Inspirar-Poesia, um segundo sopro

ARTIFÍCIOS...

Por Sueli Maia (Mai) em 1/01/2009
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Há entidades que a linguagem não esgota. O tempo e o amor são assim. Teimosamente insubmissos, cada pessoa os sente e a eles se refere, de modo único. Não há hipótese de normatização que lhes baste, absoluta. O calendário e os relógios, são exemplos de artifícios sistêmicos, que os homens inventaram, apenas, como referência. Mas o tempo e o amor, são incontroláveis por decretos... Exemplo disto, o meu ‘prá sempre’ no amor, é relativo e renovável, sempre... Sempre? Não. Depende do quantum de amor ali investido. Meu prá sempre pode durar, até, intermináveis... um segundo...
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Nesta época do ano eu repenso, o tempo e o amor. Zero hora de ontem, assisti, vinte e um minutos de artifícios que explodiram em toneladas, fogos, nos céus da praia de Copacabana e em outros tantos, lugares por ai... Este recurso provoca uma espécie de alienação-contemplativa, estimulada, pela mágica invenção – denominada ‘reveillon’. Ocidentais, em momentos diferentes comemoram, no mesmo horário - ‘meia noite’, a chegada de um novo ano. Extasiados em meio a uma pirotecnia, cada vez mais tecnológica e inédita, em cores e formas, bebem, choram, cumprem ritos, se beijam, se abraçam (eu, principalmente), renovando, ânimo e forças... Espetáculo quase incrível de hipnose. Este artifício, é mesmo genial como nos disse, Drummond. Renova esperanças e estabelece uma recontagem dos dias. Também ilude, une e confraterniza, na mesma areia, doutos e iletrados...
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O que me encanta nas reflexões sobre o tempo, é justo isto - a cada ano, em rito de passagem, no momento inventado em que um finda e outro nasce, o tempo se reinventa... Renasce em esperanças, ressurgem alguns desejos... Os homens parecem retroceder à Grécia antiga. Uma espécie de retorno à visão mítica, os faz contemplar o deus Cronos , que é saudado com fogos de artifício no ar... Crer em mitos também tem sua vantagem. Não demanda trabalho psíquico algum. Milhares de pessoas, esperam passivas, o momento é, instante já... Zero horas e um minuto e puff, tudo volta como antes, ao reino de Abrantes... Diferentes, tão somente, porque renovaram promessas e esperanças. Ontem também desejei algumas coisas. Cria que a paz se daria, nem que fosse um só instante... Mas as manchetes de hoje, já estampam que meu desejo - PAZ! Fracassou...
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Mas eu penso, logo...Existo e rejeito a alienação. O Ser cartesiano, também. O tempo é assim...Selvagem, indomável, impermanente...Não prescindo de pensá-lo porque, nos momentos em que penso o tempo, acesso preciosos e incomuns mecanismos da minha psique. Meu pensamento é um tanto ordenado, mas não todo. Como o tempo, convivo com um ‘uraniano’ caos... Exemplo disto – os relógios e os calendários. Inventados para ordenar o tempo, precisam de fusos, obedecem crenças, religiões, ‘bissestrias’ , ‘quaresmias’, cordas e baterias... É um caos, depender de relógios... O pior mesmo, é ser escravo deles, o tempo, inteiro... Caos por caos, prefiro cá, a minha caótica-lógica, a me guiar...Óbvio, não sou insubmissa a tudo. Ao tempo, também não.
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Todos os pensadores deste tema, disseram que há algo, nele, que os escapou... Isto é bárbaro! Algo que sempre escapa! Eu morro de rir de quem tenta domar o tempo, controlá-lo... Fico amarelo-contente de pensar no roxo-raiva que espera... Mas gosto de ser pontual. Não costumo fazer as pessoas esperarem. Só as vezes, quando estão acostumadas com a minha pontualidade. Nesta hora, eu subverto e me atraso. O tempo é cavalo selvagem, não se pode conter, deter...Se eu digo é, já não é mais, já foi... Não há muito que fazer. Resta-nos continuar... Resta-nos fazer do hoje, nossa alegria, sem postergar ou adiar. O amanhã é incerto... E qual é a certeza que temos das coisas? Gosto de acelerar , para encurtar o tempo... Depois desacelerar e elastecê-lo... É uma delícia, pensar e brincar com o tempo... Eu reafirmo: Há entes insubmissos ao homem . O tempo e o amor são dois deles e, como o amor, a poesia também, é incontida... Os fogos de artifícios anunciaram - um novo tempo já chegou! Um novo ano, começou...Feliz 2009 para todos! Continuemos...
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23 comentários:

Luciene de Morais disse... @ 1 de janeiro de 2009 às 14:06

Creio que há mais, muito mais, entes insubmissos ao homem, além do tempo e do amor, não obstante nossa imensa vaidade. Sobra-nos 50%(?) destinado às nossas escolhas. É uma aquariana você, minha amiga?
Carinho e um lindo 2009 lhe desejo.

Elcio Tuiribepi disse... @ 1 de janeiro de 2009 às 15:09

Ah...o tempo...tinha e tenho vontade de um dia não mais saber dele, não ter hora para acordar, isso seria o máximo, não que fosse da minha vontade ficar até as tantas na cama,(até porque não consigo) mas não ter que obedecê-lo seria reencontrar a liberdade...
Acho que as regras é que me aborrecem...embora também goste de ser pontual com as pessoas...rs
O tempo de que falo é outro, é daquele que nos obriga tristes e não felizes...sei lá...Feliz tempo novo...ele já está se indo...incontido...insensível ao nosso querer e as nossas vontades...simplesmente ele segue, independente do nosso próprio tempo...bjo

Paula Barros disse... @ 1 de janeiro de 2009 às 15:43

Quem pensa, mesmo vendo os fogos estourando, mesmo banhando os pés no mar, ou seguindo alguma crença, algum rito, pensa, pensa, pensa....e entrou um novo ano, com muito pensamento e sentir antigo, e escrevendo....assim me parece que fui eu, foi você, e talvez tantos outros....

E pelo que me anuncia, o "novo tempo", é que teremos muito a pensar e re-pensar, a tentar mudar atitudes, desorganizar padrões do pensar e do sentir, para assim se fazer um verdadeiro novo tempo, um novo ano, um ano diferente.

abraços querida.

Sueli Maia (Mai) disse... @ 1 de janeiro de 2009 às 15:56
Este comentário foi removido pelo autor.
Sueli Maia (Mai) disse... @ 1 de janeiro de 2009 às 16:00

Olá, Élcio.

Amigo, tão logo possas, subverte o tempo. Livra-te dos horários...rss Sei que é difícil. Mas pode ser possível. Questão de escolha, por vezes. Conquista, noutras...

Pois então, amigo. O tempo consegue até esta façanha... Fazer com que acreditemos que somos escravos dele quando, na verdade, somos escravos de nós mesmos, de nossas escolhas...

2009 especial e cheio de tempo que te sobre para que escrevas e poemes, sempre mais....
Carinho

Sueli Maia (Mai) disse... @ 1 de janeiro de 2009 às 16:10

Oi, Paula.

Estás certa porque a razão nos confere este saber - criticar e refletir... Um pensar autônomo, a respeito da realidade vivida.
Isto Paula, amiga bem querida, é o que nos permite ampliar a nossa civilidade e nos acrescenta como Seres Humanos - o Pensar.

Adoro teus comentários.
Paula, não prescindo de tuas vindas aqui e dos teus complementos à postagem.
Porque, comentários como estes aqui, teu, do Élcio e da Luciene, são capítulos, imprescindíveis, em quaisquer textos.

Carinho amiga, muito carinho.

Sueli Maia (Mai) disse... @ 1 de janeiro de 2009 às 16:13

Olá, Luciene.

Sim, certamente entes insubmissos há que dariam vasta lista. A mim, ocorrem estes, hoje e, a poesia mas há outros, sim.
Gosto de lembrar a crença aos mitos porque é algo que não se questionava, em absoluto.
Com a escrita e, a partir desta, as leis,moeda e o tanto mais, inaugura-se outras possibilidades de posicionamento frente a realidade.
Daí para a filosofia, insurgindo novas formas de pensar e superar situações que nos são dadas e não, escolhidas por nós.
Acresce a isto, tudo mais que decorre das inúmeras invenções do homem...
Bem, Luciene, do mito a Razão, longo percurso...
E vez que outra, os mitos retornam, vez que outras nos defrontamos com afirmações cartesianas apesar de 'Damásio' ter apontado seus equívocos...
Atualidades emergem. Dúvidas e inovações 'pipocam' de cabeças 'pensantes' e, cada vez, mais jovens.

Tenho um 'quê' aquariano-uraniana, sim.
A minha casa UM - meu EU, o ar, respiração e tudo que a simbologia e os signos astrológicos preconizam, diz que sou aquariana.

Especial 2009 para ti, amiga.

Sueli Maia (Mai) disse... @ 1 de janeiro de 2009 às 16:13
Este comentário foi removido pelo autor.
Vivian disse... @ 1 de janeiro de 2009 às 17:04

...sim, continuemos, minha linda.
continuemos no caminho da ilusão,
esta que nos faz acreditar que hoje
é um novo dia de um novo ano de um tempo qqr.
continuemos com o trotar de cavalos
domados que aceitamos ser, perante
as 'convenções' humanas.
se assim não for, estaremos banidos
deste universo de seres pensantes,
enfeitados de mentiras, alimentos
da sobrevivência por aqui neste planeta ESCOLA.

adoro te ler...
me aguça a alma.

bjusssssssss

Qualquer Um (Bigduda Nobody) disse... @ 1 de janeiro de 2009 às 18:48

Cara,

Daria para entabular uma discussão gostosa sobre o tempo. Tempo fijão. Mas, falta tempo :-) Nunca temos tempo. O tempo é que nos tem.
De qualquer forma, dia 1/1 é tempo de desejar bons tempos. Bom futuro. Tristezas no tempo passado. Presente de presentes.
Que a tristeza atrase porque ela não adianta
Um ab
Edu

Sueli Maia (Mai) disse... @ 1 de janeiro de 2009 às 20:04

Olá, Vivian.
Muito bom receber-te e ler teu comentário neste primeiro dia do recontar de nossos próximos.

Vivian... Ser banido de qualquer lugar ou coletividade, não é mesmo muito agradável. Mas não me surpreenderia porque, contrariar 'poderes' é por vezes arriscado.
Assim, como sou resiliente, 'consigo' me submeter, sem exageros, a alguns aspectos que ressaltas.
Gosto de pensar o viver e, porque não dizer, o planeta, como uma escola. Gosto disto. Gosto sim.
E sou uma aluna assídua em meu viver. Tudo no entorno, me interessa. Cada pedacinho de mundo e dos mundos interiores.

Continuemos então. Recíproca verdadeira, desejo-te os teus melhores dias, amiga!

Carinho, sempre.

Sueli Maia (Mai) disse... @ 1 de janeiro de 2009 às 20:13

Oi, Edu.

Eu faço festa e vibro e, quase pulo de alegria, quando leio estes escritos em que tu brincas e me divertes, com palavras, meio que em degradée, sei lá como negocias os sentidos dúbios desse nosso léxico-complexo, sem nexo....
Não és mesmo, qualquer um, ou és UM Mágico de palavras.

Este é um dos melhores tons que lanças mão, na aquarela multicor da linguagem. Esta é apenas uma, das melhores do teu vasto repertório de brincares...

Artista da palavra, é assim...Qualquer coisa de extraordinário.

Querido, que deuses te leiam para que '...a alegria se adiante e a tristeza, atrase...'

Carinho, Edu.

FERNANDINHA & POEMAS disse... @ 1 de janeiro de 2009 às 21:49

Querida Mai, primeiro dia de 2009, quero agradecer a Deus Pai ter-te conhecido, deixo-te um grande abraço de amizade,
Fernandinha

lula eurico disse... @ 1 de janeiro de 2009 às 22:17

Oração ao Tempo
Caetano Veloso


Ó Tempo,
És um senhor tão bonito
Quanto a cara do meu filho
Ó Tempo...
Vou te fazer um pedido

Ó Tempo,
Compositor de destinos
Tambor de todos os ritmos
Entro num acordo contigo

Ó Tempo,
Por seres tão inventivo
E pareceres contínuo
És um dos deuses mais lindos

Ó Tempo,
que sejas ainda mais vivo
No som do meu estribilho
Ouve bem o que te digo

Ó Tempo,
Peço-te o prazer legítimo
E o movimento preciso
Quando o tempo for propício

Ó Tempo...
De modo que o meu espírito
Ganhe um brilho definido
E eu espalhe benefícios

Ó Tempo...
O que usaremos pra isso
Fica guardado em sigilo
Apenas contigo e migo

Ó Tempo...
E quando eu tiver saído
Para fora do teu círculo
Não serei nem terás sido

Ó Tempo...
Ainda assim acredito
Ser possível reunirmo-nos
Num outro nível de vínculo

Ó Tempo...
Portanto peço-te aquilo
E te ofereço elogios
Tempo, Tempo, Tempo, Tempo...
Nas rimas do meu estilo
*****************************

Beijo d'amigo!

Átila Siqueira. disse... @ 1 de janeiro de 2009 às 23:27

Concordo contigo, o tempo é indomável, e querer controlá-lo nao passa de utopia. O tempo se rege por si só, e nossas meras tentativas de controlá-lo são apenas para podermos tentar não nos sentirmos tão perdidos nesse mundo de caos e inconstância.

Ao meu ver, a razão não existe, não passa de uma construção discursiva para legitimar determinadas coisas em detrimento a outras, tal como religião e outras ideologias.

Obrigado pela visita lá no meu blog, volte sempre.

Um grande abraço,
Átila Siqueira.

Sueli Maia (Mai) disse... @ 1 de janeiro de 2009 às 23:45

Olá, Fernanda.

Não imaginas o quanto me alegra ver que poetas, como tu e outros, tão bons, vem aqui, e comentam e compartilham.
Eu te agradeço, sempre.

Carinho e um 2009 especial.

Sueli Maia (Mai) disse... @ 1 de janeiro de 2009 às 23:49

Olá, Eurico.

Gosto muito das letras de Caetano (quem não gosta?)

Esta reverência ao Tempo, é mesmo linda!
Amigo, como considerar a escassez daquilo que é abundante?
Deverias ter abandonado a 'preguiça' e as desculpas, junto ao ano que findou.

Carinho, Eurico.

Obrigada, sempre.

Sueli Maia (Mai) disse... @ 1 de janeiro de 2009 às 23:53

Olá, Átila.

As considerações em torno deste tema, nos levariam a adentrar pela madrugada, juntinho a um fogão de lenha, uma boa 'pinga' e muitos 'causos'...
Mas, discussões filosóficas, levam muitos a dormir...
Desse modo, como espero que este ano, tenhamos ensejo de uma maior interação, oportunamente, teremos, espero, a oportunidade de ajustar um bom cenário para retomarmos este tema.

Grande abraço.

Não demores a voltar.

Monday disse... @ 2 de janeiro de 2009 às 01:17

Minha querida Mai, o presente é uma maquininha de fazer futuro, o passado um querido diário que jamais vai se modificar ... a vida corre em moto-contínuo, embora tentemos o tempo todo parametrizá-la para não nos perdermos em sua vastidão eterna ...
Já o amor, esse irmão gêmeo do ódio, sentimentos superlativos capazes de mover mundos e montanhas, cada qual com seu tempero, talvez a grande dificuldade em se lidar com ele é essa eterna tentativa de rotulá-lo, defini-lo em formas de gostares, paixões e do próprio amor ...
Continuo achando que está certo o poema que cantava "o meu amor por você / não é para se medir / pois meu amor por você / foi feito pra se sentir ..."
E por fim, menina, a poesia, essa menina-moça-senhora, de formas e tons vários, que surge do nada, que fala de tudo e que consegue, de um jeito todo particular, transformar simples palavras comuns em versos e estrofes de beleza inigualável ...

não fique triste se toda a paz desajada por ti não aconteceu ... a paz que trazes a nossos olhos, com a beleza de seus textos, já é grande o suficiente para criar diferença ...

Unknown disse... @ 2 de janeiro de 2009 às 09:45

Mai,

eu li sua crônica-texto-tudo. E como sempre me acontece quando leio texto bem escrito, fico sem saber dizer nada, acrescentar nada, porque tudo-quase-tudo já foi dito.

Eu reitero tudo, concordo com tudo. Não é alienção ou falta do que dizer. É apenas isso mesmo, isso mesmo.

É isso.
Um carinho.
Continuemos...

Germano Viana Xavier disse... @ 2 de janeiro de 2009 às 09:47

Esse "Cador" sou eu, Mai.
Foi uma falha de endereço.



Germano

Sueli Maia (Mai) disse... @ 3 de janeiro de 2009 às 09:33

Olá, Cador-Gernano.

Eu adorei receber aqui uma personagem criada por ti, maninho.

Mas fico feliz se pensas algo parecido com isto que penso. Talvez tenhamos outras coisas convergentes.
Mas o bom mesmo é saber que, embora comemoremos e façamos pedidos, rituais de desejos e tudo o mais, como humanos-falíveis e iludíveis...
Estamos atentos ao nosso entorno com a 'antena' de nossa sensibilidade.
Muitos que aqui comentaram, assim também estão. Porque este blog, inspira poesia e fala, dentre outras coisas, principalmente do amor.

Carinho, mano. Muito e sempre!

Sueli Maia (Mai) disse... @ 3 de janeiro de 2009 às 10:10

Ei, Monday, teu comentário é um capítulo a parte.

E eu o salvei porque irei pensar sobre tudo o que escrevestes.

Sabe, existem coisas sobre as quais divagamos que um olhar, preciso, e uma mente brilhante, objetivam assim... em cinco linhas...
Este é o meu exercício diário: objetivar as coisas que a minha 'antena parabólica' subjetiva, sem culpa alguma.

Grata, Monday.
E, por favor, jamais me prives de ler tuas opiniões por aqui.

Carinho, sempre.
Estás linkado em teu novo esaço com a Iara.

E é mesmo lindo!

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