Inspirar-Poesia, um segundo sopro

jabuticabas para Hemingway

Por Sueli Maia (Mai) em , 10/26/2009
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Primavera sem guerras na serra e diante das águas paradas do lago havia peixes, vida, festa e um menino feliz. Caio. Joelhos ralados diante de uma árvore. Esferas negras agarradas ao tronco são frutas que lembram os olhos das índias do amazonas. Até o topo se espalhavam sobre os galhos. Eram firmes como um olhar apaixonado mirando a boca que quer, quando a boca quer doce. Doces e miúdas eram brilhantes como os olhos de quem ama. E quando se ama há sorriso nos olhos e os olhos sorriem aos que amam. E toda coragem e destemor pode levar a fraturas ou morte. Flor do Lácio de Bilac, ora direi que aos olhos, bocas e também aos prazeres da alma há de haver dias de glórias, delícias e diabruras. Então pensei no prazer da conquista, lembrei-me de Hemingway e da última flor que amava Bilac. Bruta menina e miúda sou eu. E lembrei-me do olhar de uma índia que conheço e que, sem qualquer sacrifício, eu amo. Lembrei-me do sentido da vida e que viver aquela glória estava agora em minhas mãos. Mas eu estava apenas diante de um pé de jabuticabas. Uma menina diante de um menino com vontade de, livremente, chupar jabuticabas. Subi. Ser feliz é ser você simplesmente um segundo. Mas filosofar enquanto se está a colher frutos é impróprio. Eu não recomendo. Você pode cair. Caio novamente. Desta vez a ordem era subir e saborear o doce sabor das frutas colhidas no pé. Índias esquecem a dor facilmente. Eu aprendi com ela e esqueci os joelhos, olhei para o alto e respirei uma vida distante da guerra. Jabuticabas aos montes. Então guardei estas para Hemingway e para quem mais quiser, a safra está boa.

Música: Miss Sarajevo

Imagem Google

23 comentários:

Andre Martin disse... @ 26 de outubro de 2009 às 22:44

Caio é verbo, e também nome de gente, menino, travesso, que atravessa pontes caiadas à pé, para alcançar pés de jabuticaba sem cansar.

Já as jaboticabas (com u ou com o) são frutos unicamente brasileiros. Em nenhum outro lugar há, que não tenha sido daqui levado por ter sido deveras apreciado!

Só quem provou sabe a delícia que é. Saber do sabor, saborear com sabedoria.

Tata disse... @ 26 de outubro de 2009 às 23:08

Uau,

O desejo de alcançar o que se deseja.A bravura que nasce dentro da gente. O ímpeto de seguir em frente sem medir consequências, para se conseguir o que se deseja é instintivo, nasce como um jato de um geiser, só depois controlado pela mente humana. Pelo MEDO. Medo de cair, de tropeçar, de falhar.
Superado pela verdadeira mandante a vontade.A busca pelo o q se não tem e é tão desejado, transpõe os limites seguros.
E como prêmio, se tem o doce gosto da conquista, ou o aprendizado da vitória, que seja até por uma jaboticaba no topo da árvore!!!

Bjinhos

Macaires disse... @ 26 de outubro de 2009 às 23:41

E justamente por falta de conseguir mostrar o verdadeiro eu, que é tão difícil encontrar a felicidade! Qual será o motivo de nos preocuparmos tanto com a opinião do outro, a ponto de sufocar o que realmente somos?
A felicidade está nas pequenas coisas, com, por exemplo, sentar e chupar jabuticabas!

Que doçura de texto, amiga, só podia vir de alguém doce como você!
Beijos, querida!

Lara Amaral disse... @ 26 de outubro de 2009 às 23:57

Imaginei o menino a saborear jabuticabas. Pensei na índia e na guerra sem sentido dos homens.

Como escreveu de forma bonita toda essa paisagem poética!

Amei!

Beijos.

:.tossan® disse... @ 27 de outubro de 2009 às 00:28

Não lembrei de Hemingway e nem de Bilac. Eu digo agora ou me calo... Não sei por onde começar. Quanto eu disse e nada ouvi. Agora quero ouvir. Só ouvir, enquanto isso eu quero jabuticabas no cesto até ouvir tudo. Agora me diga Mai, eu tenho tempo para te ouvir, afinal lembrei de você. Adorei o teu texto. Beijo/saudade

Mário Lopes disse... @ 27 de outubro de 2009 às 00:46

Ele vai prometer-te que as muito boas, as muito doces como tu, não serão mortas pelo mundo, imparcialmente, nem serão apressados os seus fins. Ele só estava amargurado com o seu viver e não queria chorar. Verás como é verdade, quando lhe entregares as jabuticabas que colheste e que carinhosamente guardaste para ele.


Quanta doçura do teu olhar entorna e embebe as palavras que nascem nas tuas mãos, como passarinhos deslumbrados pela luz da manhã, em volta das árvores e dos frutos que delicadamente teces com os fios do coração!
Beijo carregado de carinho.

Unknown disse... @ 27 de outubro de 2009 às 05:02

Sim, as jabuticabeiras estão apinhadas. Ontem minha filha me ligou de BH e me disse que tinha comido um K e meio desse fruto entre Ouro Preto e BH. Particularmente nao gosto. Mas seu recado não está no sabor, sequer na cor do fruto.

A filosofia impera no belíssimo texto. A coragem, o desejo, a decisão da hora de subir e saborear a vida da melhor maneira.
O respeito à livre vontade, eis o sentido da vida!
Pura beleza!
Parabéns, Mai!

Incrível e encantador texto!

Beijos

Mirse

Márcio Vandré disse... @ 27 de outubro de 2009 às 10:28

Somos escravos dos pensamentos.
A faca que temos no peito, não foi posta por outra pessoa a não ser nós mesmos.
E enquanto sangra, o tempo passa. O tempo passa e nós morremos.
Sem saber se a jabuticaba era doce, ou parecia doce.

Um beijo, Mai!

nydia bonetti disse... @ 27 de outubro de 2009 às 12:05

O medo de cair não deve nos privar do doce da fruta no pé. Se cair, sobe outra vez. Acho que somos todos índios... Adoro tua escrita, Mai. beijos.

Marcelo Novaes disse... @ 27 de outubro de 2009 às 14:32

Mai,


Foco nas jabuticabas-como-presentes.

Sem filosofias.





Beijos,









Marcelo.

BAR DO BARDO disse... @ 27 de outubro de 2009 às 17:45

amo vcs, pretinhas

Anônimo disse... @ 27 de outubro de 2009 às 21:14

Menina, lembrei-me quando os meus meninos subiram pela primeira vez num pé de jaboticabas. E junto com eles, deslumbrados, francês, indiano, alemão, portugues. Ainda hoje choram pelas jaboticabas que por aqui deixaram. :)

f@ disse... @ 27 de outubro de 2009 às 21:33

A Prata no lago dos peixes...

...

infinito beijinho

Paula Barros disse... @ 27 de outubro de 2009 às 21:55

Mai, faz tanto tempo que não como jabuticabas.

Fico procurando palavras para ser diferente, mas é impossível não dizer sempre que sua escrita é maravilhosa.

Vai caminhando com a sabedoria da escrita, da filosofia, da vida, da vivência...vai tirando do cotidiano a beleza para viver, para transmitir, para transformar em textos visuais, auditivos e olfativos.

E digo é tudo um mai-ravilha.

beijos nesse coração imenso.

(peguei uma frase que achei legal, mas depois eram tantas porque o texto todo é gostoso)

Anônimo disse... @ 27 de outubro de 2009 às 22:01

Vc impressiona juntando o improvável ao incomum num encanto de texto."Eram firmes como um olhar apaixonado mirando a boca que quer, quando a boca quer doce...última flor que amava Bilac. Bruta menina e miúda sou eu" doce beijo, menina miúda.

Márcio Ahimsa disse... @ 27 de outubro de 2009 às 22:13

jabuticabas adoçam o paladar dos olhos e solidificam a visão dos lábios que desejam o impróprio de ser doce... doce estripulia de subir em árvores e pescar o encanto num horizonte de mãos miúdas de criança feliz...

Beijos, querida, fique bem...

A Magia da Noite disse... @ 28 de outubro de 2009 às 09:57

há também nas cores uma mensagem, e nada melhor que as flores para a fazerem passar.

Germano Viana Xavier disse... @ 28 de outubro de 2009 às 10:13

saborear, saborear
o sabor delas
então...

Sigamos, May.

Cris Rubi disse... @ 28 de outubro de 2009 às 11:05

amiga, marcando presença, naum exclui meu blog naum maluquinha rsrs
beijaoooo

Caio Fern disse... @ 28 de outubro de 2009 às 16:13

ahhhhh !!!!! EU QUERO SIM !!! E QUERO AINDA MAIS . se eu Caio de mim mesmo , nao vou me importatr de arriscar !!!
pe de jabuticaba como uma porta da salvaçao da consciencia !!!!

Oliver Pickwick disse... @ 28 de outubro de 2009 às 17:37

"Ora (direis) vê tudo isso nas jabuticabas? Certo, perdeste o senso!"
Direis agora: "tresloucada amiga! Como criou este universo tropical de alegorias e metáforas, habitados por Bilac e Hemingway?"
Mas, eu vos direi: só o talento raro, a inspiração acurada, a imaginação muito além da rima e, também, quem ama, é capaz de vê, ouvir e de entender o mundo dissimulado num pé de jabuticabas.
Um beijo!

Wania disse... @ 28 de outubro de 2009 às 19:27

Mai, adoro te ler!

Meu pensamento voa contigo e fico imaginando o que tu tão lindamente descreve e escreve... chego até a sentir o cheiro das jabuticabas maduras!!

Ser feliz é ser você simplesmente um segundo!

Ser feliz e poder subir e descer das árvores, não importando o risco e sempre esquecendo das quedas anteriores. Ser feliz é poder apreciar o doce da fruta mesmo já tendo provado o amargo!!!


Sempre escreves com a pena da Alma, minha amiga do coração!

Bj enooore pra ti

Batom e poesias disse... @ 28 de outubro de 2009 às 22:20

Quero!!!!

Gosto das que estão mais no alto, grandes e bem pretinhas, mas com medo de cair eu puxo os galhos.

Ainda assim, também não recomendo filosofar enquanto se está a saboreá-las.

Espero que Hemingway partilhe comigo.

bjs moleca

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