Cais
Por Sueli Maia (Mai) em 10/26/2009Deixar o chalet e a calçada prá ver natureza e estrada de chão. Brincar de criança no tempo, vestir power ranger, caçar liberdade e coragem. Ir de motocicleta ou de bicicleta ao mato, sem medo e com o vento soprando uma lógica a favor de um pavio. Desertos e curvas de mim, uma serra e um mar.
Entre eu e o mar, um mundo, um caos e um cais. Quebrar a palavra, o medo e a ordem, com o vento soprando na cara a memória de tudo que sou. É bom procurar e achar outra vez a coragem e a força de dentro. Assombro é miragem que passa com pressa nas sombras das curvas da estrada. Se eu paro e encaro de frente percebo: são copas apenas, aqueles fantasmas. São nada. São árvores, mais nada, por isto não há nada a temer.
O céu desce ao chão, a serra no mar e eu piso à areia. E pego na mão um punhado de areia e solto um punhado de medo em pó e poeira. Coragem é criança que vive - lá dentro - um dia de cada vez. Caio. Mas esta palavra não dói, este nome é alegria, um sol que dorme na serra e a luz, vai de volta prá casa.
Cuidar do joelho e do braço arranhado, nem dói. Porque ela - a alma - é puro algodão e a pressa está calma aqui dentro de mim.
Música: Cais
Fotografia: Sueli Maia
Texto reeditado
.
19 comentários:
Esta música leva o nome do meu futuro blog só de fotos.
Linda a tua narrativa poética! Literatura sofisticada. Beijo
Uma serra e um mar
quebram a palavra...
Procurar através da fotografia
quem sabe atenuaria as curvas
desta estrada sinuosa,
as sombras, os fantasmas...
com a camera à mão, eu encaro
este mundo desastrado e terrível!
como não se deliciar com você!!
impossível!
tem uma coisa no meu blog aguardando por você...
beijos!
lindo blog, é muito bom voltar sempre aqui.
Parabens, perfeito.
Maurizio
Que coisa mais linda!
Quando se é criança tudo é tão grande, tudo é tão ,longe e não fantasias...apenas a realidade. Acho que temos mais fé...rs
Acreditamos mais no impossível.
Crescemos e vencemos fantasmas da infância para colocar no lugar outros...outros desconhecidos medos da vida real!
Lindo seu texto...
Caminhando na infância...rs
beijo
.............Cris Animal
Lindo Mai,me senti dançando na areia, uma delicia de texto...
Beijões
há muitos anos, esse vento na cara tinha um nome pra mim: bicicleta!
e haja ladeiras e ventos ... para viver num dia e, eternamente insatisfeito, voltar à velocidade no dia seguinte ...
Mai,
Me parece que você está escrevendo poesia. Esse cais, falando em calmaria e cuidar das dores. Eu li um poema.
Bjs, Mai.
Logo no início quando falou em "vestir Power Ranger", lembrei de quando era criança e fazíamos de conta que erámos um deles... Sempre fui a amarela rsrs
Adorei o texto e as imagens...
Abraços!
Dany
Ahhh querida, não há nada amis belo nem tão amis aconchegante que se aninhar no cais das nossas lembranças, assim... aconchegado em cais quentes de braços e abraços especiais, tão calmo e livre como balançar de rede vendo o pôr-do sol.
Beijos
Bem amiga minha,
Estou de boca aberta com o teu trabalho, o que escreves já todos sabemos e não deixo de repetir que tens arte no que fazes mas as fotos... bem estás uma artista completa :-) mas que belas imagens e agora diz lá aqui ao teu amigo que não tem mais alegria juntares as tuas palavras com as tuas imagens... acho q melhorou e mto e tens um blogue de encher o olho...
Estou contente pelo que aqui vejo... cada vez melhor e mais belo.
Bjs grandes amiga,
Nuno
Que fotos e texto magnífico! Fez-me lembrar o mar de Peniche...
Um abraço e muito obrigada por ter vindo ao Voo Longo - até breve,
Maria Carmo
Quem te leu e quem te vê...
Que força interior!
Bj.
Quanta beleza, quanta sensibilidade! Alma e olhar de criança! Tudo muito belo... e teus repertórios musicais são ótimos também. Lemos e "vivemos" na música... constante sintonia.
*
post lindissimo,
,
os cais
são meninos de rocha,
que brincam com o mar,
,
conchinhas,
,
*
Vivi esse dia contigo. A saída do chalet que é casa, morada. A estrada de árvores fantasmas, fantasmas que não moram nas copas, mas num desses cantos sem luz de nós mesmos. Sombras de uma alma que fica clara e ganha milhões de tons de azul sob a luz do sol, diante da imensidão do mar. Vi o menino correndo, cheio de razão, razão que não é racionalidade, razão de quem encara a vida de frente, quer tudo, se possível ao mesmo tempo e exige dela o que se acha no direito de receber. Por uns instantes, vi o seu mundo sob a sua óptica, senti os arranhões e o prazer de ver a areia dançando livre ao sabor do vento. E fico pensando que não há mesmo o que temer. Os arranhões ardem, mas a dor, como todo o resto, é passageira. Depois o que resta é cicatriz, e cada cicatriz não é nada além de uma marca. Marca registrada da vida. O único risco real a ser evitado é a ilusão de que a segurança do chalet é só o que basta, é esquecer que o lar também é o mar, a estrada, a árvore, já que, em última análise, o lar é bem aqui, dentro de nós. Mas esse risco, nós, loucas, arrogantes, molengas ou seja mais do que queiram nos chamar, acho que esse risco nós não corremos. A vida não nos convida, ela nos intima e nós (que de Caio ainda temos muito) saímos correndo pra atendê-la. Voltar aqui é algo como sentar na minha varanda pra ver o nascer do dia. Bjs.
eita lugar bonito
obg pelo comentário
e que as palavras nunca deixem de ser apenas palavras, mas também voz humana em meio ao buraco do mundo perdido ou quase...!!!
"Assombro
é miragem que passa
com pressa nas sombras
das curvas da estrada."
AMEI ESTA FRASE!
Ainda mais
quando lida
em voz alta! : )
Um abraço,
doce de lira
As viagens no tempo sempre foram possíveis. E não me refiro apenas às teorias. A memória não tem passado e nem futuro, é apenas presente. Os anos, 1927, 1943, 2009, são meras convenções e referências que facilitam a vida.
Mas quem faz de uma ida à praia, ou mesmo viver próximo dela, um exercício de poetizar, sabe muito bem disso.
Que lugar bonito, hein?
Uma viagem repleta de paisagens não-verbais, até o cais de ti... pois que a poesia em tua prosa nos remete a figuras de uma linguagem encantatória.
Belíssimo.
Katyuscia.
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