Inspirar-Poesia, um segundo sopro

ilusões do tempo

Por Sueli Maia (Mai) em 6/04/2009

O que seria - no tempo, a ilusão dos amantes? Muitas vezes ela vinha mas não estava ali. Abraçava os papéis e os mantinha junto ao peito. Nada dizia, apenas olhava, longe, no longe de um olhar que fitava o nada. Não chorava ou sorria. Permanecia lívida, fria, cálida e ausente ficava, por quase uma hora. Naquele dia falou ininterruptamente e contou-me, por fim, o fim do que disse-me ser, ilusões do amor no tempo que se tem para amar. Era madrugada quando ouviu que alguém a chamava aflito. E falou por longo tempo: - Era o Dino – Vem depressa, corre, ele chama por ti. Apressa-te, em instantes, ele não mais será. Anda ele chama e implora por ti, deseja ver-te depressa. Deseja-te, com os olhos, ele ainda te quer. – O silêncio - éramos nós, à caminho. Em poucos instantes, rua treze, e a velha casa, finalmente se abriria para mim. Sem quase estar, lá estava o quase corpo, ofegante, deitado e, quase sem vida, eu sentia, amava-me ainda. Com os olhos, pedia-me dá-me mais tempo e mais vida... Os meus olhos o fitavam, esperando as palavras não ditas à tempo, com tempo bastante para amar. Em seus olhos - os meus, os anos de espera. Agora nossos corpos calados e os corações, ainda querendo e gritando, tentando entender. Chamou-me com o olhar e mostrou-me uma caixa onde havia papéis. Pediu-me que lesse e em silêncio, mostrou na dedicatória que tudo aquilo era meu Sentei-me ao seu lado e, segurando a sua mão li, por tempo que não sei, anos inúteis de amor, deitado em branco nos desejos guardados em papel. Agora, por fim restaram-me mãos frias e os lábios do amante no amor adiado na ilusão do tempo.
.
Imagem Google

26 comentários:

Café da Madrugada® Lipp & Van. disse... @ 4 de junho de 2009 às 02:50

É muito gratificante vir aqui,pois alem de textos lindos,bem escristos e surpreendentes,eu sempre saio pensando mais sobre mim,sobre o que vivo.
Grande beijo querida e parabéns.

Lipp

Dauri Batisti disse... @ 4 de junho de 2009 às 07:31

Lindo texto, triste assim como a vida, às vezes. Encontros fora de hora, encontros quase-desencontro.

Beijo.

Vanessa Anacleto disse... @ 4 de junho de 2009 às 08:47

Mai, como de hábito eu aqui sem palavras diante do seu texto. Sua bruxa! :-). Tenho visitado pouco os amigos por conta de um livro que estou escrevendo . Mas virei sempre que puder. bjs

Leo Mandoki, Jr. disse... @ 4 de junho de 2009 às 09:11

muito bem!
essa postagem é um marco. É o início (pelo menos para mim) da tua escrita ficcional. Voltada para a criação narrativa. Deixou de ser um texto 100% intimista, e passou a ser ficcional (mas sem perder o carater intimista). Gostei.
....
vou te confessar uma coisa: eu tenho um amor antigo que, tanto da minha parte como da parte dela, nunca foi resolvido. E estamos quse 20 anos longe um do outro. Se um dia eu me encontrar com essa pessoa e ela me mostrar cartas de amor não enviadas, eu vou olhar pra ela e dizer assim: isso já não são cartas de amor. São desperdícios de vida.
fica bem! e continua escrevendo assim

Márcio Vandré disse... @ 4 de junho de 2009 às 09:48

Afinal de contas, a distância inspira. Um singelo papel ganha tanta importância que pode valer mais que o ouro. O importante é estar perto, nem que seja da letra do ser amado.
Não tem como não amar o amor. É uma sensação mística e caústica. É lado certo e o oposto.
Não há preço quando encontramos os labios que tanto esperamos. Não há.

Belíssimo texto, Mai.
Meus parabéns!
Um beijo!

Erica de Paula disse... @ 4 de junho de 2009 às 11:35

Mai, fico sem palavras sempre que venho aqui ler-te!

é tudo tão mágico e encantador!

Lindo!

Carinhos em teu coração!

Bjos!

Erica de Paula disse... @ 4 de junho de 2009 às 11:35

Mai, fico sem palavras sempre que venho aqui ler-te!

é tudo tão mágico e encantador!

Lindo!

Carinhos em teu coração!

Bjos!

Lú Naíma. disse... @ 4 de junho de 2009 às 11:52

Texto que, para uns não passa de ficção. Para outros, de uma maneira ou de outra, é a mais pura realidade. Para todos, é a prova incontestável do poder das tuas palavras.

Para mim é realidade, é ficção, é poder, é tudo. Ainda sou daquelas que acreditam que as cartas de amor não são ridículas.


beijo grande

Luna disse... @ 4 de junho de 2009 às 13:23

Por vezes por medo de se sofrer, vai-se adiando algo que nos podia ter feito felizes.

Namastê

Vivian disse... @ 4 de junho de 2009 às 13:55

...quantas cartas de amor
deitamos em nossos baús
com medo de sofrer?

quantos sentimentos jogamos
fora alimentados pelo
ego medroso da rejeição?

quanto tempo sem exercitar
o amor enquanto vida,
enquanto sangue correndo
vermelho nas artérias
apaixonadas pelo sentir?

quantas horas se abraços,
beijos, afagos, e palavras
sussurradas à luz do luar?

quanto de vida desperdiçamos,
meu Deus!!!

Mai,
você é maravilhosa,
e eu te amo!

bjbj

Anônimo disse... @ 4 de junho de 2009 às 17:34

Olá ..
Vim do atraves do blog da Paula te visitar e eis que me deparo com algo tão lindo e verdadeiro.
Quantas vezes deixamos coisas importantes passarem em nossas vidas e não tomamos atitudes diante , principalmente de um Amor por medo de sofrer.
Em minha vida sofri , diversas vezes , mais nao por medo de tentar , mais sim por ter tentado e nao ter dado certo e no me intimo fico feliz por essas experiencias pois todas elas me fizeram crescer e evoluir.
Adorei a imagem que tanto pode passar a ideia de uma ponte , como a de várias embarcaçoes seguindo na linha do horizonte!!

Parabens pelo lindo blog!!

Um abraço fraternal

Anônimo disse... @ 4 de junho de 2009 às 18:07

...cartas e bilhetes sempre enviados, mas....mas....
coração em paz?

Anônimo disse... @ 4 de junho de 2009 às 22:06

Oi Mai,

entrei aqui apenas para deixar meu abraço, deletei meu blog, despedi-me dos amigos, e sinto-me em falta por não ter passado aqui para deixar meu abraço.

Aprendi muito com vc, e levo comigo um pouco de vc e suas palavras,

Cuide-se direitinho, minha amiga!

beijos,

Ester*

Sandra Costa disse... @ 4 de junho de 2009 às 22:41

sacanagem, né, Mai..

:.tossan® disse... @ 4 de junho de 2009 às 23:15

Muito profundo e bonito Mai, tu és fabulosa para juntar palavras da tua alma! Beijo

Paula Barros disse... @ 5 de junho de 2009 às 07:18

O tempo, mais uma vez ele. A morte. Antes da morte física, muitas vezes a morte se apresenta de outras formas nas relações.

A ausência. O não dito no tempo que teria a devida importância do ser ouvido.

E assim vamos vivendo. Isso é a vida. O dia a dia. As relações.

Hoje em dia quantos e-mails devem está guardados sem serem enviados. Quantos olhares não serão trocados, quantos afagos, quantos carinhos?

abraços com imensa admiração e carinho.

lula eurico disse... @ 5 de junho de 2009 às 08:34

um insólito desfecho para um conto sobre a brevidade da vida, sobre a urgência de viver...
se pudéssemos mensurar quanto de vida deixamos de viver, perceberíamos que somos seres de escolha, e estamos forçados a viver nossas escolhas, somos, então, essa vida escolhida...
e o que fazer, afinal?
abraçarmo-nos com força ao instante que passa, ao instante escolhido, com amor nietzcheano, com o verdadeiro amor, o Amor Fati.
estou aqui, mergulhado em minha escolha amada.

Abraço fraterno, amiga d'infância.

Carlinhos do Amparo disse... @ 5 de junho de 2009 às 09:08

Só vc pra me fazer deixar a rede, a sombra e a água de côco e vir aqui.
Tenho um reclamo a fazer: já passei dos 40 e não enxergo tão bem essas letrinhas dos comentários. Mal consigo ler aqui o nome do Dauri, por exemplo. Em nome do estatuto dos idosos blogueiros te peço pra aumentar as letrinhas e mudar a cor kkkkkkkkkkkk

Beijo grande, imenso, enquanto é tempo. Ah, não guardo cartas de amor. Amo e pronto!
Fica bem.

Letícia disse... @ 5 de junho de 2009 às 10:31

Mai,

É muito bom falar de amor e de forma poética, fica ainda melhor. Eu imagino você escrevendo e lendo em voz alta. Porque não deixa de ser poesia o amor que você retratou.



Acho que todos temos um "amor adiado na ilusão do tempo".

Bjos.

al disse... @ 5 de junho de 2009 às 12:44

que texto tão lindo, Mai *.*

Márcio Ahimsa disse... @ 5 de junho de 2009 às 20:35

Adiar as confissões do amor, é adiar as verdades de um tempo que já existiu dentro de nós. Mas, aqui, se o coração é algo independente, dono de um caminhar resoluto, então que as meras posições no mundo, nossas personalidades como arquétipos de marionetes, dura realidade que nos força abnegar dos sentimentos, não são, senão, a própria morte. Aquilo que é o fim, finda-se num sentido paradoxal, pois vai de encontro ao dualismo coexistente dentro dos seres: amor e ódio. Amor, pelo necessidade intrínseca, pois que cada um, particularmente, busca ser colo e aninhar-se em qualquer fase da vida, uma vez que somos programados para viver em sociedade, dádiva oferecida pela mãe natureza e que, indissociável, nos é profícua. Ódio, pela desordem que o próprio caos da existência causa em conflitos eternos: voar como um pássaro rumo à liberdade, ou seja, rumo à felicidade, ou ser eterno prisioneiro e dependente como um pequeno guri, que, inocente e indefeso, necessita dos cuidados alheios. Bom, creio, aqui, em meus devaneios, que ser pássaro é bem melhor, mesmo que esse melhor vá de encontro à desaprovação de todos, pois que meus atos são insubmissos, dependem apenas do que diz meu coração. Nisso dou fé, nisso sou pedra, nisso sou findo e fano meu viver até o fim. Acho que isso é amor, senão, esmoreço de vez.

Mai, rs, desculpe a viajem, mas eu preciso, de vez em quando, viajar e, nada melhor que comprar minha passagem nessas suas asas de viver.

Beijos, querida.

adouro-te disse... @ 6 de junho de 2009 às 07:53

Manter a ilusão ou desejar a morte?
Ou desejar a morte do outro é, por vezes e também, uma ilusão?
Bjs

Andre Martin disse... @ 6 de junho de 2009 às 17:10

O que seria a ilusão dos amantes?

Bem, depende de em que idioma...
Em português, ilusão tem a ver com o que ilude aqueles que viram (ou não), retrata um sonho, uma fantasia, uma irrealidade.
Em espanhol, ilusión é a gana, a vontade, o apetite e o desejo de ser e realizar, o sonhar acordado, uma possibilidade quase realizada.

Qual a diferença? Humm, não sei, pois depende muito mais da outra palavra: amantes! Do que e de quem?

Quem joga mais futebol: os (jogadores) profissionais ou os amadores? Provalvemente os segundos, pois estes o fazem por amor, são amantes do esporte; enquanto os primeiros o fazem por negócio, são amantes do dinheiro.

Carlinhos do Amparo disse... @ 6 de junho de 2009 às 18:37

Dona Mai, os comentários estão em fonte pequena. Se puderes, aumenta um pouco. rsrsrs Os idosos agradecem. kkkk

TERE disse... @ 6 de junho de 2009 às 18:45

E eu deixo um carinhoso abraço.

Mité

Beatriz disse... @ 10 de junho de 2009 às 19:52

O amor é a melhor ilusão e o tempo tb é ilusão. nem boa nem ruim. É!

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