horizontais - diário das ruas
Por Sueli Maia (Mai) em 9/22/2010
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Roncou a motocicleta - são 5:30 - com a entrega dos jornais. E não pelo tráfego, mas pela intensidade, há ruidos peculiares à rua Dr. Joaquim Benevides. Por detrás das persianas e cortinas, mãos, olhos e pontas de cabelos denunciam a astúcia costumeira. - Caiu! - Gritou um. E de seguida, aplausos e assobios foram replicados com uma risada. E noutro grito: - Deitou! -Josete é conhecida por sua fartura. Capa de revista nos anos 90 transita às claras com seus namorados. Um tipo inevitável de mulher, não se importa com o noticiário. No correio da vizinhança, ela e seu Jamil figuram em primeira página. Viúvo há quase dois anos, o vermelhão dono da padaria é farto nas formas e na risada. Do terreno baldio à frente, mais dois arranha céus surgirão. No verão, as folhas da paineira atapetam as varandas, redobra o trabalho e aumenta a campanha do contra. Sobre o seco das folhas, a simples queda de um objeto desperta os plantonistas da Joaquim Benevides. Como o estouro de um transformador após um trovão, o tombo pareceu-me pesado. A risada era conhecida. Horizontais, pensei. Algo caiu e não sei bem por que, mas pensei na Josete, no Jamil e na velha paineira.
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Música - Gustavo Dudamel e Orquestra Simon Bolívar - (Mambo) - Bernstein
32 comentários:
As folhas secas aqui no seu texto já serviram para fim diferente do alcançado no meu texto, e sem dúvida, mais engraçado, hehe... Pobre paineira.
Beijos.
Como quem descortina um olhar sobre o cotidiano, e com a tesoura dos detalhes, recorta pedaços de visões para os retalhos do dia.
Beijos.
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Katyuscia.
tao bom ler nesse seu estilo .
me lembra os classicos da cronica brasileira que eu lia bem bem bem jovem .
realmente adoravel .
esse sim é um autentico joao de tal
Em caem de pés os humanos gatunos, mas seriam eles os olhos ou os olhados! Bom recorte bairrista hehe ou nãokkk beijos Mai maravilhosa. Bom fim de semana
ps: pegou seu selo ?!
Oi Sueli
Sentimentos bem humanos por trás das cortinas, persianas, aplausos assobios, gritos e risadas...
Interessante seu estilo novo. Gostei!
Bem disse o caio lá em cima, lembra os clássicos das crônicas, aquelas sempre gostosas de ler.
Um beijo
Teu texto me fez lembrar as férias que eu e minha irmã passávamos em São Paulo (duas caipiras na cidade grande), num apartamento na Hadock Lobo, casa da tia. A gente ficava o dia todo atrás das cortinas, que tinha função dupla: nos esconder do povo da casa e olhar o povo da rua, os casarões sendo demolidos, prédios sendo erguidos. E havia uma mangueira, acredite, que também foi derrubada... Beijo,Mai!
↓
Jo7, Ja1000 e pai NEI irá...
Cronista de primeira!
Beij♥ ← nele!
Fico aqui observando o tapete seco que vem do alto. Vidas que se esvaem, de um canto a outro, em transbordamentos vividos, do corpo da folha ao corpo do prazer matinal. Entornando-se, é preciso cair para que o novo possa florir.
Bjs
Vim só pra te deixar beijos e flores.
Grato pelos teus emails. Sempre me fortalecem.
Mai,
Eis um tipo de risada, muito bem narrado. Escrevi sobre outra risada no Lugar.
Está tudo bem visível e audível neste teu texto: belo e eficaz.
Beijo,
Marcelo.
Mai,
eu que ando com saudades de você, daqui, da sua poesia. Prometo que volto numa hora melhor pra poder te ler e comentar. Minha cabeça não tá boa - esse trem de monografia acaba com meus neurônios, cara. Rs.
Beijo pra você.
Genial a sua escrita... e então aqui, se superou.
Amei!!!
Beijinho
Está digna de um começo de livro a sua prosa.
Um beijo, Mai!
O olhar voyeur que tudo perscruta. Simples assim. Cheiro.
E nos seus,uma velocidade cardíaca!
abraços
Neusa
bueno y divertido tu relato.
un abrazo
Mai, fico imaginando, você juntando as suas escritas, elaborando personagens, daria um romance, creio eu.
beijo
Mai;
É o círculo (bem redondo) da vida. Tudo cai e com o tempo, todos cairão!... a motocicleta, as folhas da paineira, o Jamil, e as Josetes deste Mundo, porque haverá trovões para todos e até os transformadores da Joaquim Benevides não resistirão aos raios e coriscos!...
bjs, Mai e desculpa a ausência.
Osvaldo
Ah, Mai, querida, eu adoro isso aqui,adoro essas linhas circunflexas que se fecham sobre nós que as lemos... É um poemar, um estar envolto sobre a realidade nossa do dia-a-dia, seja crônica, conto ou poesia, mas sempre retratando o humano mais essencial de cada um, com seu olhar de vênus, mãos de tecelã, coração de passarinho...
Por fim, uma tela, um quadro exposto à face nossa.
Beijo, querida.
Ah, desculpe pela fonte prata, vou ver se aumento o tamanho, rs...
Gosto imenso dessa prosa que você escreve com tanta leveza e tanto humor. Uma crônica e tanto.
Beijo
Que foto bonita Mai!
Que texto lindo!
Saudades de vir aqui!
Bjos no seu coração!
Coisas de rua. Ruídos da Joaquim Benevides tão conhecidos, ilustrando um cotidiano nem sempre igual, e nem mesmo monótono. Jamil e Josete protagonista e criadores de história...caindo na horizontal, entre risadas.
Adorei, Mai. Uma prosa leve e pontilhada de imagens.
Sim, um romance. Continue!
Beijo
Josete e Jamil não mereceriam cair e muito menos a Paineira - de cuja essência se faz o floral para quem tem dificuldades de quaisquer origens com o assunto maternidade.
Filhos, filhas, mães.
Doeu - porque arranjei uma muda de Paineira pro quintal de uma amiga e simplesmente sumiu.
Doeu de novo.
Achei este mais seco comparado às outras coisas que li suas. As formas gordas, a vida urbana... bom caminho, Mai, gosto bastante de um outro tom que li seu mais poético, mas este aqui também me agrada. Acho que multiplicidade é uma qualidade positiva de um escritor. Beijos,
Toda cidade vai cantar
E finalmente vai voltar
O tempo da paz os tempos atrás
O tempo da consideração
Quando era menos ambição
E o coração valia muito mais
Toda a cidade vai cantar
O cancioneiro popular de tempos atrás
Que já não se faz
E chega a me dar uma emoção
De contemplar a multidão
Cantando pelas ruas principais
Joga todo mal pra fora
Abre o peito e chora em paz
Que é bonito demais
Toda cidade cantando
Como nos antigos carnavais
Paulo Cesar Pinheiro
Beijo Mai adorei o texto.
as histórias da rua de uma forma nua e crua.
Cada canto, ou lugar, e seu jeito singular, costumeiro, de estar sempre atento as mudanças.
Oi Mai, passei para uma rápida visita pois estou muito atarefada. Agradeço seu carinho em meu blog Sempre Poesia. Volte sempre. Bj com carinho,
Úrsula
Mai, quantas imagens passeiam na nossa mente, que a realidade não dá conta. Quando te leio, formo outras, vc me incita, e eu me deixo levar.
são histórias para livros...
saudade!
vc mora em mim
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