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O mar da minha terra é como eu. Primeiro se arrebenta nos corais e arrecifes, e espraiando no alto se espalha e expande, marcando lugar. E domado ele rola miúdo e mansinho, na beira, na areia, olhando pro sol. O ar da minha terra está em mim. Porque ele inspira, insípido, invisível, as mais fortes paixões. Depois ele exala o tempero e cheiro das índias e suas especiarias. Os rios da minha terra correm em minhas veias, e lembram Veneza que deita seus veios, sem rumo e sem foz. O chão da minha terra é meu plexo, meu nexo, oriente e nordeste, porque é nele que nascem mangabas, goiabas, sapotis e cajás, que no pé, eu trepo faminta e no alto eu pego, o fruto maduro que eu quiser chupar. O mar da minha terra é como eu, nada contém.
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Escrita em 16/12/2008