Inspirar-Poesia, um segundo sopro

entalhe

Por Sueli Maia (Mai) em 2/10/2009
Teu grito ecoa e eu replico a dor. Guardo esse nome que sibilo em sons, prá sempre. E longe é perto e mesmo longe estás aqui em mim. Entalho um rosto em minha pele. Incrusto um nome e intacta, cravo essa memória em Cedro. Um cheiro e um monastério. Silente eu ouço a tua fala ausente. Tátil é o contorno do teu rosto que ainda guardo os traços. Entalho a cena e pigmento em cedro o pó. Em negro tinjo a dor que hora sentes à forja e o fogo com que grafas a inteireza desse teu momento. Na textura da madeira entalho os lábios teus. E os olhos são de apóstolo fiel. Entalho em mim sinais de tua passagem pela terra. E se há uma vida que se apressa em ir, eu paro o tempo e esmago a dor e a morte. Entalho em mim a contrição desse abandono. Arregalados olhos espalho ao vento toda essa iniquidade. Entalho em versos o meu desejo. Traço que em verdade a ti ainda cobiço vivo. Sopro a poeira que a madeira lança. Sopro-te prana clamando à ti, de volta a própria vida. Meu colo é teu abrigo e teu sorriso nesse peito amigo eu sei, as vezes chove. O meu desejo é que mais vida tenhas e ainda tenhas tempo para amar. Se sangram de tuas mãos as chagas, eu sei que é por elas que tu viverás, mesmo que morras qualquer dia desse tempo. Canto essa cantiga de ninar e encanto a noite e deito o dia. Em meus braços teu calvário é meu caminho. Choro a madeira no entalhe do formão. Ainda que tua vida e obra sangrem talhos, empunharei a lança e espantarei as dores. Esse é meu rito por tua vida e aqui eu esfacelo o torrão-morte que te espreita. Em tua defesa evoco a ira. Do punhado do teu medo eu faço morte em pó. E sopro prana e viverás!
.
Imagem Google

14 comentários:

FRAN "O Samurai" disse... @ 10 de fevereiro de 2009 às 22:31

Oi querida!

Desculpe o meu sumiço, mas o tempo me falta ultimamente.

Sobre o post...

Nossa vida é entalhada da maneira em que encontramos e conhecemos pessoas. Essas marcas ficam para sempre mesmo! Cada lasca retirada da gente, fica a marca de um momento, de uma situação, de uma fase ou de uma lembrança.

Lascas, entalhes, moldes, enfim. Detalhes que ficam.

beijos...

Letícia disse... @ 10 de fevereiro de 2009 às 23:05

Mai,

Você escreveu bonito e usou rima e palavras muito sonoras. Você suavizou o seu escrever, Mai. Transformando-se em outra voz. Eu gostei desse amor que você criou.

Bjs.

Paula Barros disse... @ 10 de fevereiro de 2009 às 23:28

Que todo o poder seja dado ao seu sopro. A sua escrita, a música, uma lembrança em especial, me emocionou.

abraços

Elcio Tuiribepi disse... @ 10 de fevereiro de 2009 às 23:46

Entalhe...cheguei curioso por caisa do titulo, faço entalhes de madeira e por vezes faço entalhes na alma, acho que por ser inteiro demais...rs
A músicá é confortante...faz bem...
O final ficou perfeito
Ainda que tua vida e obra sangrem talhos, empunharei a lança e espantarei as dores.
Esse é meu rito por tua vida e aqui eu esfacelo o torrão-morte que te espreita. Em tua defesa evoco a ira. Do punhado do teu medo eu faço morte em pó. E sopro prana e viverás!
Vou pegar esta frase ok...rs...valeuuuu
Um abraço na alma...

Ester disse... @ 11 de fevereiro de 2009 às 00:32

Oi amiga querida!

passando para abraçá-la e ler essa obra de arte magnífica que é a tua escrita, trabalhanda, entalhada na carne em sangue,

cuida bem de ti!

bjs,

Anônimo disse... @ 11 de fevereiro de 2009 às 08:44

Mai,
O que dizer das suas palavras que entalham doçura e reflexão no coração da gente?!?!

Saio pensando nessas marcas profundas que tenho em mim de dores e alegrias que na vida a gente encontra.

Beijo

Renato Ziggy disse... @ 11 de fevereiro de 2009 às 10:19

Senti tua brisa daqui. E fiquei com vontad de ouvir teu canto, de jorrar sorriso me aquietando em suas palavras macias. Uma fusão doce de mãe, amiga e amante: mulher. Faceta que eu conheci, apreciei e fiquei meio assim, boquaberto. Poeta, você. E das apaixonantes. Beijos e luz!

Renato Ziggy disse... @ 11 de fevereiro de 2009 às 10:19

*boqueaberto

Luciene de Morais disse... @ 11 de fevereiro de 2009 às 15:58

Deve ser para sempre mesmo... as vivências quando geradas em grande emoção ficam como que entalhadas em cedro. Mas o tempo sempre suavizará muito.
Este "empunharei a lança" foi muito lindo! Emocionante mesmo.
Força ao teu sopro prana! Guarda um pouquinho para ti, também.
Muiiiito carinho

Qualquer Um (Bigduda Nobody) disse... @ 11 de fevereiro de 2009 às 16:17

Cara Mai

Uma vez li que um texto é como uma rede, tem que sair cheio de vazios para voltar cheio.
O seu consegue isto. Pesca todo sentimento
um ab
Edu

poetaeusou . . . disse... @ 11 de fevereiro de 2009 às 16:31

*
Choro a madeira no entalhe do formão,
bela imagem
.
eu choro a vida perdida,
eu choro os repudiadas instantes
eu choro o desperdiçado prana,
na vitalidade que se esvai . . .
,
revitalizadas conchinhas, deixo,
,
*

Tata disse... @ 11 de fevereiro de 2009 às 16:32

Mai,

Que vc consiga espantar e esfacelar esse torão de dor e desassossego dele, que vc assopre com força para bem longe....
Que venha em troca farelos de sementes de vida para vc semear nele!!!
bjus

Anônimo disse... @ 11 de fevereiro de 2009 às 17:18

Mai,

Mil perdões por andar tanto tempo sumido de vir aqui e te acompanhar.

Adorei, lindíssimo o seu texto. Belo e vivo, muito bom. =)

Bj

adouro-te disse... @ 12 de fevereiro de 2009 às 11:00

...que sentido tem a alma se dela não cuidarmos? E não falo em curar.
Bj

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