o milagre
Por Sueli Maia (Mai) em 3/04/2010O fogo crispava na fogueira que aquecia o inverno. E entre o vapor e a chama, um halo pairava no céu e dava à noite, a mística de uma anunciação. E lá vinha ela coroando em seu nascer. E quando nasceu não chorou. Rompeu o escuro com a luz e rasgou o silêncio, com a risada mais gostosa desse mundo. A parteira se espantou com a desordem e em arrepios, caiu com a menina nas mãos. O espanto na face, ninguém respirava, mas a menina, continuava rindo. Essa foi a primeira noite em que ela escapou de morrer. E via coisa, ouvia vozes e falava com gente do outro mundo. E não morreu por descuido, na noite que tropicou na beira da fogueira. Era fraquinha, coitadinha e era branquela. – Se alimenta de vento essa menina. - dizia dona Áurea, a beata da igreja. Ela espalhava que Clarice era Santa e se benzia quando via a menina. Seu Alfredo, o barbeiro fofoqueiro, era outro que dizia que Clarice não vingava, porque ela via alma penada. E teve o dia que ela caiu, dura e tesa, ao chão. E gritaram: - corre minha gente, acode meu povo, a santinha morreu! Flores enfeitando, velas acesas e a menina, um anjinho, tão lindinha, com os olhinhos abertos. De repente, prá espanto do povo, Clarice se sentou e caiu na gargalhada. Um estatelou-se ao chão. Outro ficou duro. E todo resto do povo do velório, correu. E nem se sabe quanto tempo, durou aquela morte. Só se sabe que esse foi o último dia em que Clarice escapou de morrer. Nesse dia, a menina da risada engraçada, ficou conhecida como – o Milagre.
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Arte: Tarsíla do Amaral
43 comentários:
Santidade é a vontade de Deus para todos nós...
Mas tem os "santos do pau oco"
ai é outra história.
bjs
Oi Mai,
Sempre cheias de encantos e doçura, suas palavras...
Sempre bom ler vc...
Tenha um ótimo final de semana!
Bjsssssssssss
Dany
Uma boa elaboração de texto, com muita criatividade = a excelentes trabalhos.
Fantástico, querida.
beijo, ótimo final de semana.
Oi Mai, algumas estórias desse tipo acabam virando verdade e transformando acasos em milagre, sei lá, mas imagino que muitos dito milagres nascem de forma parecida, ou acabam virando folclore na boca do povo...
Um abraço na alma...bom descanso...gostei da estória, da criatividade...
Eu amo a Tarsilaaa *_*
E owww
que lindooo milagre!
*_*
♥
....qnd criança, li dois livros: O Meu Pé de Laranja Lima e Rosinha minha canoa. Os dois do José mauros de Vasconcelos. Em adulto, li mais dois livros dele: Farinha Órfã e Barro Blanco.
...
Esse autor foi o único que me fez sonhar com os regionalismos...(só depois dele é que vieram o Jorge Amado, o Érico Veríssimo...)..e sabe pq?
Pq em cada um de nós, leitor, existe uma necessidade ancestral de lermos um bom texto regionalista. Acho que representa a nossa origem nomada e transitada para o sedentarismo.
E vc com esse seu «Milagre» foi buscar isso. Foi buscar primeiro em vc essa inspiração antiguissima da necessidade de escrever um texto regionalista (que apesar de não estar referido, tem matizes que indicam que se passa em algum lugarejo entre o norte e o nordeste brasieliro). Depois, foi buscar na necessidade do leitor de, por vezes, sentir a necessidade de ler os regionalismos quase folclóricos (sendo o folclore a literatura oral primitiva)...
...
acho que esse é o milagre em si!
Tarsila do Amaral...
Um dia eu tive que tentar fazer uma cópia de um quadro dela na escola...
o Abaporu, acho que é esse mesmo o nome...e de mais um ai...que tinha uma cidadezinha e tal...
O bagulho saiu tão feio e tão torto que no lugar de cópia preferi chamar de paródia...
Foi o desenho mais engraçado de toda minha vida...
Coisas tipo milagres acontecem...
Minha vó fiz que sou 'fruto de um milagre'...
Acho que foi por isso que tenho a cabeça grande...
Depois te explico porque...
O texto ficou super10...
Eu ri...
Seria engraçado se eu tivesse naquele velorio...eu tbm iria rir muito (eu acho)...
enfim...
Beijos.
E de pensar que a todo instante temos motivo para boa risada em celebração aos tantos renascimentos que acontecem conosco, em nossas vidas, com ou sem velório.
Cadinho RoCo
E muitos 'santos' e 'diabolicos' sentimentos são como a menina...
Vem causam seus efeitos, depois morrem, e depois tudo volta ao normal.
Estive por aqui e quase esqueço de ir embora. Excelente!
Parabéns, Mai!
Bjs!
Com seus textos meus comentários são sempre curtos porque as minhas palavras fogem . Que beleza!
O nome dela é Clarice, e isso já diz muito...
Mai,
é encantador a forma como você conduz a sequência de um texto. você apresenta o personagem, o cenário, os fatos, e ao mesmo tempo não é obvia. nunca imaginamos até onde você vai chegar...
"a dedução em ti,
não serve"
beijos "Luz"
muito bacana como vc escreve e seu blog esta muito 10!!! parabens...
abraços.
hora do planeta, hj as 20:30 apague as luzes por uma hora da sua casa, onde vc estiver... participe!!! o planeta agradece.
Existe um momento certo para tudo, até para morrer todos vimos a este mundo com determinadas pulsações quando terminam acabamos tambem
Beijo
Mai,
Acho que existem muitas 'Clarices' por esse mundo afora...
Muito bom.
Abraços!!!
Sempre bom te ler...
té mais
Bem lembrado, José Mauro de Vasconcelos, Dias Gomes no Santo Milagroso, só que mais poético e sério é o teu lindo texto. Beijo
Como sempre, adorei...
Como sempre, ADOROOOO!!!!
Meu beijo pra vc!
Olá minha boa amiga, desde já as minhas desculpas por alguma ausencia em seu belo espaço, um espaço que admiro desde à mto tempo, tenho andado numa fase complicada, 1º sem pc, depois doente e de cama, já para não falar na falta de tempo e por último estou a tratar da edição do meu 1º livro que me vai afastando um pouco dos blogues... mas cá estou voltanto, visitanto seu belo espaço, nunca me esqueço deste teu belo :-)
Este post esta lindo, uma interpretação notável do que nos queres transmitir, uma bela história aqui tens amiga.
Bjs e um bom fds
Nuno
Adorei, mais uma vez. Excelente.
Beijinho*
gosto de risadas engraçadas, dessas q a gente ri junto de espanto. rs
Mai, amoreco, dribla daqui e dribla dali e tou cá de volta!
beijocas
E como um boa menina levada, Clarice ainda tirou um sarro com a cara de todo esse povo que a achava anormal, santa, que via alma penada.Hahahahaha
Tem gente que vê aquilo que acredita, e tem aqueles que acreditam naquilo que vêem!
Quanto a Maria....meu Deus...ela está ficando famosa já!!Hahahaha
Está se tornando uma estrela blogal! KKKKKKK
Fica tranquila, que essa figura é super engraçada e sempre me rende boas terapias e risadas e fatos para serem escritos!!!KKKKK
bjinhos e bom fim de semana LINDA!
Linda e doce história querida Mai.
E nós sabemos, bem dentro do nosso coração que existem mtos milagres por desses por aí...
Bjos no coração!
* Estou linkada com meu outro blog, mas obg pelas palavras de carinho lá na minha outra casa: Intimo e Poético!
Nobre milagre conjurado pelos anjos!
Adorei o texto, o conto, e tudo mais!
Algo incrível, sublime, encantador!
Algo que turbilhou minhas idéias...
Adorei seu blog!
Te linkei, se não se importar.
Gostaria que desse uma opinião sobre os meus poemas.
Beijos,
Nayara K.
(Lady Byron)
A fé uma coisa pessoal e sem definição para essa singularidade.
Acho que cada um acredita naquilo que falta em si muitas vezes e lança em outros que julga serem melhores. Eu, penso que a fé uma arma que usamos quando tudo mais já não adianta. Lançar-se de olhos fechados, mas acreditando em si mesmo e em Deus.
Clarice, foi um veículo da fé....
Lindo o texto, Mai!
beijo
.................Cris Animal
Mai, história mais bonita e cheia de graça, de alegria, apesar da aparente fraqueza de Clarisse, dada a estripulias, revela uma força que vem de dentro, e, santa ou não, é uma flor.
Beijos, querida.
Carinho sempre.
Oie moça!
Lembrada do cara da revista eletronica? Entao, lancei ela ontem, no fim de Março, como havia prometido pra galera.
:) pena que vc disse que ia dar uma ausentada, queria que vc tivesse la no meio, mas vim aqui pra pedir que vc faça uma visita no www.rubensmedeyros.blogspot.com e leia a revista , me diga o que achou e tals.
Na proxima, quero que vc esteja la, ja esta convidada.
Amiga Mai, esta bela e emocionante história avivou lembranças do bairro onde nasci e morei até os trinta anos, que saudade destas personagens contraditórias e ao mesmo tempo verdadeiras e felizes.Parabéns pelo trabalho.
abraços - Mangarosa
Mai, agora sou eu quem diz: volta a escrever, menina! Ora, que há? Estou sumido, mas mesmo assim fico esperando algo que tu escreves, pois sou teu seguidor, não por caprixo, mas pq gosto de tudo que escreves, além, é claro, do carinho que tenho pela tua pessoa.
Beijos, querida.
Vê se não some.
Muito lindo o texto, adoro o estilo realismo fantástico. Amei
Ah, que show de conto. Amei! História daquelas típicas populares, mas com seu olhar inspirado, só podia dar poesia.
Beijo, amiga!
Ah...Esse milagre eu me lembro! Muito bom texto. Beijo
Vc tem o dom de prender o leitor.E e isso é muito mesmo.
Lá se vem a cordial risada pura da inocência imaculada e na bricandeira e na falsa fraqueza já era milagre. Ótimo pseugrar tua mão e ir contigo em suas desventuras. Gracioso bela, beijos bom fim de semana.
Mai!
Que lindo conto!
Lembrei de mim, não pela santidade, mas por sempre ouvir dizer que eu não vingaria, que era amortalhada, e meu silêncio infantil era parte com outro mundo.
Aho que seu blog não está atualizando. Não vi isso na chamada do blog!
Beijos, querida!
Sorria sempre e seja feliz!
Mirse
teus comentários em meu blog me ressuscitam!
a clarice se parece comigo, branquela - e ressurge das cinzas! já morri muitas vezes - e após cada morte, a gargalhada!!
besos
Ah! Mai, essa história me faz lembrar outra... aquela que um dia lá atrás lhe contei...! Você é demais menina! Hummm... o Milagre!
:)) Beijos querida :))
Eu, se lá estivesse, aumentária o grupo dos que caíram duros! Deus-me-livre-e-guarde! Belo texto!
Um abraço!
oi Mai sempre bom ler aki vc escreve bonito =)
bjos amiga!
Clarice, o milagre. Que lindo conto, Mai. Devias continuar a história, com certeza Clarice ainda tem muito para aprontar e assustar...
Beijo
a história de clarice, o milagre, uma vertigem a assombrar o cotidiano. Beijo
...Todas as Vidas
Vive dentro de mim
uma cabocla velha
de mau-olhado,
acocorada ao pé
do borralho,
olhando para o fogo.
Benze quebranto.
Bota feitiço
Ogum. Orixá.
Macumba, terreiro.
Ogã, pai-de-santo.
Vive dentro de mim
a lavadeira
do Rio Vermelho.
Seu cheiro gostoso
d'água e sabão.
Rodilha de pano.
Trouxa de roupa,
pedra de anil.
Sua coroa verde
de São-caetano.
Vive dentro de mim
a mulher cozinheira.
Pimenta e cebola.
Quitute bem feito.
Panela de barro.
Taipa de lenha.
Cozinha antiga
toda pretinha.
Bem cacheada de picumã.
Pedra pontuda.
Cumbuco de coco.
Pisando alho-sal.
Vive dentro de mim
a mulher do povo
Bem proletária
Bem linguaruda,
desabusada,
sem preconceitos,
de casca-grossa,
de chinelinha,
e filharada.
Vive dentro de mim
a mulher roceira.
-Enxerto de terra,
Trabalhadeira.
Madrugadeira.
Analfabeta.
De pé no chão.
Bem parideira.
Bem criadeira.
Seus doze filhos,
Seus vinte netos.
Vive dentro de mim
a mulher da vida.
Minha irmãzinha
tão desprezada,
tão murmurada
Fingindo ser alegre
seu triste fado.
Todas as vidas
dentro de mim:
Na minha vida -
a vida mera
das obscuras!
Cora Coralina
...querida linda,
trago beijos neste dia
de todas nós!
Copiei algo do teu blog tudo lá me fascina, muito bom mesme se houver problema me avise e eu retiro, desde já muito grato.
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