
“Senhor, dai-me paciência. Pois se me deres forças, Senhor, eu quebro tudo, ao meu redor...” Sentou-se ao meu lado no banco da praça e após este clamor e um suspiro, olhou-me de frente, e juntas, caímos na risada... Então me falou:
- Muito prazer, meu nome é Pilar mas ninguém me conhece com este nome. Eu sou muito popular onde moro e lá, eu sou Dona Carioca – um Bombril ao seu dispor...
- Eu já estava mais leve ao seu lado e o meu sorriso era um presente daquela mulher bonita e vital. Havia marcas de calos em suas mãos, marcas da vida. E disse que eram sete, os filhos que tivera e todos do mesmo pai. Estava viúva e os criara sozinha pois o Cosme, bebia de cair e sem parar, até o fim. Mulher madura e magna, com porte de atriz. E falou:
- Eu poderia ter sido uma puta, sabe, minha filha? Homens ricos e bonitos, com dinheiro de verdade, já tentaram me comprar. E eu teria luxo e vida boa de bacana... E eu passava fome, sabe, dona? Passava fome quando um deles me atentou... Mas eu queria ser feliz, sendo dona de minha alma e tendo meus filhos...
- Um corpo com contornos e curvas e uma mulher sábia e bela. Mas invejável para mim era a sua humanidade e arte de viver com jeito e com alegria, seus dias difíceis... E me falou de sua vida e até a despedida, eu a ouvi. E o sol se foi levando a luz do dia e nos deixando a noite no adeus. Mestra na vida coube-me ouvi-la e calar, guardando suas palavras e o tesouro prá mim. Além da paz, dona Pilar deixou-me convite ao Churrasco do domingo. Pilares populares, sustém a vida e nos ensinam que na arte do viver, precisa arte...
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Arte: Tarsila do Amaral - Família
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