Inspirar-Poesia, um segundo sopro

monografia ambiental

Por Sueli Maia (Mai) em , , 12/15/2009
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Não sei precisar quanto tempo, lembro apenas que estava desatenta quando tudo aconteceu. Sinto frio nas mãos e no estômago. Meus ossos estão frios e a pele gelatinosa. Sinto um medo estranho e fatal. Uma espécie de degelo escorre sobre minha cabeça. Foi tudo muito rápido. Coisa medonha de sentir. Um choque nas costas, um jato gelado contra o corpo ainda quente, fez parecer que me quebrara ao meio. Foi no pesadelo dessa noite que eu afoguei. Comigo estava muita gente, lixo e bichos boiando lentamente. Terror, ficção e agonia real. Um tsunami de horror e caos. A morte tem uma face perversa que se compraz com pesadelos em noites sem fim. Lembrei de gritar, mas o grito não saiu. Fiquei imóvel por um tempo, mas novamente o desespero de não acordar me assaltou. Há momentos de desesperança que exigem a coragem de permanecer, resistir. Então decidi esperar e porque minha voz não saia eu tentei respirar novamente, mas célere como um lince voando sobre a presa, o pesadelo me engoliu outra vez e a agonia me entrou boca adentro. Não consegui respirar e parei. Há momentos que são como a fome e a pobreza que parecem não ter fim e depois quem as vence se esquece. Mas há instantes de extrema impotência em que é preciso confiar e persistir porque resistir pode ser uma questão de vida ou morte. O tempo se esgota e exaure. Enquanto isto, eu sinto uma placa de gelo sob meus pés.

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Imagem Google
Música: Renato Russo - Mais uma vez

21 comentários:

:.tossan® disse... @ 15 de dezembro de 2009 às 00:11

É Mai, é como num assalto, se reagir leva chumbo. Emprego novo? Ou apenas um pesadelo literário?Belo texto! Os teus escritos são para pensar e depois para guardar à 7 chaves. Beijos

Batom e poesias disse... @ 15 de dezembro de 2009 às 01:59

Ficção, Mai?

Tenho pesadelos parecidos, e da forma como escreveu, não me parece apenas um exercício literário e sim uma descrição minuciosa de quem sentiu de fato esse desespero.

Enfim, quem há de saber o que se passa de verdade na mente dos escritores?

Ótimo texto!

Beijo
Rossana

Mário Lopes disse... @ 15 de dezembro de 2009 às 02:44

Não existe refracção neste teu texto de ar e água: o raio que o atravessa não se quebra até chegar ao leito do grito que o viu partir. Ele pode ser ficção e verdade simultaneamente. A sua transparência é tão grande que ninguém conseguirá dizer, em bom rigor, qual é a profundidade que ele atinge. A tua alma é assim: luminosa até ferir, fogo na própria água! Mas a placa de gelo, essa não se derreterá debaixo dos teus pés, minha amiga querida, enquanto não alcançares a terra firme!


Escreves maravilhosamente. Beijo terno, para ti.

Dauri Batisti disse... @ 15 de dezembro de 2009 às 07:45

Muito boa essa voz que você vai fazendo aparecer nos últimos textos. Maravilha! Menos recursos de estilo e muito mais densidade.

Mai, não sei se é influência de mineiros (rsrsrs) que, às vezes, falam assim, mas, parece, faltou um "me" na frase "foi no pesadelo dessa noite que afoguei.

Um beijo.

Sidnei Olivio disse... @ 15 de dezembro de 2009 às 08:20

"Ando tão à flor da pele" e angustiado com o rumo das coisas. A natureza não permite disparates nem perdoa erros. Seu texto é magnífico: me pôs a pensar e chorar..
Beijos.

Unknown disse... @ 15 de dezembro de 2009 às 10:22

"O tempo se esgota e exaure". Vivemos aprisionados sob tantos pavores. C'est la vie. Cheiro.

Caio Fern disse... @ 15 de dezembro de 2009 às 10:49

horrivel sensaçao . eu a conheci nessa reecarnaçao muito bem .
voce descreveu muito bem .
nao sei nem oque dizer .
tenha uma semana muito melhor do que isso Mai !!

Mateus Araujo disse... @ 15 de dezembro de 2009 às 11:48

"Enquanto isto, eu sinto uma placa de gelo sob meus pés"

Caralho, vc muda tudo, no final!
Demais!

nydia bonetti disse... @ 15 de dezembro de 2009 às 12:31

Um pesadelo anunciado... Memória curta, a do ser humano, que destrói o planeta sem se dar conta. Os nossos pesadelos particulares, podemos vencê-los. Mas e o planeta, até quando resiste? Muito bom Mai. Beijooo.

Anônimo disse... @ 15 de dezembro de 2009 às 13:31
Este comentário foi removido pelo autor.
Katrina disse... @ 15 de dezembro de 2009 às 17:49

Nosso monólogo, futuro. Isolados nos desertos que ajudamos a construir

Anônimo disse... @ 15 de dezembro de 2009 às 18:08

Querer acordar e perceber que a realidade a que se quer descrer está de olhos abertos de espanto a nos assombrar até à insônia.

Mai, respondendo ao teu último comentário, estou bem, minha querida.
Espero que contigo esteja tudo caminhando conforme tuas expectativas.

Abraço carinhoso.

Marcelo Mayer disse... @ 15 de dezembro de 2009 às 18:48

nao quero me imaginar do tamnho deste mundo

Anônimo disse... @ 15 de dezembro de 2009 às 20:45

Outro dia vi uma foto do resultado das enchentes aqui em SP. Muito lixo acumulado na beira das represas. Muita gente andando na água suja. Muita criança com risco de pegar doenças decorrentes dessas enchentes. Tão comuns no verão essas enchentes... tão comuns que a gente nem percebe. Até vir novamente no ano seguinte e depois no seguinte.

beijinhos, querida!

M. A. Cartágenes disse... @ 15 de dezembro de 2009 às 20:58

engraçado porque isso já ta rolando no meu e seu dia-a-dia ou aqui dentro em secreto

penso que o que é externo é porque um dia foi interno, logo, se tal coisa está como está é por livre e espontanea vontade nossa que chegasse a tanto

ótimo texto.. paz e valeu por ir sempre ao meu blog... sinta-se convidada sempre a voltar

Fernanda Magalhães disse... @ 15 de dezembro de 2009 às 21:04

Piração da minha mente, mas no inicio do texto comparei ao termino de uma relação q ainda tem muita paixão.

Aliás já senti esta mesma emoção.

"Então decidi esperar e porque minha voz não saia eu tentei respirar novamente, mas célere como um lince voando sobre a presa, o pesadelo me engoliu outra vez e a agonia me entrou boca adentro."


Mai viajei? rsrsrs

Adoro! Adoro ter ler, satisfação da minha alma me faz feliz aqui.

Beijos flor!

Unknown disse... @ 15 de dezembro de 2009 às 21:32

belo texto..gostei dessa comparação com a natureza..
há vida na natureza, por isso elas se misturam..
mas,não quero ter uma placa de gelo sob meus pés..rsrs
beijos

Paula Barros disse... @ 15 de dezembro de 2009 às 22:19

"Há momentos de desesperança que exigem a coragem de permanecer, resistir."

Ai, amiga, e quanta coragem é preciso. É preciso muita força, muita coragem, muito discernimento, muito pé no chão. E quantas vezes a voz não sai, até mesmo o grito de liberdade fica preso e nos prende.

Tá vendo porque eu sempre digo que estou pensando....rsrsr Se deixar eu fico aqui pensando comigo mesma, e confabulando com minhas vozes.

Fica com Deus, e se cuida.

abraço apertadinho!

Lara Amaral disse... @ 16 de dezembro de 2009 às 01:20

A placa de gelo sob seus pés derrete de tanto que seu coração nos aquece. Apesar da aflição no texto, ele é maravilhoso.

Vc sabe dizer tudo da forma mais cativante e bela.

Beijos, moça querida!

Anônimo disse... @ 16 de dezembro de 2009 às 10:38

Enquanto eu lia, lembrei-me do Renato Russo: "Meu corpo é quente, estou sentindo frio".
Beijo, querida.

Márcio Vandré disse... @ 16 de dezembro de 2009 às 12:20

Monografia!
Ô coisa do meu abuso! Hahaha!
Mas já foi!
Estou de volta aos comentários, Mai!
Um beijo!!!

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