Inspirar-Poesia, um segundo sopro

teatrália...

Por Sueli Maia (Mai) em 3/26/2009
Olhos sempre vivos isolados do mundo solar. A água escorrendo no corpo e os fios da vida em suas mãos. Suas pernas descruzavam impacientes no vestido de organza. Os dentes mastigando as unhas e os ossos virando pó. Figueiras travaram a língua nos desgastes das blasfêmias. Acordes dissonantes nas canções das madrugadas e os suspiros do cansaço. Carrancas e máscaras largadas e os crisântemos murchando no jardim. Uma cápsula de lagarta pendurada e nos mistérios do morrer, um casulo cintilante a espera de abrir. Entre louças e biscuits, uma boneca em miniatura enterrada em lençóis. Beijaram-se diáfanos mas não falaram nada naquela despedida. Descerraram-se as cortinas, as pálpebras caíram e o teatro de bonecos cheirava a naftalina, outra vez.
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Imagem Google - Teatro de Bonecos

fotograma...

Por Sueli Maia (Mai) em 3/25/2009
Como no filme de Godard, não era amor. A beleza do plano semiótica perfeita e nada convencia. Cenas de amor vazio e era clara a possessão. Do sonho à queda e na sequência a ilusão.
Como no filme, as horas do dia e os quadros na fita serão sempre vinte e quatro nas hora, eternidade e no impossível de ver as imagens em separado.
Como no filme de Godard a sensação de movimento, uma odisséia. O eu te amo e o vazio. Como no filme, era desprezo.
Imagem Google

estrangeiro...

Por Sueli Maia (Mai) em 3/25/2009
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Acenos ausentes e desamor na despedida. Ao norte a pesca dos sonhos e a falta da Pátria entre o pacífico e o atlântico. Na térmica celeste o baile das aves migratórias e o adeus. Não há presságios, somente as mãos. Na solidão que cresce, um coração emigrante e pouca pressa de voltar. O estrangeiro habitando e as rotas, todas rotas, não cabem mais. Está cansado, carece um porto prá ancorar. Ainda ama, ainda sonha e quer voltar... E chega o dia. Um estrangeiro em seu País, atraca ao cais...
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Fotografia: Tossan
Música : What a wonderful world - Katie Mellua
El Farol - Carlos Santana
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dribles no estresse cotidiano...

Por Sueli Maia (Mai) em 3/24/2009

Um jogo de cartas e o drible de um gênio. A paciência veste branco e preto e anda sem pressa a espera da hora de chegar. Discreta rebola suas ancas, macio e devagar. E passa a bola, cede o gol e em tempo, seu time é campeão. Equilíbrio e tolerância aos erros são tão importantes quanto nobre, é ser persistente e companheiro. Mas o estresse desgoverna as emoções, debilita as intenções e desordena as convenções. E a impaciência é humana, veste roxo e não requebra. Mas quebra qualquer um, só com o olhar. Conhece bem sua humanidade falha, e fala menos nessas horas. Mas descontrola a expressão e, irritada, ela era muito, muito engraçada e ria de si, após cada cena. E seu rubor febril era ímpeto e fátuo. Em dois minutos ela ria dos seus surtos pitbull, porque sabia que dela dependia as doses de humor, o riso e o ritmo dos dias a seguir. Deixava para trás as traves e as pedras. Pacífica mas no ataque, a impaciência encontrou um artifício razoável (embora esdrúxulo), para expurgar as doses diárias de absinto que era obrigada a engolir. Brigar com o nada, na inútil surdez das coisas, foi sua opção. Assim penavam sua fúria, a mussarela fatiada e grudada, o Google e o blogger, os chatos globais e a inutilidade televisiva, o lixo das praias, os desvarios de princesa, a cadela real da vizinha e os ‘escandalus brasiliensis’ dos parlamentares de 'Cesar-Inacius', também. E foi assim que lembrou algumas de suas pérolas e o bom humor voltou à ordem do dia. E perguntou o que queriam para o jantar e contando até UM, decidiu: – demorou muito. Vamos todos comer macarrão! E perguntaram-lhe sobre o consumo de álcool e ela respondeu: - Vinho é fruta fermentada. Brandy é vinho destilado. Retira-se a água e você aproveita. Cerveja é feita de grãos. Então beba se quiser e se puder mas não entorne, não chute o balde, não encha o saco! E perguntaram sobre o chocolate: - Cacau é fruta boa e das sementes secas, a pura felicidade, a obesidade ou a aceleração cardíaca. Depende da dose. Seja feliz mas não enfie o pé na jaca! A paciência voltou ao jogo e ela lembrou que corpos saudáveis e mentes sãs, são perfeitos. E a vida não precisa ser uma viagem monótona, triste e chata. E que não se chega ao túmulo, são e salvo. Mas estava bem humorada e pensou no que diria a impaciência, e arriscou: - Melhor viver a vida com alegria e chegar velho, exausto, mas feliz, com o corpo gasto e usado no viver. No dia 'D' voar pelo ar com balões coloridos, gritando: Valeu! Uhu! Que viagem...E ninguém chora! E vai embora sem sentir... E concluiu: - Viver vale à pena. Viver de tudo e com paciência, alegria, tolerância e equilíbrio. E caminhar é bom mas que não se anule e apenas viva caminhando, porque carteiros caminham todo tempo, muitos dias e não são imortais. A paciência é sábia mas a impaciência é engraçada e é humana.
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Imagem Google
Drible de Garrincha
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Imortais, eternidade - imortal_idade...

Por Sueli Maia (Mai) em 3/22/2009
..............................O verbo clama e eu vivo da palavra e amo as Letras. Na rota da viagem uma estalagem e o vinho do escritor é a palavra e seu ofício. Tejo é porto e é um lagarto - tejuaçu que vive no sertão. Aqui o Homem à procura do novo, a renúncia e uma história ímpar, palavras iguais na linguagem que é vaga. Na escassez das palavras o vazio e as letras. Na falta de pontes, um salto no escuro. No rigor da perfeição ele respira linguagem e signos. Sol a pino no areal de bugres. Caraya, Mucuripe e linho. Carnaúbas, Jandaias e cabaças. Repentes e pífanos. Baturité. Terra da luz, verdes mares e Guaramiranga. Torre Eiffel e Montevidéu. Romance e imortalidade. Encontrar a palavra e no silêncio, o papel e a solidão. Imortal é a obra e o livro não é o autor. E ele sofre? O autor desaparece ao publicar a história. Então carece humildade e desapego. Então é amor o mais puro e imenso amor - amor literário. A criação literária evoca amor e retribui o prazer generoso a todos os leitores e amantes. É que o prazer verbal precede o físico e um livro nasce da paixão, da inquietude, das perguntas e apenas uma possibilidade de resposta e uma chance de conseguir o feito. Ao encontro da palavra o leitor e o arrepio. Respira vidas e sente a vertigem, na busca da morte adiada, na obra que um homem eternizou - a grande obra de sua vida. E ela é escrita em noites não dormidas, na agonia de experimentar os trajetos e refazer os caminhos do real. Única. Para mim, mais que biografias ou romances, escritores e poetas, há calvários em vida e há descasos e muitas vidas nas estantes da imortalidade.
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Fotografia: S.Maia
Música : Intrumental Joe Satriani, Lenine, Súplica Cearense
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Na fotografia: Cantos de outono - o romance da vida de Lautréamont
Ruy Câmara - Editora Record
Um dos melhores e mais impressionantes livros que li, nos últimos tempos.

ad vinhos...

Por Sueli Maia (Mai) em 3/21/2009
Vinhos podem ser tintos, brancos, roses e esses podem ser suaves, doces, secos. E há minúcias e há safras...Vinhos podem brindar a alegria ou a tristeza. Vinhos podem ser bons ou não, mesmo os caros. Vinhos podem deixar um gosto amargo na boca. E a tristeza pode ser tinta e amarga, mas não é déficit. Mas pode ser a apropriação indébita da alegria que se poderia ter. Pode ser o riso adiado na existência e o medo de não se poder viver o bastante. Pode ser a fissura subterrânea no coração de um Homem. Pode ser o arrependimento pelo estrago prematuro, agora velho demais prá sorrir o hoje e o amanhã. Pode ser a lembrança da escalada adiada na preguiça desmentida, no aconcágua da vida. Pode ser a fratura de um amor sacrificado na desconfiança de um só. Pode ser a paralisia covarde que se apega aos lábios, impedindo-os de se aproximarem das orelhas. Pode ser a rigidez plástica de quem não sabe brincar, cantar ou dançar. Pode ser a teimosia que não quebra o disco de ouro da saudade. Pode ser a memória genética da posse e vingança, que congela em nitrogênio, o passado. Pode ser um fantasma sentado na sala à espreita de endorfina e melanina, enquanto eu brinco de viver feliz. Pode ser um curativo com Band Aid ou a contenção de um espartilho. Pode ser o muro que separa a infância, enquanto eu brinco nas árvores do quintal. Pode ser a etiqueta guardada na roupa, enquanto eu ando de jeans. Pode ser a música que deprime enquanto o rádio toca música latina. Pode ser só fantasia, enquanto eu visto a alegria do personagem principal e com ele eu danço a música contagiante dessa vida...Pode ser isso ou nada disso. Os advinhos tentam saber porque tristeza e não alegria? Gosto de vinhos. Não os caros, os bons...
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Fotografia: Tossan
Música - Santana
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dormentes...

Por Sueli Maia (Mai) em 3/19/2009
................................Viver custa caro. Da pouca alegria, ainda havia uma lonjura e muita dívida a ser vivida em pé. Os carrapichos no vestido rasgado ainda machucavam a pele. Havia lixo, dormência e indigência. Havia terra e nada mais nos trilhos. Nos garranchos da letra o retrocesso da fala, os sujos cadernos e as sobras do álbum, desorganizado para o futuro. Havia marcas dos dedos nas coxas e pouca coisa no eixo. Despossuída a casca fugiu, imóvel e sem pernas. Os joelhos condoídos da cilada, sustentaram os pés descalços e a partida. Refugou o odor fermentado dos braços e cuspiu a terra e o grito perdido do parto. Deitou suja da manhã sem vestes. É difícil estar inteiro quando se perde as partes. E segue, vivendo e sorrindo, nos trilhos e nos palcos...
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Arte: Chagall

intrépidos, segredos do palco...

Por Sueli Maia (Mai) em 3/17/2009
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Intrépida essa vida forjada na arte. Palavra esquecida, memória sem voz. Tributo de um artista aos palcos e seus mistérios. Régias as palavras e as falas. Segredos das linhas decoradas, nos espelhos e nos camarins. No script a cena e o drama. Da coxia aos holofotes da vida, os cenários e as paixões. Guardar timidez, vestindo em goles de Rum o doer da personagem em cena. Fim de ato, aplausos sem foco, sem fogo, sem chama, sem fome ou contorces de um no outro. Na escuridão, a cortina que cai. No final, atropelos encenados no deboche que esfumaça o riso. Do texto, a sede quando a cena encerra e a platéia e tu te vás. Te espero nesse palco, outra vez.
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Arte Jacques-Louis David
 

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