Inspirar-Poesia, um segundo sopro

a invenção de um purgatório

Por Sueli Maia (Mai) em 12/09/2010
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O presente está só...
...Entre o amanhecer e a noite
existe um abismo de agonias, luzes, cuidados;
...O hoje fugaz é tênue e é eterno;
outro céu não espere, nem outro inferno
(Jorge Luiz Borges)


Quisera ter mãos e boca e língua àquela imagem, mas correm rios sob a minha pele e ainda há vastidão e mistérios, legião e fantasmas que me sopram coisas que eu nem ousaria dizer; por tanto perdoe o que escoar mais espesso das veias desta minha humanidade. A pressa de dizer reclama urgência de pensar, mas eu sempre esqueço dos detalhes da diplomacia. O fac-simile nunca funciona comigo e foram muitas as vezes que eu me destrambelhei sem pensar. Purgo pequenas mentiras e pequenas verdades. Então antes que seja tarde escreverei claramente: te amo. E na maioria das vezes me acanho em dizer; e quando vejo o dia se foi os meus olhos continuam nus e minha boca continua vestida de silêncio e pudor. Não importa do que é feita a coisa, mas para quê ela serve e o que nela cabe; e tudo cabe nessa coisa que é viver. Então ainda que eu morra a cada minuto e que uma palavra me falte ou transborde, cá estou. Verso você enquanto estou só. E se o meu céu, meu inferno, meu presente, meu bem e meu mal também é você, eu inventei de fazer destes versos o meu purgatório enquanto te espero.
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55 comentários:

nydia bonetti disse... @ 8 de dezembro de 2010 às 23:51

Mai, porque será que temos tanta dificuldade em dizer coisas "tão simples" como "eu te amo". Acho que toda espera é purgatório. Porque não é definitivo, não é céu, nem inferno. É não saber, a hora e o tempo - de ser, de chegar, de viver. E o verso - ah... o verso é refrigério, é vento, é brisa - é porta - que não sabemos bem onde vai dar...

beijos!

mARa disse... @ 9 de dezembro de 2010 às 00:19

...é essa espera feita de uma ausência tão presente em nós, que faz as letras dizerem: Te amo, na espera...

Belo!

beijo!

Anônimo disse... @ 9 de dezembro de 2010 às 00:48

Maravilha! Um pouco diferente do que vc costuma escrever, no caso, o tema. O estilo é inigualável e todo seu.

Parabéns, minha amiga, por esse dom de nos prender em sua escrita.

Beijo.

frô disse... @ 9 de dezembro de 2010 às 01:07

Embora eu, as vezes, escreva textos longos, admito que tenho sérias dificuldades em lê-los.. mas como Lara disse acima, vc prende, repreende, aprende...

um beijo florescido...

Luciana Marinho disse... @ 9 de dezembro de 2010 às 01:11

sobre o que não dorme. sobre o que é ânsia para estar na existência. bela poesia da vida. abraços!

maria claudete disse... @ 9 de dezembro de 2010 às 01:11

Mai...Não há como deixar de sentir-se envolvida com o que escreves...Metáfora inteligentemente colocada...Viver em todos os sentidos reveste-se de espera...Realmente um purgatório .Beijos e grata por sua visita.

Ricardo Valente disse... @ 9 de dezembro de 2010 às 01:36

muito lindo. paixão é sofrimento, exagero. querer ver (fazer) n(d)o outro a sua imagem. somos masoquistas, mai! hehehehe
gostei demais do final, embora o certo seria mandar no coração...

lula eurico disse... @ 9 de dezembro de 2010 às 02:25

O amor... os amores...
Amar sempre e de todos as maneiras.
Amar...

Anônimo disse... @ 9 de dezembro de 2010 às 02:30

Parabéns, Mai. De uma intensidade, muito lindo!

Beijo
G

Unknown disse... @ 9 de dezembro de 2010 às 03:44

MAI!

Amiga querida! Espero e desejo com toda minha alma, que seu verso ecoe como um grito e seja ouvido. Percebi que estava diferente, agora fico feliz por saber o motivo. Nem sempre escrevemos o que sentimos, mas sei que senti e pre-senti sua inquietação.

Você merece o que a vida pode dar de mais bonito!

Belíssimo e humano texto!

Beijos

Mirze

Sidnei Olivio disse... @ 9 de dezembro de 2010 às 08:20

Todos os comentários já feitos! Brilhante, como sempre. Beijos.

Unknown disse... @ 9 de dezembro de 2010 às 09:54

eu li com todos os travos que permitem a pontuação, caudoloso verbo


cheiro

Ju Fuzetto disse... @ 9 de dezembro de 2010 às 09:56

"E na maioria das vezes me acanho em dizer; e quando vejo o dia se foi os meus olhos continuam nus e minha boca continua vestida de silêncio e pudor"

há tanta doçura em tuas linhas, esse silêncio que emudece. Essa espera constante, dói.

Que lindo!!

beijos

Cris de Souza disse... @ 9 de dezembro de 2010 às 10:28

emocionante!

quanta intensidade, intenção, imersão...

" nessa espera o mundo gira em linhas torta..."

beijo de bom dia, mai!

Marcantonio disse... @ 9 de dezembro de 2010 às 10:29

Como podemos brincar com os sentidos de um texto pressupondo (ou projetando) nele camadas reais ou não! Tudo pode se associar a referências remotas, inconscientes talvez, em quem escreve ou mais ainda em quem lê. Quem primeiro definiu a poesia como catarse foi Aristóteles. Ele mesmo foi a referência cosmológica para Dante. E é ele ainda que elege como ideal de ação o meio-termo, a temperança. E o que é o purgatório senão um meio-termo, uma equidistância?
Mas, que essa catarse ganhe esse território delimitado, poético purgatório, é coisa do seu engenho; ali parece que ações e atos aguardam apenas como potência, o que pode, na verdade, ser uma contenção insatisfeita, como se o purgatório fosse mesmo um vazio entre dois extremos reais.
Porque o pudor nos proteje, porque o abrir total de janelas e portas nos expõe à fragilidade, porque os contrários paraíso/inferno podem se converter um no outro. Fique então o desejo suspenso numa reserva purificante, à espera de encaminhamento ou de decifração. Mas ali de onde ele espera, se projeta na beleza das palavras.

Vixê! Estou sempre me alongando, me expondo à fragilidade conceitual! Rs.

Beijo.

Cris de Souza disse... @ 9 de dezembro de 2010 às 10:44

a canção que me lembraste, espia:

http://www.youtube.com/watch?v=mMbQY9VfDMQ&feature=related

André Brito Oficial disse... @ 9 de dezembro de 2010 às 11:09

uau...muiito legal seu Blog gosteii muiito, seus posts são muitos interessantes ^^
to seguindo vc...^^
espero sua visita tbm www.andrebritooriginal.blogspot.com.br

Penélope disse... @ 9 de dezembro de 2010 às 11:27

Mai, primeiramente desculpas, pois escrevi seu nome com "y" em outro comentário.
Mas não se preocupe com as palavras... sabemos quando elas saem do coração.
Como diria Neruda e Quintana - os poemas não são interpretáveis, porque já são a própria interpretação do poeta...
Quando venho por aqui, por exemplo, preocupo-me em sentir as escrituras, porque a interpretação já foi dada por si, enquanto escrevia... entende?
A música de hoje está soberba!!!
JAZZ! Adooooooro!!!!
Abraços

Luanne Araujo disse... @ 9 de dezembro de 2010 às 11:30

que lindo, Mai. Tudo no meio de um turbilhão, esta espera espiral.

"correm rios sob a minha pele", linda imagem.

Márcio Vandré disse... @ 9 de dezembro de 2010 às 12:06

O mal é o mel mais doce deletério.
E os versos "purgatoriais" são a porta do inferno...
Um beijo, Mai!

dade amorim disse... @ 9 de dezembro de 2010 às 12:06

Palavras são ecos, dependem dos sons que as produzem. Os ecos aqui parecem diferentes de outros que costumo ouvir em seus textos. Mas a linguagem é aquela, sempre deliciosa de se acompanhar.

Beijo, Mai.

Edu disse... @ 9 de dezembro de 2010 às 13:33

Nossa Mai, ponha palavras na boca sem pensar, palavras de sentir! O pior que pode acontecer é um breve inferno... mas viver no purgatório é muito tenso!!

Bejo!

Paula Barros disse... @ 9 de dezembro de 2010 às 13:47

Mai, este trecho me chamou a atenção, pela intensidade, pela poética.."por tanto perdoe o que escoar mais espesso das veias desta minha humanidade".

Mas ao longo do texto vou encontrando mais e mais trechos bonitos, intensos, que mexem com a emoção.

De uma espera, um texto poética, a poesia fazendo suportar a ausência, a espera, o amor...

beijo

Jorge Pimenta disse... @ 9 de dezembro de 2010 às 14:54

os infernos e os paraísos, tantas vezes cíclicos, vivem de dizeres que, na fragilidade bamba das palavras, abrem portas de um purgatório onde, espera, esperança, ilusão, queda e redenção são a bíblia que nos guia.
o que está para lá dos signos ainda resiste aos atropelos do ser?
qunatas vezes me morro em palavras que não sabem remir... alguma vez as deixarei de saber dizer? (alguma vez as quereri deixar de saber dizer?)
um beijinho, querida mai!

josé carolina disse... @ 9 de dezembro de 2010 às 16:00

Mai, Mai. Você, geralmente, já começa me atirando pelas citações iniciais. Neste caso, o tiro foi tão e tão maior por causa das suas palavras.
Aqui há pedaços de texto quase tão autônomos quanto a cabeça e, quase tão quanto ela, amplos, vastos, grandes de tempo.
Os pedaços deste texto quase que me retorcem pra formar o bloco todo.
Eu sempre fico boba aqui! E, agora, fiquei mole.

Luna disse... @ 9 de dezembro de 2010 às 18:17

Lindo e intenso como sempre, por vezes temos dificuldade de dizer palavras simples, temos medo de desnudar a alma perante outro ser
beijinhos

lolipop disse... @ 9 de dezembro de 2010 às 19:47

A espera é de facto um limbo, um Purgatório a anteceder céus ou Infernos...
Vc tem uma forma de escrever, que não consigo definir, mas me fascina!
TERNURAS

Al Reiffer disse... @ 10 de dezembro de 2010 às 05:34

Texto de uma imensa profundidade, com uma cativante profundidade poética. Abraços!

lisa disse... @ 10 de dezembro de 2010 às 08:57

A existência transita entre o visivel e o não visivel. Há rodas em meu calabouço, há passos e vozes que ultrapassam as barreiras dessa dimensão. Silencio os meus "achismos" pois a lógica e a racionalidade não possuem respostas para o "ser ou não ser". Sua profundidade foi inspiradora, já tem um tempo que não escrevo, mas já até abri um documento de texto para arriscar minha vida. Abraços, querida Mai!

olharesdoavesso disse... @ 10 de dezembro de 2010 às 10:43

Entre o céu e o inferno há nosso exageros expurgado nos divãs dos outros... Que belo minha querida! Saudades sempre, é bom estar por aqui. Bom fim de semana

Unknown disse... @ 10 de dezembro de 2010 às 10:50

Há certas coisas na vida que nos acontece e parece que apenas sobrevivemos e não temos a escolha de viver =)

Eleonora Marino Duarte disse... @ 10 de dezembro de 2010 às 14:58

mai...

a espera, mesmo que pela realização do verbo, é o outro nome que carrego.

um texto belo, como deve ser uma declaração (verdadeira) de amor!

um beijo, querida.

Zélia Guardiano disse... @ 10 de dezembro de 2010 às 18:21

Mai, minha querida
Que texto mais lindo!
Identifiquei-me demasiadamente...
E me emocionei!
Grande abraço, amiga!

Melinda Bauer disse... @ 10 de dezembro de 2010 às 20:26

Oi Mai...
Lendo teu texto pensei uma certa solidão que nos impomos sobre tudo aquilo de nós que não cabe numa frase.....
Teu texto me fala desta intensidade ... que nos compele...
obrigada por tuas palavras...
beijo

Ira Buscacio disse... @ 10 de dezembro de 2010 às 22:55

Ola Mai,

Que texto arrebatador! Entre a escuridão e a luz, assim vivemos.

Prazer enorme e conhecer seu espaço e obrigada por visitar o meu.
Voltarei.
Bjs e bom fds, de paz

Léo Santos disse... @ 11 de dezembro de 2010 às 02:54

Versar é bom por isso... Versos servem para tudo! Podem ser o céu! Podem ser o inferno! E podem ser um purgatório! No meu caso: são a eternidade!

Um abraço!

Lua Nova disse... @ 11 de dezembro de 2010 às 15:19

Desta vez vc me surpreendeu! Não pela qualidade do texto, pois quando venho aqui é justo o que espero encontrar, mas sim pelo tema. Um tema pouco abordado, mas que resultou num texto sensível e belo. Fiquei encantada! Um dos mais belos que já li aqui.
Beijokas e um lindo fds.

Anônimo disse... @ 11 de dezembro de 2010 às 16:59

Belo Mai, eu prefiro viver o hoje fugaz sempre, colhendo a eternidade efêmera, num amanhã de possíveis arrependimentos a porta do purgatório.
Beijos

Katrina disse... @ 12 de dezembro de 2010 às 01:57

Um presente me deparar com Borges.

E fica a máxima. O inferno são os outros.

No seu caso, o purgatório somos nós.

guru martins disse... @ 12 de dezembro de 2010 às 12:40

...então continue purgando
tua espera é produtiva...

bj

Fábio disse... @ 12 de dezembro de 2010 às 17:36

Esperança né? Condenação ou salvação. Céu e inferno, etc... A indefinição do meio termo é que incomoda, mas não precisa ser necessariamente ruim.

Abraços.

Luna disse... @ 12 de dezembro de 2010 às 18:40

purgatório, inferno, penso serem os nossos estados de alma em cada um dos momentos que temos na nossa existência pela Terra,como sempre os teus textos são intensos
beijinhos

MissUniversoPróprio disse... @ 12 de dezembro de 2010 às 22:02

Nossa...já li muito sobre as formas de dizer que se ama alguém, mas essa certamente exala da alma. Lindíssimo.

Obrigada pela visita e pelo carinho. Fico realmente lisonjeada de alguém que escreve tão bem, ter gostado do meu texto.

=**

Macaires disse... @ 13 de dezembro de 2010 às 09:10

É amiga, viver tem dessas coisas, estamos entre o céu e o inferno e só nos resta amar!

Beijos, querida!

Mário Lopes disse... @ 14 de dezembro de 2010 às 01:14

Entre os lábios azuis do mar e do céu, só levas as palavras fatigadas do amor, pequenas barcas inseguras e de difícil navegação. Sabes que o horizonte se vai fechando como a boca da noite. E esperas. Esperas que elas atravessem o silêncio e ardam. Como fogo renascido na pedra do tempo em que ainda vives.


Belíssimo texto, o teu, Mai. Intenso e envolvente. Ardente. Uma verdadeira declaração de amor. Como disse - e muito bem - Betina Moraes.
Beijo terno.

Unknown disse... @ 14 de dezembro de 2010 às 13:00

E eu invento em fazer de você o meu purgatório enquanto desespero.
Sei que nessa coisa não cabe o meu viver, nem as coisas que digo, muito menos as que nao digo e expurgo.
E assim vou continuando nu de palavras, omisso de pensamentos e, se versos em mi houvera, seriam versos brancos em páginas neutras em cor e verbo.
Assim, mantenho-me neste inferno, sem lume, mais inverno.

Camila disse... @ 14 de dezembro de 2010 às 17:57

soou como poesia. eu adorei (:

:.tossan® disse... @ 14 de dezembro de 2010 às 19:16

Intenso, lindo, forte e rico. Beijo Mai

Unknown disse... @ 15 de dezembro de 2010 às 05:54

"Eu estava como uma mola de aço, que fora retirada de sua posição numa máquina e que usava toda a sua força para fechar-se sobre si própria. Antes, quando fazia parte da máquina, sua tensão fora usada para opor-se a outras forças, mais poderosas, mas agora, finalmente solta, ela tentava voltar à sua forma original de bobina." Nathanael West.

Carol Morais disse... @ 15 de dezembro de 2010 às 16:14

Mai, eu me identifiquei tanto. Senti mesmo todos os sentimentos doidos e guardados dentro da gente, que ficam guardadinhos dentro de nossos lábios selados.

"Purgo pequenas mentiras e pequenas verdades."

OutrosEncantos disse... @ 16 de dezembro de 2010 às 09:09

... fazer de você o meu purgatório... enquanto te espero...
e afinal lhe escreveu: te amo!!!
mas nem precisava, sabe?
fabulosa tu escrita, querida Mai.
beijos.

OutrosEncantos disse... @ 16 de dezembro de 2010 às 11:07

Mai, carinhos p'ra você aqui:

http://meusamigosseusmimosmeusencantos.blogspot.com/2010/12/esta-chegando-o-natal.html

Beijo.

Anônimo disse... @ 20 de dezembro de 2010 às 21:19

Como a Carolina, elejo essa vrase ""Purgo pequenas mentiras e pequenas verdades."

Purgatórios em vida, infernos em silêncios....

Sei dizer Mai, que eu daria minha vida pra alguém que me fizesse uma declaração destas. Tão humana, tão premente.....

Marcelino disse... @ 27 de dezembro de 2010 às 19:25

Belíssimo texto, poeta; cairia-lhe bem como epígrafe algum trecho de uma das cartas da portuguesa Soror Mariana Alcoforado, ela tem esse traço do amor não dito, calçado, sofrido; lindo mesmo.

Anônimo disse... @ 3 de fevereiro de 2011 às 21:30

A força do seu raciocínio é arrebatadora. Os encantos do seu jeito de expressar o amor, irresistíveis.

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