqui e encontrar-me em tais tessituras... e texturas ainda impregnadas!

"Sonhos semeando o mundo real".

Continuemos.
Abraços viandantes!!!

Paula disse... @ 21 de abril de 2009 às 18:19

Eu sou!!!
E tu também!!!
beijos grandes e abraço salgado
Paula

Quintal de Om disse... @ 21 de abril de 2009 às 19:30

Tu és a própria palavra.

Esala o próprio poema da vida e compartilha a beleza de ser o que é, nas linhas e entrelinhas pintadas e embaladas na rede dos teus versos!

Beijos em tua alma!

Bruna Isidoro Sampaio disse... @ 22 de abril de 2009 às 10:03

Mai...

Sabes que és ótima escritora, poetiza, filosofa...
Sempre que eu puder vou citá-la, a cada texto que leio vejo muitas frases ótimas para serem usadas durante o dia,durante a vida.

Obrigada pelo o elogio, fiquei muito feliz por isso!

Grande abraço moça!

Quintal de Om disse... @ 23 de abril de 2009 às 18:10

ôoooohhhhh dilííííciaa de bão!!!! rsrs

Não há nada melhor que encontrar pelo caminho pessoas assim. Ainda mais nesse mundo que sinceramente, nem é tão virtual assim!

Adorei.

Beijos na alma!

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