Vinhos podem ser tintos, brancos, roses e esses podem ser suaves, doces, secos. E há minúcias e há safras...Vinhos podem brindar a alegria ou a tristeza. Vinhos podem ser bons ou não, mesmo os caros. Vinhos podem deixar um gosto amargo na boca. E a tristeza pode ser tinta e amarga, mas não é déficit. Mas pode ser a apropriação indébita da alegria que se poderia ter. Pode ser o riso adiado na existência e o medo de não se poder viver o bastante. Pode ser a fissura subterrânea no coração de um Homem. Pode ser o arrependimento pelo estrago prematuro, agora velho demais prá sorrir o hoje e o amanhã. Pode ser a lembrança da escalada adiada na preguiça desmentida, no aconcágua da vida. Pode ser a fratura de um amor sacrificado na desconfiança de um só. Pode ser a paralisia covarde que se apega aos lábios, impedindo-os de se aproximarem das orelhas. Pode ser a rigidez plástica de quem não sabe brincar, cantar ou dançar. Pode ser a teimosia que não quebra o disco de ouro da saudade. Pode ser a memória genética da posse e vingança, que congela em nitrogênio, o passado. Pode ser um fantasma sentado na sala à espreita de endorfina e melanina, enquanto eu brinco de viver feliz. Pode ser um curativo com Band Aid ou a contenção de um espartilho. Pode ser o muro que separa a infância, enquanto eu brinco nas árvores do quintal. Pode ser a etiqueta guardada na roupa, enquanto eu ando de jeans. Pode ser a música que deprime enquanto o rádio toca música latina. Pode ser só fantasia, enquanto eu visto a alegria do personagem principal e com ele eu danço a música contagiante dessa vida...Pode ser isso ou nada disso. Os advinhos tentam saber porque tristeza e não alegria? Gosto de vinhos. Não os caros, os bons...
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Fotografia: Tossan
Música - Santana
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