Inspirar-Poesia, um segundo sopro

malemolente

Por Sueli Maia (Mai) em 9/15/2009
Palcos. E os espaços públicos estão repletos de gente apressada, casais estressados que junto com as pedras, chutam, seus amores e paixões. Mas sempre apressados, sob lentes escuras, disfarçam olhos vermelhos e amores havidos em idas sem volta. Lembro que em um carnaval vi desfilar, no enredo de uma escola, uma dessas tragédias na apoteose. Mas nunca estive tão próxima de algo semelhante. Dramático e ao mesmo tempo interessante, assisti de camarote uma cena incomum pelo fim do final, em tragicomédia. Ela era alta, bonita com a malemolência comum das mulatas cariocas. E chegou, porque sabia chegar, numa minúscula saia jeans e um top que só cobria o necessário. Ele, igualmente bonito e alto, parecia estar aflito mas não disfarçava um sorriso moleque. Entre o seu argumento e a escuta do que ela dizia sem qualquer segredo ou disfarce, ele parecia se divertir com um jeito displicente. Ela sacudia os ombros e girava um chaveiro que mantinha na mão. Inevitável foi ouvir aquele adeus provocativo. Em tom ameaçador ela dizia você vai babar e eu vou dizer que não. Alem do chaveiro e dos ombros, ela balançava as ancas, gingava e fazia babar não só ele, mas os homens que ao redor não disfarçavam. Uma imensa platéia no aeroporto. Por fim ela gingou e girou e, com uma lenta malemolência, se foi, desfilando sobre o salto, o seu rebolado. Ele, com um sorriso nada trágico, limpou, porque babava e correu. Não pude ouvir o final, mas antes do embarque ainda vi, o beijo apocalíptico do casal malemolente.
.
Música:
Maria Gadu - baba
Céu - Malemolência

18 comentários:

Tata disse... @ 15 de setembro de 2009 às 21:33

Oi Mai,

Bom....se acabou em beijo então tá bom!!!!!!

Fazer alguém babar de vez em quando não faz mal à ninguém!!!KKKK

bjinhos

Anônimo disse... @ 15 de setembro de 2009 às 21:52

Muitas vezes os casais estão apressados demais para zelar por seu amor mesmo. Que lindo conto! Vc escreve muito bem. Beijos.

Dauri Batisti disse... @ 15 de setembro de 2009 às 21:53

Bem, se se entenderam, okay. O que importa agora é o seu texto, a escrita, seu olhar transformado em signos. O que importa é este fragmento de tempo condesado em palavras.
Escrever é um modo da gente fazer arte da própria vida, não?

Beijo.

Unknown disse... @ 15 de setembro de 2009 às 22:17

muito bom o conto! ou diria o causo? =)

bjos

Erica de Paula disse... @ 15 de setembro de 2009 às 23:12

Vc me abandonou mesmo né?

Saudades*

Lindo texto!

Bjos

Vivian disse... @ 16 de setembro de 2009 às 00:10

...se em Brasília tudo acaba
em pitzza,
em bons romances só pode
acabar em beijos...não é, linda?

Elcio Tuiribepi disse... @ 16 de setembro de 2009 às 06:20

Acho bacana esses observar e absorver cotidinos para depois colocá-los no papel, e isso você faz com a facilidade que Deus lhe deu com a escrita, eu tento também as vezes e me apresso em encontrar um papel e uma caneta para não perder alguma palavra...sou super esquecido...rsrs...a idéia fica, mas algumas palavras fogem...rsrs
Que a felicidade continue rondando a alma do casal aí e as nossas também a espera de um convite...Bom dia Mai...um abraço na alma...bjo

Jacinta Dantas disse... @ 16 de setembro de 2009 às 07:10

Sabe, Mai,
o bonito no viver é que, com todas as adversidades, sempre existe o encontro ou reencontro...A gente só precisa enxergar o ponto certo. E a gente enxerga, acertando-se no ponto em que há malemolência.
Beijo

lula eurico disse... @ 16 de setembro de 2009 às 11:09

A malemolencia das palavras em língua portuguesa... lindo, Mai. E lindo o que se faz com o tema da sensualidade, quando se sabe seduzir... com as palavras, também.

E a Maria Gadu é tudo de bom! Estou babando com essa voz de timbre de menina e de mulher. Viva a música brasileira, que sempre se renova!

Abraão Vitoriano disse... @ 16 de setembro de 2009 às 11:24

Mai,
esse acontecido é bem Brasil...rs

a gente se mostra porque sabe ou acha que pode... e no final, a ginga e as pernas mulatas é que ganham destaque...(merecido por sinal)

todo charme de ser na avenida, e o equílibrio na salto da vida...!

um beijo em tu
que és grande
e me banha todo...

do teu sempre menino-homem.

Paulo Tamburro disse... @ 16 de setembro de 2009 às 14:53

MAI, estes são os melhores shows da vida, as melhores novelas da oito, pois apesar de não terem a estetaculosidade cênica das grandes produções, trazem na sua essência a verdade do dia-a-dia.

E nada, mais autêntico do que a vida real, com sabores dos enrêdos formatados nos dramas e nas alegria da gente de verdade.

E se for uma mulata então, nossa vai ter diálogo para muitos carnavais.

Um abração Mai!!!

Ricardo Valente disse... @ 16 de setembro de 2009 às 15:35

Um beijo babado, espetacular?
Cada um é dono do seu teatro.
Beijo!

Passageira disse... @ 16 de setembro de 2009 às 17:01

Mai,
se há algo que me dá um put prazer é ler um conto bem contado. Destes que ogem à narrativa comum e linear. Como este seu: perfeito! Vc ressalta nuances que pareceriam despercebidas a um obsrvador comum e as coloca num estilo tão bonito que é dificil não babar! rs...
Beijo, moça

Anônimo disse... @ 16 de setembro de 2009 às 17:08

A palavra malemolencia sempre me lembrou maria-mole, aquele doce que lembra infância. Que lembra aquelas provocações que faziamos no meio da rua pra depois irmos bricar juntos. E depois comer maria-mole na casa da vó. E falar besteiras, e fazer nojeiras... tudo por causa da maria-mole.

A morena sabia o que fazia... :)

bejinhos

Anônimo disse... @ 16 de setembro de 2009 às 18:04

É, se acabou em beijo, então ao menos deve ter valido aos dois.

Realmente cena como essa não deixaria nenhuma alma em volta não perceber.

Entre a correria diária, e como colocou, no aeroporto, talvez as pessoas confundam aeroporto com centro da cidade em horário de almoço, uma pílula de cena malemolentemente dessa faz o tempo parar. rsrs

Me amarrei no texto.

=)

Mateus Araujo disse... @ 16 de setembro de 2009 às 19:03

É uma pornografia este carnaval. Mas quem não gosta dumas safadezas de vez em quando né ?! skaskaoska
não sei de nada.

kk bj

Cris Animal disse... @ 16 de setembro de 2009 às 19:33

Mai Querida, isso me lembrou aqueles momentos de "asté mais", "até nunca mais", "até talvez" que o outro ou nós mesmos fazenmos questão de deixar uma marca nossa, como se fosse cicatriz de uma momento que deve ser guardado, reverenciado, porque foi vivido de forma intensa; ainda que aos olhos dos outros possa trer parecido um grande palco de tragédias.....rs

Vc e seus textos de longas e intensas viagens"!

beijos

Luis Eustáquio Soares disse... @ 22 de setembro de 2009 às 09:52

salve, mai, que bem sabe, de um saber órfico, que é o que nos interessa a todos, o órfico saber que diz que saber nosso não saber é um novo saber e que, a partir desse nãos saber que sabe, porque sabe abertos horizonte, porque sabe espressando-se criativamente, corajosamente, que esse, enfim e em começo, não saber que sabe, é diverso desse outro que sabe e repete a trama do medo de morrer, é claro, entregando o melhor da vida à bestialidade do mesmo.
saudações,
belo texto,
luis de la mancha

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