..........................Domingos são dias longos e a solitude é que o sabe mensurar em suas dores e fomes. Dias amanhecem cedo e os jornais estampam o mesmo e o sempre. E hoje é Darwin. Ali o ilusório e o real na crônica sobre a morte do Robô de um sériado-ficção americano que chegou ao Brasil no final da década de 60 (eu não estou louca. Robôs também morrem). Bob May foi o ator (por trás ou por dentro) que interpretou o robô da série Perdidos No Espaço (não é coisa da minha geração porque a fox, veicula até hoje). Ingenua e erradamente, eu pensava que o tal robô era uma máquina. Mas era gente, era Bob May. Quando menina brincava viajando pelo espaço (imaginativa que só vendo) e intergaláctica eu era Penny e odiava o Dr. Smith (o velho era metido a sofisticado e tinha cara de psicopata). Menina eu cria e ainda, que de alguma forma a ficção, por ser inventada, é repleta de verdade. Com garbo (sem sê-la), eu era a roteirista e produtora de filmes inteirinhos e os projetava nos pedaços de película que restavam dos cortes do cinematógrafo da cidade (produção barata. Eu comprava com dinheiro de papel de cigarros – fediam à beça). Era a festa da imaginação. Mais tarde passei a compreender que os cineastas são espécie de Nostradamus. Filmes de ficção parecem ter sido concebidos por alguém que tem a primazia da antevisão de um caos ou de uma realidade que só na arte se acessa e transita (me queimariam outra vez em alguma fogueira, mas, não sou tonta. Eu negaria para sobreviver). Bem mais tarde nós mortais poderemos, ou não, ver nas ruas aquilo que há anos vimos nos cinemas ou lemos nos livros (tenho a tendência de pensar que por mais inverossímil que pareça um filme, a qualquer momento, aquela ficção poderá se confirmar como a mais inteira e plena verdade). Assim não me assutei com os implantes e transplantes de órgãos ou membros e nunca tive medo de Frankstein,(queria defendê-lo. Sempre vi um ar de bondade naquele ‘monstrengo’. Um simples afago e ele quedava seu pescoço com vergonha...) Assim entre o seriado e as viagens aeroespaciais, para mim, nada havia de novo. Aquela odisséia já havia sido filmada, era apenas a reinvenção do ululante. Entre o real e o absurdo, chegamos à cyber-dependência-química e não mais a do personagem ‘Will Robinson’ (o garoto era um nerd em plena década de 60), mas das novas (e nem tão novas) gerações. O fenômeno da sociedade em rede me fez retrovisar meus tempos de infante-cineasta e pensei em Darwin, visionando uma geração cyber-humana (homo-solitarius-internéticus) como mutação evolutiva dos sobreviventes do medo do contato, da alteridade, de amar, e sendo máquinas não haveria suicídios ou qualquer tipo de morte, nem mesmo as de amor. Estudos arqueólogos atribuem ao sapiens o genocídio do homem de Neanderthal. E lá se vão mais dois séculos entre a cegueira, Darwin e as bases de sua teoria. Basta olhar no espelho, ficar ereto sobre os pés ou se ater ao movimento de pinça do dedo indicador, que nos quedaremos à evolução. Estupefatos diariamente e em tempo real, assistimos à releitura de Dante e assim caminha a humanidade, perdida no espaço vestindo ‘Prada’ e com alma, irmã gêmea do ódio e egoísmo humano. Perdidos na terra e no espaço e em meio a um caos (o que é pior, sozinhos porque nos distanciamos de nós e do outro, como se tivéssemos mesmo perdidos no espaço) e sem intervenção divina para as escolhas e os equívocos absurdos do humano pois cegos de nossa responsabilidade, não queremos envelhecer e nos matamos antes de adolescermos e matamos crianças, (assistimos a maior estupidez humana - suicídios e genocídios) em plena era das pesquisas genéticas. Tentamos sobreviver mais que isto, temos que sobreviver com coragem para limpar a sujeira das crianças... Bob May era um robô e nada mudou, mudou? Assim pensei meu novo filme em que Darwin inventava a humanidade perdida no espaço e na supremacia do 'homo-solitarius-internéticus', a extinção do sapiens...
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