as imagens
Por Sueli Maia (Mai) em 1/30/2010.
Ali o trabalho era minucioso. Com a porta principal ainda fechada, os sons se amplificavam. Passadas e pancadas ecoavam causando incômodo. Por onde entrava, o vento juntava sobre o gesso, o pó e o sombrio. A limpeza das peças sobre o mármore parecia mecânica. Seguras às mãos, estávamos distantes daquele pensamento. Mistérios instigam e desafiam os limites humanos e quanto mais denegada, mais a fé se reafirma no inexplicável de pequeninas coisas. Sobre os meus olhos os afrescos e os vitrais que a clarabóia iluminava. Sob eles, os bancos e outras imagens que se perdiam no silêncio e na contemplação das horas. Ela chegou logo cedo e como sempre flexionou os joelhos e ao passar entre as fileiras, ergueu o olhar, com a mão direita gesticulou um sinal e sentou. - Me ajuda! - Foi o que sussurrou ao olhar-me no alto. Daqui eu ouvi, mas também pude ver que ele - pela porta lateral - entrara, imperceptível às demais. Há instâncias que entre o instante e a eternidade perscrutam, invisíveis. Tomou-lhe pelas costas e disse baixinho: - vem cá, aqui atrás é bem melhor... - Por trás da coluna o que vi foram mãos às coxas, assim que ele levantou-lhe o vestido. Antes que o sino tocasse, ainda ouvi-lhes a respiração e entrecortados, os gemidos e as juras de amor. Aberta a porta ela se recompôs alinhando o vestido. Ajoelhou-se, cobriu-se com o véu e novamente se benzeu. Soprei-lhe no ouvido. Fitou-me e entre dentes disse: – estátuas não falam! Mas caminhei junto a ela até o confessionário.
Ali o trabalho era minucioso. Com a porta principal ainda fechada, os sons se amplificavam. Passadas e pancadas ecoavam causando incômodo. Por onde entrava, o vento juntava sobre o gesso, o pó e o sombrio. A limpeza das peças sobre o mármore parecia mecânica. Seguras às mãos, estávamos distantes daquele pensamento. Mistérios instigam e desafiam os limites humanos e quanto mais denegada, mais a fé se reafirma no inexplicável de pequeninas coisas. Sobre os meus olhos os afrescos e os vitrais que a clarabóia iluminava. Sob eles, os bancos e outras imagens que se perdiam no silêncio e na contemplação das horas. Ela chegou logo cedo e como sempre flexionou os joelhos e ao passar entre as fileiras, ergueu o olhar, com a mão direita gesticulou um sinal e sentou. - Me ajuda! - Foi o que sussurrou ao olhar-me no alto. Daqui eu ouvi, mas também pude ver que ele - pela porta lateral - entrara, imperceptível às demais. Há instâncias que entre o instante e a eternidade perscrutam, invisíveis. Tomou-lhe pelas costas e disse baixinho: - vem cá, aqui atrás é bem melhor... - Por trás da coluna o que vi foram mãos às coxas, assim que ele levantou-lhe o vestido. Antes que o sino tocasse, ainda ouvi-lhes a respiração e entrecortados, os gemidos e as juras de amor. Aberta a porta ela se recompôs alinhando o vestido. Ajoelhou-se, cobriu-se com o véu e novamente se benzeu. Soprei-lhe no ouvido. Fitou-me e entre dentes disse: – estátuas não falam! Mas caminhei junto a ela até o confessionário.
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música: Mozart
imagem: Google