Inspirar-Poesia, um segundo sopro

ouvidos nas bocas e pimenta nos olhos, em um botequim...

Por Sueli Maia (Mai) em 8/16/2009
.
Mulas urbanas no encontro dos copos e os drinks com brindes tirintando no ar agitavam o bar. O cruzamento do whisky com a tecnologia é o dia seguinte com ressaca e as fotos com legendas logo cedo na internet.
- Ele era de esquerda.
- Era.
- Mas agora está no poder.
- Está.
Noite, termômetros marcando cinco graus e aqui dentro há calor e a ardência das pimentas está na ponta das línguas dos amigos a beber. Rever verdadeiros amigos é recordar os bons tempos, é tragar amargor e soprar alegria ao vento. Eu esperava um amigo de infância e percebi que ali, a sobriedade estava apenas no cachorro deitado no canto que constantemente era chamado pelo grupo, que exaltado, incomodava tentando comandar o cão.
- você vem ou não vem?
E o bicho adorável, gaiato e insolente ia ou não ia se queria e se não, ignorava a turba e nem levantava a cabeça. Enquanto isto eu sorria porque a noite prometia um hilário e instrutivo programa. – Saudades da clandestinidade, companheiro. Lembra do Raimundo que era inocente e o acusaram de corrupção? Só foi absolvido no processo, quando subornou um juiz. Depois se soube, que no mundo virtual, o respeitável era um fauno eletrônico que usava o nick - morena pimenta. – O Delmiro aquele chefe rigoroso é o mesmo fetichista-narcisita de sempre. E de tão vampiro é o único narciso que não pode admirar-se no espelho. O umbigo dele é tão grande que outro dia, beijava uma garota e se achando o bam bam bam, nem percebeu que a garota se contorcia e gemia porque estava sem coragem de dizer que, a boca, estava cheia de aftas. - Instantes de silêncio com copos à boca e eis que chega um novo personagem em cena e... Ação!
- Ohhh! Grande D E L M I R O!!! Senta aqui conosco, amigão!
Eu, com meia taça de vinho, brindava a chegada de um amigo de verdade, que não via, há anos. Encontros cheios de copos vazios e drinks com falsos brindes, pois não existe meia ética.
.
Música: João Luiz e Douglas Lora - Duo Brasil Guitar
Imagem: Google autoria desconhecida

19 comentários:

BAR DO BARDO disse... @ 15 de agosto de 2009 às 19:04

Li meio desconjuntado. Mas o texto é bastante sugestivo... As cifras estão nas suas e/ou nas minhas mãos...

Beijo, Mai!

Luis Eustáquio Soares disse... @ 15 de agosto de 2009 às 20:04

salve, querida mai! seu texto-conto-ensaio é incisivo, como deve ser, com a auto-ironia que raramente têm os textos, posto que a ironia é sempre - ou quase - um fora, pra outro, nunca pra gente mesmo, pra nossas falências e indolências. saudações
beijos
luis de la mancha

Márcio Ahimsa disse... @ 15 de agosto de 2009 às 21:01

MAI, QUERIDA! BRAVO!!! APLAUDO-TE DE PÉ. ISSO MESMO QUERIDA, ISSO MESMO... E, para quem não está entendendo, digo apenas que, para bom entendendor, meia dúzia de palavras bem escolhidas, bem naquele estilo de um certo tempo em que alguns poetas eram considerados de marginais, e sua poesia também marginal, era uma roda viva de possibilidades, nessa habilidade com as palavras.

Beijo-te aqui, com minhas palavras soltas ao vento.

E... Escreva querida, escreva sempre, pois essa arte te pertence, ninguém tirará de ti, nunca...

Ricardo Valente disse... @ 15 de agosto de 2009 às 22:55

Conciso e disse tudo. Muitotribem escrito.
Beijo!

Márcio Vandré disse... @ 15 de agosto de 2009 às 22:57

Me lembrei de Cem Anos de Solidão.
E do Coronel Aureliano Buendía que perdera 32 guerras.
No final, amargou por não ter guardado amigos com a cegueira do ego que o inflava e o fazia marchar à frente.
Acabou-se no seu quarto, produzindo peixinhos de ouro.

O que importa mesmo é a reunião. As histórias para contar.
E não as revoluções que foram ou que virão.

Belo texto, Mai.
Um beijo!

Vivian disse... @ 16 de agosto de 2009 às 00:09

...pude montar a cena e
sentir a contundência
do vazio interior imperando
em cada coração.
e o cachorro, este sim o único
consciente do lugar.

bju, lindeza!

olharesdoavesso disse... @ 16 de agosto de 2009 às 00:29

Não há meia ética, esta é meia furada na chuva de pedras não lascadas. E nas minhas viagens intermunicipais ando vendo o passado que cresceu e senta ao meu lado em conversas de comuns. E alguns infantes contiunam lá há mais de dez anos, na mesma infÂncia, nem par amundar... kkk beijos Mai querida bom domingo

Cris Animal disse... @ 16 de agosto de 2009 às 00:56

Salve, salve meu Brasil!
As mulas empacam e não saem do lugar e...ainda riem !
Sair pra que?
O juiz é corrompido, a menina se corrompeu, o velho coronel...haha
Texto digno de uma grande revolução.
beijos

Ilaine disse... @ 16 de agosto de 2009 às 05:28

Ponta de línguas apimentadas, venenosas. Conversas de mulas, sem ética, sem verdades, corrompidas e desonestas.

Texto forte, intenso, Mai amiga!

Lú Naíma. disse... @ 16 de agosto de 2009 às 11:52

"Ridendo Castigat Mores" - foi a primeira frase que me surgiu quando terminei a leitura.

Permita-me rir, Mai, e rir muito, porque fui capaz de ver a cena inteirinha na minha mente!
Porém, apesar dos sorrisos, este é mais um daqueles teus textos de sabor agridoce, sabe? Com humor, mas, ao mesmo tempo, com umas belas ferroadas nas nossas consciências. No fundo, são palavras que apelam a nossa reflexão, uma análise mais pormenorizada desta nossa (amarga) realidade. E o fazes com uma maestria única.


Um beijo querida, bom domingo ;)*

bete disse... @ 16 de agosto de 2009 às 14:38

nad é o que parece, ou assim como são as pessoas são as criaturas...rs

bj

Everson Russo disse... @ 16 de agosto de 2009 às 15:31

Loucura total...rs..rs..um beijo carinhoso pra ti e uma semana na mais pura paz de alma e coração....

Sandra Costa disse... @ 16 de agosto de 2009 às 15:52

ai, fiquei com nojo da foto deste cachorro.

arrrrggghhh! ;p

Osvaldo disse... @ 16 de agosto de 2009 às 15:57

Oi, Mai;

Bem,... pimenta nos olhos dos outros e colírio!...

Assim é a corrupção, os corrompidos são sempre os outros e os inocentes anti-corupção, cêdo ou tarde, acabam por compreender que só a corrupção os levam a sair do anonimato e acabam por se corromperem a eles mesmos.

A corrupção é um círculo onde não se deve nunca entrar, porque se o fizer, já mais conseguirá sair.

E para um post como este, também eu brindo com uma taça do melhor vinho do Douro...

bjs, Mai,
Osvaldo

Solange Maia disse... @ 16 de agosto de 2009 às 17:01

Pois é Mai...

Definitivamente meia ética não dá !

Então... o que fazer ?

é....

beijo

Solange Maia disse... @ 16 de agosto de 2009 às 17:01

Pois é Mai...

Definitivamente meia ética não dá !

Então... o que fazer ?

é....

beijo

Macaires disse... @ 16 de agosto de 2009 às 18:43

É, quando a esquerda chega ao poder, vira direita, ou será vira-casaca?

Beijos, querida!

Beto Canales disse... @ 16 de agosto de 2009 às 18:58

Pois é...

A Gente e a Poesia! disse... @ 16 de agosto de 2009 às 20:43

Mai, sempre sendo mais... e isso é lindo.

e queremos aproveitar pra te convidar a conhecer uma nova teia de poesia que está começando... ganhando asas... um estilo livre... que contando com sua beleza irá se transformar em encanto...

conheça:
http://agenteeapoesia.blogspot.com/

um blog pensador pra unir pensamentos...

beijos,
e aguardamos sua visita...

Abraão Vitoriano e Paulo Roberto.

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