Inspirar-Poesia, um segundo sopro

hibridos dictos

Por Sueli Maia (Mai) em 1/28/2010
Eleodora alternava seus gestos e humor. Entre o selvagem e o suave, ela era híbrida na mescla das raças que deixaram-lhe herança nos olhos e o indefinido da cor. E mesmo farta das mordidas a doer-lhe às coxas, permanecia vivendo entre os bichos. Na cadeira a balançar ouvia Bach. Quieta, olhava estrelas e enquanto chorava, bebia. Mas se os seus olhos miravam o nada, uma volição quase explícita movia-lhe as mãos ao afagar os pelos do gato em seu colo. Os pés a roçar, acalmavam o cachorro que parecendo excitado se erguia. Esse pequeno espetáculo era encenado todas as tardes e talvez fosse um engodo provocativo aos homens que trabalhavam na construção à frente. Mas poderia ser um delírio o que era comum aos amantes etílicos. Eleodora bebia e delirava e seus olhos transgênicos prenunciavam um cio e com códigos híbridos ela deixava escapar seus devaneios. - Quem sou, que língua eu falo e a que reino pertenço? Gosto de falar sozinha e com as outras e não para me vingar mas para selar o misterio é que eu falo, também, com os bichos e por vezes me entrego aos instintos. Inquietas em mim, a santa e a gata que roça e ronroneia pedindo o que quer. Alimento-me com leite, é doce. – Ela continuava hipnótica com as mãos sobre o gato. E num repente o gato escorregou por entre as pernas e ela despertou e percebeu o seu vestido sem botões até a altura das coxas. Ao seu redor dormiam um homem e os outros bichos. Olhou-me e disse: – Sou híbrida e selvagem. Fitei-lhe os olhos que mudavam numa cor diferente.

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Arte : Mason




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14 comentários:

olharesdoavesso disse... @ 28 de janeiro de 2010 às 12:05

"amantes etílicos" em "ebridade" veem um mundo fantástico do qual não sabem ao certo se fazem parte. São alienígenas enrustidos. Delirantes no mundo de delírios "Quem sou, que língua eu falo e a que reino pertenço?" mas, melhro ainda, "Quem são, que língua falam e a que reino pertencem?" a "Hibridez" sim é humnana.
Beijos entorpecidos Mai, bela mai.

Eu disse... @ 28 de janeiro de 2010 às 12:08

Mai... como é bom mergulhar na sua escrita e se embriagar da sua essência.
Você é linda por dentro e por fora... Adorei ver a sua foto!

Um beijo muito carinhoso

BAR DO BARDO disse... @ 28 de janeiro de 2010 às 17:24

A hibridez... Nós, seres tão anfíbios!...

Unknown disse... @ 28 de janeiro de 2010 às 18:01

Tu me lembraste Orientação dos gatos de Cortázar. Olhos que perscrutam. Beijo.

Anônimo disse... @ 28 de janeiro de 2010 às 18:25

O hibridismo, em âmbitos diversos é, a meu ver, a mais bela forma de evolução dos seres.
Miscigenar não é simplesmente misturar genes. É mexer com modos de ser, ver, saber...
Aqui, a personagem sabia. Por isso, entre os outros bichos que não os animais, divagava.

Para estes teus contos, Mai, trago comigo sempre uma cadeira de balanço... ou rede, quando é tarde... para render-me às tuas imagens.

Beijos.

Katyuscia.

nydia bonetti disse... @ 28 de janeiro de 2010 às 20:26

Somos todos híbridos, a olhar a vida com nossos olhos transgênicos. Criaturas - só não sei se em estado de evolução ou involução. Sempre um processo particular e único. Teus textos nos fazem viajar... Que delícia. :)
Beijo.

:.tossan® disse... @ 29 de janeiro de 2010 às 03:26

Essa é a sua cachaça...Escrever com a alma e a técnica. Beijo

MORDAÇA

Mas só se a vida fluir sem se opor
Mas só se o tempo seguir sem se impor
Mas só se for seja lá como for
O importante é que a nossa emoção sobreviva
E a felicidade amordace essa dor secular
Pois tudo no fundo é tão singular
É resistir ao inexorável
O coração fica insuperável
E pode em vida imortalizar

Paulo Cesar Pinheiro

poetaeusou . . . disse... @ 29 de janeiro de 2010 às 09:12

*
meditativo . . .
li e reli e voltarei,
gostei !
,
conchinhas,
ficam,
,
*

Anônimo disse... @ 29 de janeiro de 2010 às 15:07

relato con un final muy misterioso.
un abrazo.

Taynara Irias disse... @ 29 de janeiro de 2010 às 23:44

Posso pensar em milhares de coisas a cada frase e a cada entrelinha que vou descobrindo. É como um livro que termina, mas passam-se semanas, meses e anos na nossa memória. E a gente fica se perguntando o que mais aqueles olhos estariam a dizer.
Fascinante!

Lindo blog!
Beijos.

Anônimo disse... @ 30 de janeiro de 2010 às 07:35

Mai, que texto incrível!

Amei, de verdade. Adentramos nele como num balanço que sobe, e quando desce, nos enleva!

Vc é ótima! Grande abraço!

Juliana Lira disse... @ 30 de janeiro de 2010 às 12:01

A tua poesia me deixa sem ar!É uma explosão de sentimentos...

Milhões de beijos

Sandokan disse... @ 30 de janeiro de 2010 às 12:23

Os grandes feitos são conseguidos não pela força, mas pela perseverança. Só precisamos de ter força para começar as nossas tarefas, perseverança para não parar no meio, inteligência para terminar e humildade para ver que ficou muito bom e não nos gabarmos.
Tudo o que um sonho precisa para ser realizado é alguém que acredite que ele possa ser realizado. Acredita em ti própria, pois é só tu que te podes alto julgar. Ousa, arrisca e nunca te arrependas. Não desistas jamais e aprende a valorizar quem te ama, esses sim merecem o teu respeito. Quanto ao resto, bom, ninguém nunca precisou de restos para ser feliz. As flores mais bonitas não são aquelas que estão no teu caminho, mas sim aquelas que nasceram depois da tua passagem.
Desejo-te um fim-de-semana repleto de alegrias.
JC

guru martins disse... @ 31 de janeiro de 2010 às 10:45

...belo para quem
observa de fora
o artista que pinta
esse quadro
mas dramático
quase trágico
e inspirador
de compaixão
pra Eleodora...

bj

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