Inspirar-Poesia, um segundo sopro

ouvinte de alto falante

Por Sueli Maia (Mai) em 9/16/2009
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Ouvintes em frequência qualquer e de alguma maneira eu ouço o soluço daquele menino, ainda com medo de dizer que tem medo. Muito cedo há sons de baixa sonoridade ou em alto e bom som os alto falantes amplificam os sons das cidades, nas novelas diárias, em toda cidade. E quando há gritos muito cedo, o sono é agoniado então, é melhor acordar. Quando é manhãzinha, latidos atravessam o universo e em todo lugar há latidos, rasgando o silêncio das noites. E com o sono bebendo manhãs mal dormidas, há Homens, bebendo manhãs, mal dormidas manhãs. Eu ouço tudo e sempre levanto bem cedo e desperto com força a fraqueza de cedo acordar, desde cedo, bem cedinho acordar. E quando ainda é cedo prá acordar, é preciso ter força prá não mais dormir, levantar acordada e seguir pro trabalho, ainda bem cedo. Quando o trabalho chega cedo, cedo, despertam - crianças desacordadas e feito homens com medo, não dormem, não querem dormir o seu medo. O medo acua, cala, recua, afugenta ou faz gritar, qualquer voz como em alto falantes. Eu ouço gritos de acordar, que é prá não perder a hora e acordar. E quando se acorda aos gritos, o coração acelera, o medo vem cedo, aumenta e volta com gritos, no silêncio, no meio da noite, no medo da noite. Mas sempre ouço, o grito de silêncio dos homens amanhecidos no cedo do sono. Me arde os olhos e deixa na boca o gosto de não mais dormir, saber que amarga o beber prá dormir, sem ouvidos de ouvir os gritos nos alto falantes que cedo acordam, o sono de meninos e meninas, quando ainda é cedo.
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Música: Across the universe

29 comentários:

Zélia disse... @ 16 de setembro de 2009 às 21:28

Nem me fale, Mai, sobre a demora em escrever um outro texto. Não é só isso que é ruim. Não gosto, também, de ficar sem visitar as maravilhas de pessoas que a gente encontra por aqui nesse mundo de blogs. O ano não tem sido fácil para mim e, agora, eu acho que estou com jornada quádrupla. Resolvi fazer outro curso na Universidade. Agora, eu sou aluna de LEA (Língua Estrangeira Aplicada as Negociações Internacionais). Não caia pra trás. Eu sou louca mesmo! kkk Mas sabe de uma coisa, gosto dessa liberdade que eu me dei de publicar algo quando "desse". Eu sou adepta da liberdade de Foucault. Ahahahaha!

Menina! Já tô falando demais e nada de comentar teu texto. Outra coisa que vc não sabe de mim: eu tenho fama de quem fala "sem vígulas". Hehehehe! E, antes que eu esqueça, obrigada pela visita. Senti algo muito forte ao leu teu comentário. É uma alegria imensa, forte, diferente e extremamente prazerosa saber que alguém te visita não por "curiosidade" do novo mas porque, simplesmente, é bom estar ali. Obrigada! Sim, o texto!

Perfeita a tua história de ouvir "gritos de acordar". Também ouço meus gritos de acordar e ainda assim, tá difícil acordar. Sabe, ocasionalmente, eu vou mudando esses "gritos de acordar" para que eu não fique mais louca do que já sou. kkkk

Eu acabei de comentar com o meu marido sobre essa questão do som e de sua importância em nossas vidas. Tudo está em torno do "som". Até mesmo o silêncio que é "ausência de som". Eu tenho uma sobrinha que completa 8 meses amanhã. Ela nasceu em Salamanca-Espanha e eu fui até lá para vê-la nascer. Até eu voltar eu conversava muito com ela, contava histórias, falava sobre a família que ela encontraria aqui no Brasil, cantava para ela... Agora, ela está aqui e como a família da mãe dela é de Recife ela fica muito pra lá e pra cá. Tá difícil para ela memorizar tantas caras. Meu marido tá choramingando pq ela o estranhou um pouco e a mim ela não estranha. Passo horas com ela longe do pai e da mãe e ela nem nem. Eu já sabia que os bbs se ligam muito nos sons e como não sou besta tratei de deixar minha voz registradinha na cabecinha dela. ;)

Menina! Não sei se blog é lugar de "carta" mas eu uso da "liberdade" que eu acredito que me caiba. Adorei o texto!

Beijo e até a próxima!
Desculpa qualquer coisa... :D

Lobodomar disse... @ 16 de setembro de 2009 às 21:34

Uau!

Maravilha de texto escrito com maestria. Não é só um jogo de palavras. Mas, sim, uma reflexão filosófica, em que o autor faz uso do jogo de palavras para ampliar - e tornar concreta, no próprio texto - a angústia dos homens que vivem com medo - uns gritanto, outros não.

Lembrei-me dos velhos textos geniais, do tempo da ditadura militar, em que os escritores tinham que usar mil artimanhas para 'driblarem' os homens da censura.

Adorei. Li mais de uma vez, para ver se aprendo um pouco dessa técnica.

Quanto ao conteúdo, indispensável a qualquer mínimo pensador.

Muito obrigado por esse espetáculo.

Grande abraço!

Macaires disse... @ 16 de setembro de 2009 às 21:40

Eu gostaria muito de poder despertar com força a fraqueza de acordar e ter força pra não mais dormir. Na Verdade sou noturna, só tenho sono de dia e, por isso, sei bem o que são manhãs mal dormidas!
Os sons, no alto falante da vida, ou nos assustam, ou nos fazem relaxar!

Belíssimo texto, querida!
Grande beijo!

Lara Amaral disse... @ 16 de setembro de 2009 às 21:57

Me deu até sono ao adentrar em seu texto, pois não consigo acordar cedo, o "cedo" é o terror para mim, mas somos obrigados pelo trabalho...
Seus textos são de uma beleza! Eles gritam com a gente, e depois que acaba a leitura, fica-se na dúvida se era o eu-lírico o eu-mesmo.

:.tossan® disse... @ 16 de setembro de 2009 às 23:55

Meu Deus estou em outra sintonia! Estou de folga por um ano. Belo texto viu? Gosto de te ler e você sabe disso. Só preciso estar sempre sóbrio pra te comentar bonito, não é o caso de hoje. Beijo

Germano Viana Xavier disse... @ 17 de setembro de 2009 às 02:31

Texto-Edward Munch.

Meu carinho, Mai.
Sigamos...

Ilaine disse... @ 17 de setembro de 2009 às 03:37

Mai!

Sons e medos, cedinho.
Ainda madrugada...
Muito lindo o texto, Mai!

Abraço

Beto Canales disse... @ 17 de setembro de 2009 às 09:30

Legal!

Márcio Vandré disse... @ 17 de setembro de 2009 às 09:34

Acordamos todos os dias.
Mas nem sempre acordamos a alma.
Ela fica ali prostrada na cama, esperando uma luz divina, que não chega, pois a janela é um muro e não brinda com nenhum raio solar o cenho de quem está para acordar.

Vida nada fácil. Vida.

Um beijo, Mai!

Ricardo Valente disse... @ 17 de setembro de 2009 às 14:13

Eu tenho uma tática para pegar o sentido do texto e não me perder de você. Leio rápido.
Você é rápida. Solta pedacinhos, tenta enganar - no bom sentido se fazer perder - como João e Maria marcando caminho de volta.

Abraão Vitoriano disse... @ 17 de setembro de 2009 às 16:18

despertar
e os gritos exclamam...

um beijo nesta alma repleta de sentidos bons,

do teu menino-homem-resumido...

Unknown disse... @ 18 de setembro de 2009 às 07:21

Oi Mai!

De volta, me deparo com esse maravilhoso texto-prosa-poesia!

Me identifiquei tanto com o menino e com o seu medo, como os que sentia em minha infância!

Fantástico e de grande sensibilidade!

Parabéns!

Beijos

Mirse

Dauri Batisti disse... @ 18 de setembro de 2009 às 07:41

Ouvinte de cedos,
ouvindo medos,
outros segredos.

Gritos do universo
na boca fraqueza
de meninos e manhãs.

O que cala, nunca recua,
faz as horas e faz os dias.
Ainda é cedo, tarde todavia.

***

Bem, tento assim, sem razão, dialogar com suas palavras.

Um beijo.

Elcio Tuiribepi disse... @ 18 de setembro de 2009 às 17:29

São os ruídos...os ruídos...eles gritam e gritam forte, o pior é que as vezes não consigo realmente traduzi-los fielmente, sempre fica algo por escutar e também dizer...isso quando as palavras não se vão ao vento...
Um abraço na alma Mai...bjo

Adriana Riess Karnal disse... @ 18 de setembro de 2009 às 18:50

bonito, bate e volta...

Letícia disse... @ 18 de setembro de 2009 às 21:28

Mai,

A Zélia te achou... fico pra lá de feliz porque ela é A Mulher que Sabe Ler. E eu tenho medo de ter medo. Sempre tive.

E você escreve prosa poética, Mai.

Beijos da sua paciente favorita. =)

Luciene de Morais disse... @ 19 de setembro de 2009 às 00:58

Sueli, eu gostei. Muito, mas muito bom esse texto. O que diz, e como diz. Bacana, mesmo!
E a música que você escolheu é linda.
bjks

Unknown disse... @ 19 de setembro de 2009 às 15:05

UAU!!! Sempalavras!! Ainda mais com Across de Universe! Viu o filme? Bjs

Nade T. disse... @ 19 de setembro de 2009 às 18:07

Mai, menina, lindo texto! Jogo de palavras sensacional! Não gosto de sentir medo e nem de acordar cedo... Brincadeiras à parte...
Não conheço esta música, muito menos o tilme, como sugeriu o colega Márcio... Vou já pesquisar!
Bjs, querida!

Monday disse... @ 19 de setembro de 2009 às 21:59

Nunca aos berros para ti, Maizita, sempre de uma forma que lhe faça os olhos abrirem sem que o corpo se sinta em sobressaltos ...

Talvez o acordar da manhã seja a hora de maior dúvida no dia, pois a vontade de virar-se e voltar-se ao mundo dos sonos sempre se mostra presente ...

Por falar em estar presente, sem os alto falantes da manhã a lhe narrar, cá estou eu por aqui de novo, embora só saia para voltar novamente.

Não diria que é falta de tempo, apenas o uso de parte dele para alguns outros afazeres que ora se mostram necessários.

O CD caminha para a fase de estúdio e em breve terás as melodias das letras que já leste. Creio que gostarás, afinal, nem só de escritos se faz um livro, não?

D Z disse... @ 19 de setembro de 2009 às 22:32

Oi Mai...

Seus textos continuam encantadores como sempre!

Bjs!

Dany Ziroldo

Maria Dias disse... @ 20 de setembro de 2009 às 09:18

Olá senhora das belas palavras...Passando para te avisar q tenho uma surpresa pra vc no meu Avesso viu?Apareça lá!

Beijocas e um excelente domingo!

Maria

P.S. Volto com mais calma depois,Ah ADOREi as cores novas do tel blog, ficou bem mais agradavel de ler tuas belas palavras!

TERE disse... @ 20 de setembro de 2009 às 19:47

Votos de bom fim de Inverno por aí.

Abarço de carinho.

Tere

Márcio Almeida Júnior disse... @ 20 de setembro de 2009 às 21:27

Mai,
Seu "Eros Resoluto" é instigante para o pensar. Se não me engano, há algo de Heidegger na sua dicção lírica, que vem ficando mais profunda e, ao mesmo tempo, mais solta. É uma conquista. Saudações.

Anônimo disse... @ 20 de setembro de 2009 às 23:25

Fantástico!
Essa temática toda me arrebata mesmo. Tenho pra mim que o silêncio é o maior grito possível. O meu, pelo menos, me revela. Outros todos que já ouvi quase me deixaram surda.

O importante é saber que há silêncio que jamais será ausência.

Mai, querida
tua presença é essencial.
Meu beijo.

Anônimo disse... @ 21 de setembro de 2009 às 14:41

A música não poderia ser melhor escolha, pro post.

E todos estamos assim, olhos abertos cedo demais, pq o mundo grita, cheio de verdades, dor e ódio.

Que opção teríamos?

Daniel Hiver disse... @ 21 de setembro de 2009 às 15:38

Quem será que tem a cara dos nossos medos e o espreguiçar de nossos sonos?
Quem nos acorda de nossos sonhos com auto falantes de caixas estouradas que parecem voz de taquara rachada?
Quem cria nossos designs?
Quem chora enquanto damos risada?

Batom e poesias disse... @ 21 de setembro de 2009 às 21:20

Sons, medos... tudo tão cedo...

Tudo é assunto para essa canetinha que que dispara rápido e detalha a cena como um flash da câmera fotográfica, que capta e congela o momento do seu jeito surreal.

Você é danadinha, e eu adoro vir aqui.

bjcas
Rossana

BAR DO BARDO disse... @ 22 de setembro de 2009 às 07:39

Eu não durmo cedo nem tarde. É ali, no ponto.

Bom texto, Mai!

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