dormentes...
Por Sueli Maia (Mai) em 3/19/2009................................Viver custa caro. Da pouca alegria, ainda havia uma lonjura e muita dívida a ser vivida em pé. Os carrapichos no vestido rasgado ainda machucavam a pele. Havia lixo, dormência e indigência. Havia terra e nada mais nos trilhos. Nos garranchos da letra o retrocesso da fala, os sujos cadernos e as sobras do álbum, desorganizado para o futuro. Havia marcas dos dedos nas coxas e pouca coisa no eixo. Despossuída a casca fugiu, imóvel e sem pernas. Os joelhos condoídos da cilada, sustentaram os pés descalços e a partida. Refugou o odor fermentado dos braços e cuspiu a terra e o grito perdido do parto. Deitou suja da manhã sem vestes. É difícil estar inteiro quando se perde as partes. E segue, vivendo e sorrindo, nos trilhos e nos palcos...
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Arte: Chagall
14 comentários:
É uma perdida no tempo, a escalada da noite, refugiada do prisma, quem sabe ainda não se vira pro fogo. Vai pro palco e esquece o texto, fica muda e sem raiz. Não sabe se está ou se foi. Mas não se entrega, não foi vencida pela vida...Apenas um contratempo. Gostei de novo! Beijo
"É difícil estar inteiro quando se perde as partes". É dificil, mas não impossível? Escolheste a expressão é difícil, pois que se pode encontrar inteireza mesmo sem todas as partes. Intrigante texto. Bonito.
Um beijo
Sempre textos denso, fortes.
Me lembrou uma criança que tenha sido maltratada, ou até violentada.
Mas alguém que sofre pelo que passou, e tenta seguir na vida disfarçando a dor que ainda doi.
Carrapicho, mas é chato esse tal aí. E você foi buscá-lo para mostrar esse pele marcada, machucada.
um beijo
Lindo, Mai...adorei o "é dificil estar inteiro quando se perde as partes" lindo, lindo, lindo.
Esse é pra pensar com a cabeça no travesseiro, à noite. Talvez em precise de mais noites e mais sono, só isso.
Mas que mais haveria senão um renascer? Viver nas memórias das perdas? Não dá, não vale a pena.
É realmente difícil estar inteiro quando se sente que se perdeu as partes. Viver custa caro sim, mas podemos pagar o preço! Temos recursos! Indigência é só uma sensação... não é uma realidade. Não precisa ser uma realidade nem interna. Detemos o nosso Poder, temos recursos, infinitos, infindáveis, internamente para voltar a andar para a frente, organizar os cadernos e o álbum. Limpar tudo e colocar novamente no eixo. E fazer isso quantas vezes forem necessárias. Nós podemos, Mai.
Beijo
QUERIDA MAI, UM TEXTO FORTÍSSIMO, MAS BELO... PARABÉNS... UM GRANDE ABRAÇO DE AMIZADE,
FERNANDINHA
o que importa é sempre seguir em frente ainda que falte partes!! A caminhada sempre continua e aos poucos e om o tempo, tudo volta ao normal.
É a vida vencendo todas as resistências, todas as dificuldades. É a vida, insistindo em fazer o mais difícil e se tornar vitoriosa, corajosa...
Parabéns, Mai.
...bem sei o quando é difícil
estar inteiro quando se perde
as partes.
mas vejo com olhos de ver,
que sempre háverá um crescendo
onde estava metade,
nem que seja um entender
e seguir sem olhar para trás.
suas palavras sempre são
como bálsamos em meu coração...
smackssss, lindeza!
Olá!
Indiquei um selo para seu blog, fique a vontade para pegá-lo, mas sinta-se homenageada por mim essa é a intenção ok?
beijos
Lindo! Intenso!
Continue assim, não pare nunca de nos surpreender e nos fazer sonhar, imaginar, reinventar, emocionar... sorrir feliz quando chegamos aqui e aqui queremos ficar!
Meu beijo pra você!
O todo é a abstração das partes. Só existem partes na realidade.
Abraçamigo e fraterno.
Parte de mim fica aqui: o coração.
Alegoria virtuosa. És mestra no emprego de metáforas criativas.
Um beijo!
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