Inspirar-Poesia, um segundo sopro

laranjas - um vendedor e um ponteio

Por Sueli Maia (Mai) em 10/31/2009
Olha o trenzinho do caipira, uma famosa brasília e no meio da praça, um vendedor de laranjas, meus olhos atentos, a escolha e o ponteio. Era um era dois era cem e olha o laranja sem graça e o que vale é que, sem trapaça, na praça ainda tem aquele vendedor de Laranjinha doce - quem vai querer comprar laranja? - Ele grita: - olha o fruto da terra que eu garanto é seleta e escolha sem pressa que eu descasco prá você. Não é de mentira é dulcíssima, repare na cor e sinta o cheiro do que é bom. Cuidado com o sumo da casca nos olhos que arde feito pimenta que nos olhos dos outros é refresco. Mas prove esta laranja natural, um autêntico refresco e deixe o sabor se espalhar. Quer saborear? É tão suculenta que escorre na boca um sumo de muito valor que dá gosto provar e comprar, não tem preço esse mimo do céu que, honestamente é boa porque eu escolhi como se fosse para mim. Olha a laranjinha doce, senhoras e senhores é uma laranja de verdade. Olha um, olha dois, olha cem pregoeiros de valor. E em princípio era um trenzinho caipira e quem vai querer comprar laranjas? E quem tem mais valor? Eu ponteio.
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Música:
Hamilton de Holanda - Trenzinho Caipira, Ponteio, outros
Almir Sater: Luzeiro

media - um pão com manteiga e twitter

Por Sueli Maia (Mai) em 10/29/2009
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Genesis, babel. Manchetes de um jornal e ninguém mais se entende no mundo ou na mídia. Media e um pão com manteiga. Por favor, baixe o tom pois eu ouço em alto e bom som. É o gorjeio de um pássaro, ele twitta e eu paro prá ler a manchete mas ouço um twitt! É um pardal com o seu chirp! Pressas da modernidade, tudo é fast e meu breakfast foi uma media e um pão com manteiga. Nas palmeiras da terra brasilis, um sabiá canta alto e parece que tem um twitter na goela. GO! Ela vai é uma fera e eu ouço assovios prá ela e não dou nenhum pio. E somos modernos, mas ainda escrevo e posto com selo em correios, por puro capricho. Bicho do mato acanhado, durmo em redes e fui para a rede twitter pescar. Tanta língua se fala por lá... Eu li - ich brauche mehr, e o que eu posso fazer em alemão? É babel! Dou-te o céu. Mas por lá, 140 caracteres – é o limite! Ora se eu canto e esbanjo palavra, ainda sou estrangeira de mim... Mas aqui não é o twitter, não preciso ser concisa com minhas bobagens. Psssiu... Já ouviu o twitt?
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Música: Across the universe

jabuticabas para Hemingway

Por Sueli Maia (Mai) em , 10/26/2009
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Primavera sem guerras na serra e diante das águas paradas do lago havia peixes, vida, festa e um menino feliz. Caio. Joelhos ralados diante de uma árvore. Esferas negras agarradas ao tronco são frutas que lembram os olhos das índias do amazonas. Até o topo se espalhavam sobre os galhos. Eram firmes como um olhar apaixonado mirando a boca que quer, quando a boca quer doce. Doces e miúdas eram brilhantes como os olhos de quem ama. E quando se ama há sorriso nos olhos e os olhos sorriem aos que amam. E toda coragem e destemor pode levar a fraturas ou morte. Flor do Lácio de Bilac, ora direi que aos olhos, bocas e também aos prazeres da alma há de haver dias de glórias, delícias e diabruras. Então pensei no prazer da conquista, lembrei-me de Hemingway e da última flor que amava Bilac. Bruta menina e miúda sou eu. E lembrei-me do olhar de uma índia que conheço e que, sem qualquer sacrifício, eu amo. Lembrei-me do sentido da vida e que viver aquela glória estava agora em minhas mãos. Mas eu estava apenas diante de um pé de jabuticabas. Uma menina diante de um menino com vontade de, livremente, chupar jabuticabas. Subi. Ser feliz é ser você simplesmente um segundo. Mas filosofar enquanto se está a colher frutos é impróprio. Eu não recomendo. Você pode cair. Caio novamente. Desta vez a ordem era subir e saborear o doce sabor das frutas colhidas no pé. Índias esquecem a dor facilmente. Eu aprendi com ela e esqueci os joelhos, olhei para o alto e respirei uma vida distante da guerra. Jabuticabas aos montes. Então guardei estas para Hemingway e para quem mais quiser, a safra está boa.

Música: Miss Sarajevo

Imagem Google

Cais

Por Sueli Maia (Mai) em 10/26/2009












Deixar o chalet e a calçada prá ver natureza e estrada de chão. Brincar de criança no tempo, vestir power ranger, caçar liberdade e coragem. Ir de motocicleta ou de bicicleta ao mato, sem medo e com o vento soprando uma lógica a favor de um pavio. Desertos e curvas de mim, uma serra e um mar.
Entre eu e o mar, um mundo, um caos e um cais. Quebrar a palavra, o medo e a ordem, com o vento soprando na cara a memória de tudo que sou. É bom procurar e achar outra vez a coragem e a força de dentro. Assombro é miragem que passa com pressa nas sombras das curvas da estrada. Se eu paro e encaro de frente percebo: são copas apenas, aqueles fantasmas. São nada. São árvores, mais nada, por isto não há nada a temer.
O céu desce ao chão, a serra no mar e eu piso à areia. E pego na mão um punhado de areia e solto um punhado de medo em pó e poeira. Coragem é criança que vive - lá dentro - um dia de cada vez. Caio. Mas esta palavra não dói, este nome é alegria, um sol que dorme na serra e a luz, vai de volta prá casa.

Cuidar do joelho e do braço arranhado, nem dói. Porque ela - a alma - é puro algodão e a pressa está calma aqui dentro de mim.

Música: Cais
Fotografia: Sueli Maia
Texto reeditado
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ilhéus do milênio

Por Sueli Maia (Mai) em 10/21/2009
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Ilhéus. Eita tempo medonho que dá arrepio e não se sabe de que. Millennium é uma ilha remota, um atol do Pacífico mas lá não há medo. Medo é o pesadelo do milênio, é um nada poderoso que se esconde com um olhar arregalado. É um vulto que espreita e nunca aparece mas reaparece em todo lugar. E tudo se mexe, assusta e persegue o que fica encolhido. O medo é um covarde que gosta de apavorar quem está só, quando se está só. Medo é a boca de um gigante com fome. É o frio de um alpinista solitário. É o monte aconcágua prá uma formiga. E quando uma só folha cai, arranhando o silêncio, o medo é o bastante para um grito que rasga o espaço feito bala assustando o silêncio mortal. Então o homem, sem voz, grita por socorro com as mãos, o olhar, o pavor e por favor, alguém acode esse homem! Terreno baldio é esta vida, e o medo é o atravessar no escuro um abismo, com nada por baixo e o escuro esconde tudo e nada se vê. A vontade é correr e tudo é pavor. Assovio de vento é fantasma que ri. Coruja que é ave de mau agouro chamando a morte e meu deus, quem vai morrer? Medo é um buraco acima do umbigo, do tamanho da fome do mundo que nada engole e vomita o mundo. E ninguém engole a fome do mundo. Ilhéus do milênio num tempo esquisito que dá arrepio mas não se sabe de que. Calma, você tem medo de quê?
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o sumo e a mordida

Por Sueli Maia (Mai) em 10/19/2009
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Dia branco de se enroscar sob a coberta. Fruta mordida. E a distância distorce o que vê. A injustiça é um espelho vaidoso que estilhaça uma face real em mil pedaços. E tudo se inverte no espelho. O miudo fica grande como um trem parado na velha estação e o outro se apequena e se dissolve feito fruta espremida que escorre em sumo secreto que só se serve em despedidas. Estava na rede acordado e mudo. Tentava fingir o que seria depois de beber o sumo deste dia. Por certo estaria com sede. Ele sempre tem a sede dos desertos. Então preparei-lhe o sumo servido ao mais belo deus do olimpo, que era secreto. Jambo dulcíssimo, vermelho e carnudo. Água adocicada de um côco verde com a polpa picada e batida, tres gomos de tangerina sem pele e gelo que agito, até espumar. Aroma delicado e estimulante, servido em fina taça como um ritual dionísico. Estonteante! E se mortos não movem a face, abriu os olhos e os brancos dentes e antes de se despedir, sorriu, bebeu e satisfeito levou a suave lembrança do sumo. E após o frio dia branco saiu da rede e seguiu. Tudo que fizer que seja feito com amor.
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Imagem: Google
Inspirado em Rã no blog http://sumocomgelo.blogspot.com/
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noviço

Por Sueli Maia (Mai) em 10/16/2009
No viço de um dia espreguiça e acorda com o sol. Sol. Luz de um olho só e uma boca boceja seu viço de cara pro sol. Noviço com vício e preguiça, que prá acordar e despertar ele se espicha e espreguiça, entregando pro sol todo seu viço noviço e iça, o som de um espanto e espanta a preguiça. Prá cima e pros lados espicha e alonga os braços. É um dia acordado com viço. Alonga esse dia que é novo e é bom. Bom acordar e ser dia. Sentir esse dia noviço com gosto de noite ainda na boca. Olhar esse dia e cheirar as manhãs nos seus braços. Abraços. Na boca da noite ainda tem dia. Deitar com a noite bem tarde e enroscar o cansaço de um dia. Bom dia e boa noite, noviço.
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pescando...

Por Sueli Maia (Mai) em 10/15/2009

Rascunho mais do que escrevo seriamente. Escrevo rascunhos e pesco palavras com vida, na vida que a palavra me dá. Pescar é ísca é rede é peixe é mar, mansuetude e paz. Palavras tem aroma, sabores das línguas. Ah! Mar! Gostas de peixe? Sou simples, gosto de ir sendo. Se eu sei, digo que não sei e inversamente, quase pouco sei. Na dúvida eu quero o afeto. O amor que cresce, acresce-me em paz. Eu amo gente e guio-me na vida e na alegria de viver a minha humanidade. Eu amo a vida e amo o mar, vou conduz_indo em correnteza, eu vou. Fio condutor, dou linha. Daquilo que posso e tenho bastante, eu dou. E aquele que não sabe amar, não consegue dar. Só ama o amor que a si é dado. Não ama quem o ama, só ama o amor, daquele que dá. Na rede cega de certezas, há desamares. Em não amar, vacilos incertos e não há peixe nessas redes. Quero-me incompleta, curiosa e viva, pulsando. Peixe pulando, não quero-me erudita. Quero ver tudo nesta vida e saber tudo que não sei. Eu nada sei. Eu nado. Sou peixe com escamas. Sou oceano e peço: - pesca-me? E porque amo, dissolvo-me em palavras e sigo a correnteza sem pressa, vou nas ondas do meu mar de amar... Vejo-me em teus olhos e sinto o céu em tua boca. Em ti encontro a minha loucidez e a luz. Iça-me os lábios, olhos, boca... Fisga-me, segura-me em tuas mãos... E ainda que eu lute e me debata, íça-me, saboreia-me em teus braços... Gostas de peixe?

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Fotografia SMaia

dançando com hamlet...

Por Sueli Maia (Mai) em 10/15/2009
Dançar ou escrever, eis a questão. Eis que a música é porta aberta e pé na estrada e eu, viajando em arabesco, não vou dormir, prá que roncar? Talvez sonhar. Ela pensava - o que é mais nobre, um conventilho ou ir com vento à um bordel? Não há ofélia afogada desafinando em tom pastel. Não cantarei com o fantasma aquela ópera. Eu dançarei, está decidido! Escreverei palavra incerta e neste ensaio dançarei com Hamlet e citarei a minha insanidade. Porque morrer é só uma peça com dois atos. Se eu viajar posso voltar ou não voltar. Eis a questão - Serei, por não estar ou não serei por simples ser em meu estar? Onde enfiar todos os sonhos se o acaso me assaltar sem paraquedas nesta vida? - Meu hamlet, dá-me o prazer de ser meu par em uma dança? Eis a questão. Ser ou não ser menos que um par e mais que um ente, um ser humano? Escrevo palavras difíceis porque me roubaram o tempo. Dou mais um tempo à palavra e ao papel. Neste papel eu serei hamlet ou ofélia? Estou in_quieta pela estréia. Não sinto dor naquele d'ente que eu não tinha. Eu quero um doce escorrendo em minha boca. É doce o mel e o colo. Sem meu colar, dá-me teu colo? Boa questão. Se do guerreiro a esperança, eu sou o molde da etiqueta e da elegância. Estou guardada em meu vestido, semi-aberto e transparente. Iniludível a escolha nesse vôo do pardal. Voar ou não voar? E o que é mais nobre para a alma – ser ou não ser, enlouquecer ou explodir com todo mundo?
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Dança: Grupo Corpo
Música : Arabesque 1 Debussy
Texto reeditado

postiços sapés...

Por Sueli Maia (Mai) em 10/14/2009
Aquela verdade era um olho de vidro com dois cílios postiços e unhas de nylon sem cor. Ela era em sapé com as fomes e sedes bem naturais. Maria do Amparo era noite de chuva nos olhos do céu. Sentava na sala na insônia do quarto crescente sem luas de mel. Do ausente lembrava porque só queria esquecer. Num outono dormindo acordada sonhou que bebia um amor numa cena de safra madura da adega. Vinho íntimo em taça ele lhe serviu e ela o provou. Serviu os nus. Pediu: sorve-me? E baixinho a lareira sorriu e de novo pediu: - acende-me? Meu calor e meus nus aquecerá o bastante nós dois. E Maria do Amparo acordou com os cílios postiços nos olhos de água e com as unhas de nylon cortadas, na palma da mão.
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Imagem Google
Música: No Woman no cry
Reedição
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pragmáticos serviçais

Por Sueli Maia (Mai) em 10/13/2009
Prá que serve o que eu sei
se eu não sei prá que serve
o que eu sei?
q
u
e
d
a
r
a palavra
sub A L terna
terna palavra

suspiros

Por Sueli Maia (Mai) em 10/11/2009
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Claras. Transparência. Branco e neve, suspiros desmanchando nas línguas. Contraste de opostos é o que provo e provoco sendo clara neste instante. Teia de palavras onde a sombra é parte de tudo. E parte de tudo que é sombra é luz que faz clara a sombra. Serei clara como a luz silenciosa das manhãs, rompendo no escuro um dia qualquer. Lembrei de você e hoje decidi ser mais clara. Suspiros! Quis escrever. Enquanto o branco subia em neve eu percebi como crescem as coisas que se bate intensamente. Percebi o incomum. Não se destrói o que se bate intensamente. Tudo que se bate intensamente, cresce. A arte de fazer crescer neve de claras está no bater intenso. E quando guardada no escuro e sem movimento, o que é sombra cresce mais e mais cresce no escuro a sombra. E porque não se esclarece o obscuro, ele cresce sem ser claro. Por favor, não me julgue sem que eu possa esclarecer e dizer o que quis dizer com uma palavra ou outra. Claras são as manhãs ao som de clarinetas e, por favor, não esqueça, lembrei de você com os suspiros desmanchando na língua. Sou confusa no meu caos e preciso ser clara, mais clara do que sou. É incrível, mas em tudo vejo luz silenciosa e por mais singela e clara o primordial é que a luz está ali, chegando devagar como os suspiros feitos de claras que em neve e dourados no forno, derretem agora nas línguas, que degustam em suspiros...
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expansão nos espaços vazios

Por Sueli Maia (Mai) em 10/09/2009
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Espaço de circulação e fluindo entre os dentes, o sorriso é uma idéia genial. E na contra mão da arte, esta arte é a verdade de um homem sem dentes. É expansão. Moeda retida - sem circulação - ocupando os espaços é a contra mão da expansão. Expansão e ocupação dos espaços vazios é apenas um lado da moeda. É um lugar de moeda e planejamento. E sem planejamento, um lugar, não serve à expansão e nem à expansão de um sorriso. E por outro lado a expansão do sorriso é arte que não tem lugar. É o desenvolvimento de um pensamento estético da arte que fica no vazio da beleza atual, mas que não é real. E na realidade - a arte - é o retrato da realidade da vida e do homem em seu natural. E realidade da vida é o que vivemos. E aquilo que somos vivemos. E com o que temos vivemos. E podemos viver em espaços imensos que ficam pequenos porque coisas se acumulam. Dentes falsos ocupam as bocas que ficam esteticamente perfeitas e sem riso. Função do sorriso. Mas nos espaços se amontoa tanta coisa sem função. E há tanta coisa sem função nos espaços pequenos. Ar. Espaços pequenos sem ar. E o sorriso banguela na tela é beleza natural, alegria real que se vê no olhar e na boca sem dentes. Homem natural e a estética perfeita de um sorriso verdadeiro estampado na tela, é o espaço vazio entre os dentes e apesar do trincar de outros dentes esteticamente perfeitos, o sorriso banguela é verdadeiro e feliz. Coisas amontoam os espaços e espaços ocupados com coisas, desordenam cidades. E nós precisamos de espaço. E há espaços de livros e há livro demais nos espaços e Deus me livre! Há livro do qual não me livro e nem quero me livrar. Mas há coisas mais úteis que as coisas inúteis em livros e há falsas verdades em livros. Livrai-nos! E de todas as tralhas que estão prontas prá desabar em cima do mundo amontoado de tudo, livrai-nos! E não há mais lugar prá correr nos espaços sem ar. Circular. Há coisas que impedem de o ar circular. E quanto tempo e espaço teremos para termos mais espaço e tempo para nós e não para as coisas que amontoamos nos espaços e o que nós podemos fazer para a expansão dos espaços vazios?

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Arte: Caio Fernandes - Acrílico sobre tela

a diarista do tempo

Por Sueli Maia (Mai) em 10/06/2009


Mas o tempo é sempre o mesmo, ele é um só.
Um sol que se derrama a cada dia.
É que o tempo não diz, mas o que muda
é apenas a hora de compreender, viver e só então ensinar.
Sueli Maia

Estela é uma estrela e diariamente ela chega ou volta com o sol. Abre portas, cortinas, janelas e depois muda a roupa e vive prá ganhar mais um dia seu pão. Estela sorri, abre os braços, as caixas guardadas, vasculha gavetas porque quer limpar e organizar tudo por dentro. E vem arrumando, de dentro para fora, tirando a poeira das coisas do tempo que só vale a pena guardar, prá usar, construir. Hora de pisar na cozinha, picar o tempero e haja cheiro de alimento no ar. Limpar o chão que se pisa, lustrar a mobília e mostrar todo brilho e beleza do banco que foi feito com a madeira de demolição. Lavar roupas sujas, as louças e as mãos. E depois de decorar o interior e a fachada, perfumar, por dentro e por fora. Recolher todo lixo, separar, destinar. Desapego é o emprego correto é o verbo ideal e o que tiver de ir, deixar ir, reciclar. Renovar é energia. Coisas a limpar e remover do tempo, no tempo certo de ir. Olhar e ver que agora tudo está limpo e por compreender - esta - é a hora de viver. Hora de banhar e receber, usufruir ou guardar, muito ou pouco. Estela faz tempo e ensina que com arte se faz diarista do tempo.


Arte Digital e desenho livre: Tonho Oliveira
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quarteirão das horas do cheiro

Por Sueli Maia (Mai) em 10/01/2009
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Entra menino, sai da chuva. E a terra molhada é cheirosa. Brincadeira na chuva e o sujo escorre com suor e suor de criança tem um cheiro que é azedinho. Cheiro prá lembrar do cachorro que se gosta. Mas o pelo molhado tem cheiro que faz torcer o nariz. Águas de cheiro no corpo e cabelo. Desalinho é lembrar que cabelo molhado tem cheiro. Cheiro do linho na roupa lavada e engomada. Pipoca de longe e de lá vem o cheiro da moça que não volta e que ainda se espera. Cheiro de esperar pai e mãe chegar prá só então tomar café. Café de toda hora na torrefação da rua de trás. Quarteirão onde, sem relógios, as horas se sabe pelo cheiro no ar. Ar com aroma de flores que cedo ou tarde exalam seu cheiro. Meninos e meninas a mascar chicletes e a guardar figurinhas perfumadas nas mãos e mãos tem cheiro de tudo que se pega sem lavar. Cheiros de bem respirar e em todas as horas, na rua de cima, o nome do cheiro era pão. Lá vem grito: - menino vai comprar o pão. Horas de pão quentinho. Olhos de menino com vontade e a memória é a manteiga derretendo no miolo do pão. Pão quentinho. Olfato ordenando a boca que umedece a língua. Memória atemporal e essas horas tem cheiros de lembrar ou de esquecer. Quarteirão das horas do cheiro que aqui se há de lembrar.
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Música: Vanessa da Mata - A carta
 

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